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Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Historiadora Rafaela Cardoso detalha os acontecimentos no município durante o regime.

Isabella Mota

Publicado

em

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões
Fotos: Reprodução e Arquivo/A Tarde

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Foi em 19 de abril, há 60 anos, que a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, manifestação em apoio ao golpe de 1964, chegou a Camaçari, dias após o presidente da República João Goulart ser deposto, e uma ditadura ser instaurada no país. Ao longo de 21 anos de um período marcado pela repressão, censura e violência, o município, que mais tarde seria transformado em Área de Segurança Nacional (ASN), presenciou mudanças no âmbito político, social e econômico que devastaram a população.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Matéria do jornal Folha do Subúrbio. Foto: Washington Nunes/Arquivo pessoal

A marcha, conforme registros do jornal Folha do Subúrbio, teve participação de cerca de mil pessoas que circulavam pelas ruas em defesa da intervenção militar e contra o comunismo. “Grande número de fiéis rendeu graças a Deus pela vitória que todo o Brasil cristão festeja, contra o comunismo ateu e sanguinário”, está escrito na coluna. Neste mesmo texto, há referência ao proprietário do jornal, Eduardo Cavalcante, como homem que ‘jamais cedeu aos vermelhos um só minuto das suas convicções, seja nas lutas locais, ou através das colunas deste jornal’.

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Na época, o Folha do Subúrbio fazia menções em favor do governo. Com manchetes como ‘Abraçar o comunismo é abraçar o ateísmo’, ‘Afrontando a Revolução’, e a série de charges ‘Ivaninho o Terrível: sua vida por trás da cortina de Ferro’, que ironizava aqueles que eram contra o regime, deixava clara a posição do jornal.

Às vésperas do golpe, a população camaçariense havia eleito um prefeito por voto direto, José Evaristo de Souza, que continuou no governo. Além dele, outros dois políticos foram eleitos para gerir o município, Luís Pereira Costa e José Vitorino dos Santos. O regime passa a se enrijecer de fato no município, quando Camaçari ganha holofotes nacionais com a aprovação da construção do Polo Petroquímico, inaugurado em 1978. Por portar um equipamento econômico de interesse nacional, em 1973, o município é transformado em ASN, e José Vitorino é deposto. A partir desse momento, a ditadura nomeou interventores para gerir a cidade, Antônio Andrade Garcia, por um ano, e Humberto Henrique Garcia Ellery, que ficou 11 anos no poder.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Rafaela Cardoso, professora de história e mestranda em história política. Foto: Patrick Abreu/Destaque1

“Quando se vê uma série de pessoas ficando desempregadas, sendo demitidas, porque elas discordam, ou professores que foram demitidos porque não quiseram fazer campanha para determinado candidato. São ações que a gente acaba maquiando como se fosse uma disputa de cores [de partidos políticos], mas é uma disputa pela história, é uma disputa pelo futuro”, diz a mestranda em história pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Rafaela Cardoso, ao Destaque1. Atualmente, ela é professora de história no Colégio Estadual José de Freitas Mascarenhas e pesquisa o período ditatorial em Camaçari.

A historiadora conta que as implicações não foram imediatas, mas impactaram fortemente os munícipes.  De acordo com artigo do professor titular aposentado da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, José Antônio Gomes de Pinho, em 10 anos, a cidade teve crescimento populacional de 282% e a oferta de empregos e residências não foi proporcional. No Perfil Diagnóstico do Município, consta que apenas 30% dos trabalhadores do complexo industrial moravam em Camaçari.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Polo Industrial de Camaçari. Foto: Reprodução

“Estavam sendo inauguradas obras, mas a maioria dos trabalhadores do Polo, por exemplo, depois que ele foi construído, eram trabalhadores que se chamam de trabalhadores especializados, eles não eram daqui. Então, para quem era de Camaçari, ficaram os piores trabalhos”, afirma Cardoso.

