Camaçari
“Nossa luta é pela inclusão”, afirma camaçariense e mãe atípica no Dia Mundial de Conscientização do Autismo
Durante a sessão desta terça, na Câmara, foi realizada uma moção de aplausos verbal em alusão a data.
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Mariane SenaSe o 2 de abril pudesse ser definido por uma cor, certamente seria o azul, tendo em vista a representatividade da data que, entre tantas pautas, lembra a luta das mães e pais atípicos pela inclusão de seus filhos. O Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi estabelecido em 2007 pelas Nações Unidas e, desde então, vem sendo celebrado com o intuito de fomentar o nível de informações relacionadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nesta terça-feira, durante a sessão extraordinária na Câmara Municipal de Camaçari, o vereador Elias Natan (PSDB) apresentou uma moção de aplausos, aprovada por unanimidade, fazendo referência à importância do dia. Ao Destaque1, o parlamentar ressaltou a implantação do Núcleo de Atenção ao Transtorno do Espectro Autista (Natea) no município. O equipamento foi inaugurado na semana passada e está situado na Rua da Natividade, atrás do antigo Bompreço.
“Nós, primeiro, estruturamos o serviço. Graças a Deus entregamos na semana passada o Natea. Tínhamos que estruturar, até para poder firmar os diagnósticos dessas pessoas, e a partir daí fazer os encaminhamentos não só para tratamentos e diversas terapias, mas também para validar a garantia de direitos da pessoa com Transtorno do Espectro Autista. O primeiro passo já foi dado, e a sacada é dar contribuição agora com essa proposta de aprovação do cadastro e da confecção dos documentos que irão assegurar esses benefícios para essas pessoas”, explica Natan.
De acordo com dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas. Dessa forma, estima-se que o Brasil possua cerca de 2 milhões de autistas. Em Camaçari, conforme Natan, atualmente 200 pessoas são acompanhadas e aguardam o diagnóstico.
“Foi feito um censo, são por volta de 200 pessoas com a suspeita. Elas agora irão obedecer à fila de espera, serão convocadas, avaliadas novamente por uma equipe multiprofissional e, a partir daí, terão suas terapias encaminhadas”, afirma.
Mães atípicas
Ao longo da sessão na Casa Legislativa, o Destaque1 teve a oportunidade de conversar com duas camaçarienses que são mães atípicas e relataram as vivências, alegrias e desafios cotidianos.
Uma delas é Vânia de Jesus, moradora do bairro Novo Horizonte. Ela é mãe de Arthur de Jesus, de 18 anos.
“Descobri aos quatro anos. Foi difícil aceitar ser mãe atípica, mas quando eu vi realmente a gravidade de uma situação que eu vivenciei, eu disse: ‘Pronto, mãe, agora é a hora realmente de eu tomar aquele perfil e dizer assim: eu vou buscar ajuda!’. Achei ajuda médica, muitas vezes não tive ajuda da minha família, em alguns pontos de acessibilidade, em alguns pontos muito difícil”, relata.
Vânia se define como uma “leoa” e destaca o apoio, sobretudo, quando o filho expõe a fragilidade.
“Sou aquela mãe leoa […]. Há momentos que ele diz assim: ‘Minha mãe, tem coisas que eu acho que eu não vou fazer, eu vou desistir’. Eu falo: ‘Não, meu filho, você nunca vai desistir enquanto eu estiver aqui, eu vou lutar por você sempre’”, revela Vânia.
A respeito da moção de aplausos, Vânia assegura ser um gancho para fortalecer a causa. “Eu estou aqui na Câmara representando um pouco as mães atípicas. É muito importante o município realizar atos assim, acolher a gente. Pode parecer bobagem, mas isso fortalece”, garante.
Ouça:
Já a psicóloga Letícia Oliveira, mãe de Arthur de Oliveira, de 6 anos, ressaltou que sua formação acadêmica ajudou na percepção do diagnóstico do filho.
“Antes de eu contar esse processo com o Arthur, eu vou contar um pouquinho, resumidamente, da minha história. Eu sou psicóloga, sou pós-graduada em psicologia cognitiva-comportamental e só atendia adultos. E, ao nascer Arthur, eu ali, já com dois meses de vida, eu já percebia que era uma criança atípica”, começa.
Na sequência, ela reforça a relevância do diagnóstico precoce. “Graças ao meu olhar, que poderia ser até mais precoce se eu não tivesse postergado essa opinião anteriormente dita, fechou o diagnóstico de Arthur com 2 anos e 4 meses, como um Transtorno do Espectro Autista, nível 1 em suporte, com o TDAHI, que é o transtorno de déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Arthur tem o TEA, mas ele também tem o TDAH”.
Letícia também frisa que o TEA tem tratamento. “A criança nasce assim, a criança nasce autista, e o TDAH tem o tratamento. O autismo, ele tem o tratamento”.
A psicóloga ainda expôs uma situação recente, chamando atenção para estereótipos e discriminação que ainda circundam a sociedade.
“Vou relatar uma pequena pausa do que aconteceu ontem com meu filho, que é para você entender sobre a inclusão. Ontem na minha rua teve uma festa, colocaram pula-pula, chamaram todas as crianças da rua e não chamaram ele. Ele ficou do ladinho da janela, ‘me chama, me chama, me chama, por favor’. E aí, mãe sábia que sou, falei assim, ‘filho, vamos sair’, e aí nós passamos o dia todo no shopping, só para que ele não visse esse aniversário e que ele tinha sido excluído”, pontuou.
Por fim, Oliveira reafirmou que a luta é pela inclusão, pela “empatia verdadeiramente colocada em prática”.
Ouça:
Ciptea
A Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) já pode ser solicitada no município, conforme iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Social e Cidadania (Sedes). O link que permite acesso à plataforma digital, bem como o formulário de requerimento, foi disponibilizado no último dia 27.
Regulamentada através do Decreto nº 8.021/2024, a Ciptea é destinada a conferir identificação à pessoa diagnosticada com TEA. O formulário de requerimento, para emissão do documento, pode ser acessado aqui.
Vale destacar que a Ciptea, devidamente numerada, será expedida de forma gratuita. O documento, que terá validade de cinco anos e deverá ser revalidado com a mesma numeração, visa garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
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