Opinião
Solteira e não à procura: a pressão de estar em um relacionamento
De Gênesis à Disney, as mulheres só estão completas mediante a um relacionamento, e por quê?
Publicado
em
Por
Laiana FrançaNão é atual, muito menos exclusivo da nossa geração, o processo de socialização através do qual nos impõem um modelo de comportamento e vida do que viria a ser o ideal de felicidade e plenitude. Esse processo originou os papéis de gênero, que são um conjunto de normas direcionadas ao feminino e ao masculino, impondo a conduta correta segundo a sociedade. No que se refere às mulheres, sua construção social, política, econômica e histórica se estabelece em posição secundária. Pela ótica dessas regras, nossa existência institui-se na posição de base apoiadora e servente aos homens e seu desenvolvimento.
Seja em documentos religiosos, nas animações infantis, produções hollywoodianas ou literatura romancista em sua maioria, a figura feminina se apresenta no estereótipo de belas mulheres, com estatura física e emocional frágil, inseguras e em situação de risco. Diante desse cenário, não importa a problemática que se apresente em suas vidas, seja familiar, financeira, psíquica ou jurídica, a solução é desenvolvida na chegada de um homem, esse que poderá ser intitulado como seu príncipe ou amor da sua vida. A partir da chegada desse personagem, a história da que viria ser a personagem principal se centraliza na vida e existência dele, quase que um “A.C” ou “D.C”, o foco é ele, e toda a felicidade, que só chegou após a sua aparição, não é reconhecimento das fadas madrinhas, amigas ou da sua própria capacidade de superação.
Dito isso, seguimos financiando essa tradição cultural que resume à existência das mulheres unicamente na consolidação de um relacionamento. Ainda na infância, somos postas sob esse modelo educacional, e ao longo dos anos se institui uma pressão às mulheres solteiras que priorizaram seu desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico; estas que não compraram esse modelo de felicidade, que se perpetua ao longo de gerações e caminha de mãos dadas com as correntes do patriarcado.
Para essas mulheres, que entenderam sua plenitude como seres humanos e se posicionaram como lideres autônomas do seu “feliz para sempre”, existe a persistente caracterização de mulheres frias, mal-amadas, difíceis de lidar e solitárias. Elas seriam as que não cumpriram sua missão, resumida à consolidação de uma família, mesmo que tal feito não lhe traga a felicidade que os filmes e livros prometeram. É importante deixar em registro o recorte de relações, estaria sendo leviana quanto ao fato de generalizar todo relacionamento a um mantimento social de redução das mulheres. Contudo, na maioria dos casos, essa é a verdade esmagadora quando se trata de relacionamentos heterossexuais.
Portanto, o objetivo central não é a generalização de matrimônios, mas o incentivo a criticar as bases que nos acorrentam. Por que continuamos comprando a narrativa de completude apenas sob a luz de um relacionamento? Por que diminuímos nossa grandeza para nos adequarmos ao moldes e sermos escolhidas? Por que insistimos em centralizar toda nossa existência e felicidade para outra pessoa que não nós? Segundo a psicóloga Valeska Zanello, “na nossa cultura, os homens aprendem a amar muitas coisas, e as mulheres aprendem a amar os homens”. A reflexão proposta é para entender e combater essa realidade de subvalorização das mulheres.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduada em Gestão Empresarial, estudante de Direito e mestranda em Economia, além de feminista e militante dos Direitos Humanos.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
Leia Também
-
O novo já nasceu velho, por Jaqueline Andrade
-
Elinaldo x Caetano: 2 a 0 é o placar
-
Após separação, Belo cancela festa de 50 anos e 30 de carreira do grupo Soweto
-
A dança das cadeiras
-
O que há por trás da pesquisa AtlasIntel e o questionário que causa estranheza, por Anderson Santos
-
Na Bahia, mulheres ganham 17,3% a menos que os homens