Desemprego, moradia e revolta

Foram realizadas uma série de manifestações populares clamando por empregos. Uma delas, motivada por falta de contratações em uma das prestadoras de serviço do complexo industrial. Em torno de dois mil desempregados se dirigiram ao Centro do município para manifestar por emprego. Não demorou para que a polícia chegasse ao local. Com cartazes escritos ‘Queremos alimento’, ‘Queremos emprego’, ‘Polícia, Colabore. Paz’, os trabalhadores, desesperançosos, foram à Câmara Municipal e pediram às autoridades para solucionar os problemas de empregabilidade e fome, como documenta o jornal A Tarde.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Foto: Arquivo/A Tarde

Na publicação do jornal, um dos desempregados disse: “Estou participando aqui de mais uma inscrição, perdendo tempo nesta fila. Sei que nada vai adiantar, mas fico para que depois não venham me taxar de baderneiro ou tumultuador, ou quem sabe até líder político de algum partido como o PCdoB entre outros”.

“A gente vai encontrar várias vezes nos jornais da época, as visitas dos presidentes da ditadura, que eram presidentes indicados, não eleitos […]. Às vezes eles nem passavam por aqui, na verdade, na maioria das vezes, eles nem passavam pelo Centro da cidade. Eles iam direto para o Polo e saíam, porque no final das contas, eu acho que uma das principais violências da ditadura é que eles vieram daqui só pra tirar de nós o que nós tínhamos de melhor: a nossa água, o nosso ar puro, o nosso solo, as nossas matérias primas. Porque, o Polo era visto como algo que eles iriam investir, mas eles não pensavam na cidade e isso foi muito traumático para a cidade como um todo”, destaca a historiadora.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Vista aérea do Conjunto Habitacional. Foto: Reprodução

Com a necessidade do desenvolvimento da urbanização da cidade, a empresa Urbis (Urbanização e Habitação da Bahia) criou, na década de 70, os complexos habitacionais nomeados de Gleba, para atender às demandas do crescimento populacional desenfreado. Entretanto, após as construções das casas, os munícipes não puderam morar.

Anteriormente, a prefeitura havia desapropriado áreas que seriam os bairros denominados de Phoc (Projeto Habitacional Orientado de Camaçari).

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Foto: Arquivo/A Tarde

De título ‘Candidatos à moradia invadem casas da Urbis’, a reportagem de 1982 do A Tarde narra as tensões enfrentadas pela população. Pessoas inscritas no programa de moradia há sete anos que não tinham suas casas entregues, foram classificadas como ‘invasores’ e foram despejados. Eram cerca de 300 habitações na Gleba E. Na ocasião, funcionários da Urbis e as polícias militar e choque colocaram as mobílias dos moradores para fora e colocaram tábuas pregadas nas portas e janelas para evitar que as pessoas entrassem novamente. Dentre os moradores, estavam mulheres grávidas no nono mês de gestação.

Resistência

Com a chegada de figuras políticas de esquerda na cidade, as manifestações ganharam caráter organizado e surgiram as associações de moradores, incentivadas pelo PCdoB, que estava na clandestinidade, e pelo Partido dos Trabalhadores. A medida que a igreja católica também contribuiu com a proteção dos movimentos populares.

“A casa do salão paroquial da igreja católica foi um espaço importante onde os movimentos sociais conseguiram se reunir. Porque hoje talvez seja fácil, a gente aluga um lugar para fazer uma reunião, mas antes isso era muito policiado. Então [Humberto] Ellery, o prefeito da época biônico, que passou mais de 10 anos na prefeitura, ele teve que ir lá responder aos movimentos sociais, aí a igreja teve uma importância grande nisso”, frisa Rafaela.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Paulo Tonucci. Fotos: Reprodução/Associação Paulo Tonucci

O padre Paulo Tonucci, que hoje dá nome a creche e organização social, chegou em Camaçari no ano de 1981, depois de ter atuado com perseguidos políticos do governo em Salvador, no bairro de Fazenda Grande.

Responsável pela paróquia São Thomaz de Cantuária, o padre não escondia que apoiava os movimentos populares, prestava assistência aos mais pobres e serviços para a população. Ainda na reportagem sobre os despejos na Gleba E, o padre afirmou que ‘a moradia é um direito natural do homem e que deve ser obedecido por aqueles que estão no poder’.

