A expressão guarani “Nhe´ ẽ Se”, que na língua portuguesa significa “o desejo de fala”, dá nome à mostra de arte indígena que começa na próxima terça-feira (28). Com entrada gratuita, a exposição ficará até o dia 4 de agosto na Caixa Cultural Salvador, situada Rua Carlos Gomes, 57, no Centro. No local, os visitantes poderão apreciar obras de 12 artistas indígenas oriundos de diferentes regiões do país.

A visitação ocorre de terça a domingo, das 9h às 17h30. Entre os criadores selecionados estão: Aislan Pankararu; Ajú Paraguassu; Arissana Pataxó; Auá Mendes; Davi Marworno; Déba Tacana; Edgar Kanaykõ Xakriaba; Glicéria Tupinambá; Paulo Desana; Tamikuã Txihi; Xadalu Tupã Jekupé; e Yacunã Tuxá.
A curadoria é de responsabilidade da pesquisadora e doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ Sandra Benites, de etnia Guarani-Nhandeva (MS), bem como da pesquisadora na área de gênero, raça e interseccionalidades Vera Nunes, considerada uma das principais mulheres na liderança de projetos artísticos de grande escala no território brasileiro.

A exposição conta com o patrocínio da Caixa e do governo federal, e é idealizada e realizada pela agência Via Press Comunicação.
Manto Tupinambá
Entre os destaques que serão exibidos está o Manto Assojaba Tupinambá, de Glicéria Tupinambá, conhecida por recuperar as técnicas ancestrais de confecção dos mantos de seu povo que foram roubados ao longo dos séculos de colonização. A obra foi o centro das atenções na abertura do pavilhão brasileiro da atual edição da Bienal de Veneza, em abril deste ano.
Original da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia, presentemente Glicéria é a única que domina o método de realização dos mantos tupinambás, símbolos sagrados de poder utilizados em rituais por pajés, majés e caciques do povo.
A artista ressalta que para criar a peça são necessárias de 3.500 a 5.000 penas de guará e de araras coloridas que são levadas pelo vento quando as aves levantam voo. As penas são costuradas em uma malha de pesca com um cordão encerado, formando nós que simbolizam a ligação do passado com os dias atuais.
Os tupinambás dominavam a costa brasileira antes da chegada dos portugueses e foram os primeiros a ter contato com os colonizadores. Com isso, a representatividade do Manto Tupinambá vai além do resgate da tradição e do encantamento estético. Conforme Glicéria, ele provoca a memória e o ativismo social e político pelos direitos das mulheres indígenas.
Programação ‘bônus’
A abertura oficial da exposição ocorrerá às 19h, no dia 28. A cerimônia terá tradução em Libras e serviço de audiodescrição com vídeos legendados ao longo de todo o período que a exposição permanecer em cartaz.

Já no dia 29 de maio, as atividades proporcionam uma visita guiada, às 14h, além de uma roda de conversa batizada de “Diálogo é Cura”, das 14h30 às 15h30. Idealizada por Sandra, a atividade se configura como uma junção de vivências que refletirão sobre a cosmovisão dos povos indígenas e sua contribuição essencial para que a sociedade brasileira seja mais justa e democrática. A conversa abordará os modelos comunitários dos povos originários e o relato de suas preocupações com o paradigma civilizatório moderno.