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Como deve ser o skincare da pele negra? Especialista esclarece mitos dermatológicos e recomenda rotina de cuidados
O Destaque1 conversou com a dermatologista Hadassa Barros, membro do Skin of Color Society (SOCS).
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Emile LiraQuando o assunto é o cuidado com a pele negra, vários achismos rondam o imaginário popular, especialmente de que, por conta da maior quantidade de melanina, ela não precisa de uma atenção especial. Mas, ao contrário do que se pensa, a pele negra também demanda cuidados únicos, e entender as particularidades, adotando uma skincare adequada, é importante para uma pele saudável.
Para entender as características e cuidados singulares que requerem a pele negra, o Destaque1 conversou com a dermatologista Hadassa Barros, membro do Skin of Color Society (SOCS), uma organização internacional de profissionais da área, comprometida em aumentar a diversidade e a inclusão no campo da dermatologia para aprimorar o atendimento ao paciente.
Médica graduada pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde (Incisa) e proprietária da Clínica Dra. Hadassa Barros Medicina e Bem-Estar, ela tem se dedicado há muitos anos aos cuidados com a pele negra. “Um olhar mais atencioso às suas particularidades estruturais, biológicas e funcionais que faz toda a diferença nos resultados relacionados à saúde e estética”, destaca.
Um dos principais mitos relacionados à pele negra é de que ela não precisa de proteção contra os raios solares. Apesar da melanina oferecer certa proteção natural, a pele escura não está imune aos danos causados pelo sol, sendo indispensável o protetor solar.
“A recomendação é o uso diário, e é preciso a reaplicação, principalmente se estiver em atividades como praia, piscina ou em exercícios externos, sendo necessário um uso a cada três horas”, afirma.
A médica também faz indicação quanto ao Fator de Proteção Solar (FPS) do protetor, número que indica o nível de proteção que o produto oferece contra os raios ultravioletas (UV). “Geralmente recomendo pelo menos um FPS 30 para as peles negras, mas se o uso for em uma atividade em exposição direta ao sol, é importante aumentar esse FPS para em torno de 50. E lembrando que é necessário o uso regular, não só quando for à praia. Protege contra queimaduras solares, contra doenças por exposição à radiação UV e contra o câncer de pele”, ressalta.
Ouça:
Outra particularidade da pele negra é que, por conta da melanina, há uma tendência maior ao aparecimento de manchas por estímulos como exposição solar, arranhões, cravos e espinhas. A hiperpigmentação também acaba surgindo em regiões de atrito, como axilas e virilhas.
“A maioria de meus pacientes negros se queixa da pele manchar com facilidade, e de que essas manchinhas são difíceis de sair. Então um dos cuidados especiais é evitar lesões, porque a qualquer processo infamatório vai haver liberação de melanina, e, consequentemente, surgir uma mancha. Inclusive por isso reforço que o uso do protetor solar é extremamente importante na pele negra, para evitar essas manchas”.
Na conversa durante a reportagem, doutora Hadassa explica detalhadamente essa característica.
Ouça:
Na região do rosto, a pele negra também tem maior propensão a ser mais oleosa. “Apesar de termos uma quantidade de glândulas sebáceas muito parecidas, elas são mais volumosas, logo elas produzem uma quantidade de sebo muito grande”, destaca a dermatologista.
Por conta disso, um skincare adequado é essencial, com o uso de sabonetes que tenham ativos de controle da oleosidade, hidratação e proteção apropriados, o que deve ser reforçado no período de maior calor.
Ouça:
A hidratação é um dos fatores importantes apontados por Hadassa Barros. “Tem gente que acha que pele oleosa não precisa de hidratação, mas é ao contrário. Se você hidrata, gera uma pele com qualidade melhor, uma barreira mais saudável, então ela vai funcionar melhor e haver um melhor controle da oleosidade”, pontua.
Mais um mito desmentido pela dermatologista é de que é preciso lavar o rosto muitas vezes por estar mais oleoso. “Quando se lava mais do que três vezes ao dia, pode provocar um efeito rebote e aumentar a oleosidade”, explica.
“E a hidratação mantém essa pele saudável, a pele entende que ela está bem. A escolha do hidratante, inclusive, pode ser por um que contém ativos para controle da oleosidade”, acrescenta.
Já a pele do corpo, ao contrário da do rosto, tende a ser mais seca em pessoas negras. Isso faz com que a hidratação seja ainda mais importante. “Não só para manter uma barreira da pele mais saudável e estimular a renovação celular, mas também porque uma pele mais hidratada é uma pele com mais saúde e que funciona melhor”, afirma.
Nos períodos mais frios, o ressecamento da pele do corpo tende a aumentar. “A gente precisa caprichar na hidratação do corpo. Uma das coisas que dou dica é ter um bom hidratante e fazer associação com óleos, porque as vezes o óleo acaba funcionando como barreira para evitar essa perda transepidérmica”.
Ouça:
A doutora Hadassa Barros destaca que é importante conhecer o seu tipo de pele: seca, normal, mista ou oleosa. “Determinando isso, a gente já consegue estabelecer os três princípios da rotina de cuidados com a pele. A primeira etapa é a de limpeza; a segunda, hidratação; e terceira, a proteção solar”, conclui.
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