“As primeiras manifestações, elas são muito mais defendendo que tenha água potável nas ruas, tenha cesta do povo, então os movimentos, eles começaram a se juntar. Eram movimentos que as pessoas queriam lutar para que tivesse comida no mercado, água, energia elétrica e aí, essas associações começaram a ser feitas: um prefeito que não foi eleito, ele não tem legitimidade para governar, porque ele não entende a linguagem do povo”, conta a historiadora.

De acordo com Rafaela, nos anos finais do regime, setores da direita começaram a ‘pular do barco’. “Setores que tinham apoiado a ditadura, setores que queriam se beneficiar com a ditadura, e se beneficiaram com ela, começaram a perceber que não ia dar jeito e que a ditadura teria que acabar. Então o próprio Ellery, você encontra ele dizendo: ‘É claro que eu quero as diretas já, mas eu só obedeço, então por isso que eu estou aqui’”, narra a professora.

Assista:

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Em memória da história

Cardoso revela que uma das motivações para iniciar a pesquisa sobre o período ditatorial do município foi o questionamento: “Camaçari não tem história?”. Na busca pelo conhecimento histórico da cidade, a estudiosa destacou as dificuldades que passou no processo de pesquisa. “Os estudos de história em Camaçari ainda são muito difíceis, a gente tem um acesso muito limitado às fontes, então meu trabalho é o primeiro trabalho”, diz.

“Talvez quando a gente for pensar em São Paulo, Salvador, por exemplo, seja algo bem definido, mas quando a gente vai pensar sobre Camaçari não é tão definido assim, porque, inclusive, é uma disputa histórica que eu faço é, como se na nossa cidade não tivesse existido ditadura. Quando a gente vai pegar os livros, as memórias que foram publicadas sobre o assunto, é como se fosse um período maravilhoso e como se nada tivesse acontecido. Então a minha pesquisa ela é, de alguma forma, uma disputa histórica que ainda está buscando o seu lugar”, ressalta.

Em visitas ao Arquivo Público Municipal, na Avenida Eixo Urbano Central, os funcionários falaram ao Destaque1 sobre a necessidade de organizar a história de Camaçari. O Arquivo recebe documentos que são designados de outras secretarias e órgãos da Prefeitura, além de doações que podem ser feitas pela população.

Com o passar dos anos, muitos documentos foram perdidos, especialmente aqueles com valor histórico para o município, como Diários Oficiais do Município, livros ATA, decretos, funcionamento do Legislativo, e edições do jornal camacariense Folha do Subúrbio. O acervo do Arquivo Público Municipal é composto por documentos a partir de 1930, mas com algumas lacunas temporais. Atualmente, o órgão tem catalogado, principalmente, registros sobre a história administrativa do município.

Ditadura: há 60 anos, Camaçari era palco de disputas e tensões

Edneide Cerqueira, arquivista. Foto: Isabella Mota/Destaque1

A arquivista Edneide Cerqueira, que trabalha no órgão há 10 anos, ressaltou a importância do Museu de Camaçari em manter viva a história da cidade, além de resgatar as memórias da árvore que chora, que dá significado ao nome do município.

“Desde que eu cheguei aqui, uma coisa me inquietou muito. Eu fiquei pensando sobre a história de Camaçari. Então você procura saber até dos professores, quando teve aquele projeto ‘Arquivo Escola no Teatro’, eu tive contato com alguns professores e nem todo mundo sabe, são poucos os que falam com os seus alunos […]. Camaçari se você for ver pela história, ela é quase tão antiga quanto Salvador. Por volta de 1500 e pouco começou Camaçari, em Abrantes”, destaca.

Em 2019, foi sancionada a Lei Municipal n° 1600/2019 que insere no conteúdo programático do nível fundamental I e II, de todas as escolas da rede pública e privada, o ensino da história de Camaçari. A lei prevê ainda que todas as áreas de conhecimento podem promover algum tipo de valorização à história do município, e disciplinas das ciências humanas têm o dever de dar ênfase ao estudo dos aspectos históricos da cidade.

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