Cultura e Entretenimento
Itamar Vieira e Luciany Aparecida reúnem multidão na Bienal do Livro Bahia
Autores participaram do Café Literário com tema ‘Qual Bahia?’.
Publicado
em
Por
Isabella MotaOs escritores baianos Itamar Vieira Jr. e Luciany Aparecida reuniram uma multidão na Bienal do Livro Bahia 2024, no Centro de Convenções, nesta sexta-feira (26), primeiro dos seis dias de evento. No espaço ‘Café Literário’, com mediação da jornalista Edma de Góis, a mesa teve como tema ‘Qual Bahia?’, e foram discutidas questões regionais que dialogam com as obras dos autores, ambientadas no interior do estado.
“Escrever sobre a Bahia é pintar a minha aldeia”, diz Itamar em paráfrase ao escritor russo Tolstói. O best-seller ‘Torto Arado’, de autoria de Vieira, com mais de 800 mil cópias vendidas, narra a história de irmãs Bibiana e Belonísia que vivem em uma fazenda na Chapada Diamantina, e detalha as complexidades das relações sociais, trabalhistas, geográficas e mitológicas. O baiano coleciona prêmios, como o Jabuti, LeYa, Oceanos, a premiação francesa Montluc Résistance et Liberté, além de ser o único livro originalmente escrito em português indicado ao International Booker Prize.
“Eu queria que fosse uma história que espelhasse a vida que eu via. E eu via mulheres em lugares e posições de destaque. Para nós que nascemos na Bahia, vivemos na Bahia, eu acho que essas personagens fazem parte da nossa memória. A herança, por exemplo, africana que a nossa cidade tem, nos deu grandes personagens”, diz Itamar. Este ano, o evento tem o tema ‘Histórias que a Bahia Conta’, a programação completa pode ser conferida aqui.
O escritor, que também é geográfo, conta que os conhecimentos em história e antropologia para construir as narrativas são ferramentas para “compreender o passado, entender o presente, mas para projetar um futuro diferente”.
Primeiro livro assinado com seu nome, Luciany Aparecida lançou, em dezembro de 2023, o romance Mata Doce. Com protagonista Maria Teresa, a obra descreve os dramas e tragédias que cercam o vilarejo fictício de Mata Doce, no interior da Bahia. Durante a rodada de perguntas, a escritora revelou que tem como norte contar a história de protagonistas negras valentes que subvertam os estereótipos, e antecipa que, em um novo livro, irá narrar a vida de uma trabalhadora do século 19 em fábrica de tecido, em Jequiriçá.
Aparecida conta ainda que a ideia do universo do livro surgiu em uma conversa com o tio. “Quando eu estava nessa cena com o meu tio e ele me deu o personagem pronto, que foi o Manoel da Gaita, eu pensei: ‘Quero criar um mundo para Manoel da Gaita, mas quem vai mandar nesse mundo são as mulheres’. Aí eu escrevi três personagens; Maria Teresa, e duas personagens idosas, que são Filinha e Mariinha. Essas duas mulheres adotam essa criança”.
A escritora destaca que foi uma escolha escrever sobre mulheres idosas, muito por ter criado um ‘encantamento com a velhice’. “Quando eu era criança e adolescente, lá na comunidade rural, esse encantamento pela velhice, ela ficou no meu imaginário como um lugar encantado de muita beleza e sabedoria”, lembra.
A estudante de Educação Física, Izabela Freire, 32 anos, diz que os momentos de diálogo na Bienal do Livro são um meio de promover, além da construção de novos conhecimentos, espaços democráticos. “É um espaço muito democrático, porque consegue agregar pessoas de vários ambientes, traz a escola pública, a universidade, autores da região, autores de fora”, afirma.
Izabela fala também sobre a importância de refletir os tempos em que vivemos. “Se juntar para pensar sobre esse tempo que a gente está vivendo, pensar sobre o que a gente vem produzindo em termos de cultura e literatura, qual a importância disso para a nossa formação enquanto pessoas, estudantes, professores, como a gente pode utilizar isso para a construção de novos conhecimentos”, diz.
Pela primeira vez no evento, o escritor e fisioterapeuta, Filipe Hondrey, 24 anos, veio de Santanópolis, a 150km de Salvador, para participar do Café Literário. “Para mim, principalmente, que sou de um interior, eu acho ainda mais legal, porque o livro Torto Arado, fala sobre pessoas que viveram no interior há muitos anos atrás, e pessoas negras, então me lembra muitos os meus avós […]. Pareciam muito histórias que eu cresci escutando”, destaca.