Política
Camaçari: mão de obra local e feminina é uma das principais demandas na chegada de novas empresas
As pautas foram debatidas na sessão especial desta quarta, em alusão ao Dia do Trabalhador.
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Mariane SenaO plenário da Câmara Municipal de Camaçari nesta quarta-feira (8) foi cenário para um debate em alusão ao Dia do Trabalhador, celebrado no último dia 1º. A sessão especial, requerida pelo vereador Dentinho do Sindicato (PT), reuniu representantes sindicais e autoridades políticas, bem como trabalhadores de distintas fábricas do setor industrial da cidade.
“É uma sessão que fazemos todos os anos com o intuito de discutir com os trabalhadores as demandas trabalhistas. Um momento também de escuta e de alerta, que sempre desencadeia novos rumos e discussões que visam fomentar os direitos da classe”, explica Dentinho.
Ao Destaque1, o parlamentar também salientou que este ano, em virtude de um novo período que o município vivencia, a temática abordada, “Os impactos da chegada de novas empresas para o mercado de trabalho e a economia em Camaçari”, contempla essa realidade. “Mudamos o tema porque Camaçari vive um novo momento, com a chegada de três fábricas muito importantes”, garante o parlamentar.
As empresas mencionadas pelo petista são a Sinoma Wind Power Blade (Brazil), maior produtora independente de pás eólicas do mundo. De acordo com Dentinho, a chinesa já conta com 300 funcionários, e até outubro esse quantitativo poderá chegar a 800. Entra na lista a Goldwind, fornecedora de turbinas eólicas, e a Build Your Dreams (BYD), fabricante de veículos elétricos.
Um dos principais desafios citados pelo vereador diz respeito à cultura trabalhista do país, situado na Ásia Oriental e considerado uma das mais antigas civilizações do mundo. Nesse contexto, ele reforça que o investimento no público feminino precisa ser instigado.
“Estamos tentando, sobretudo com a BYD, reforçar o investimento na mão de obra feminina, mostrar para os chineses que a mulher brasileira, a mulher baiana, pode sim atuar na indústria, nas áreas de produção. O foco é desmistificar padrões e estereótipos”, garante Dentinho.
“Eles não queriam, por exemplo, ninguém acima de 40 anos, não queriam mulheres, mas estamos discutindo isso aí e estamos conseguindo infiltrar essas barreiras”, adita.
A qualificação da mão de obra foi outro ponto crucial. O vereador Ivandel Pires (União) ressalta que Camaçari precisa deixar de ser apenas uma absorvedora de grandes empresas.
“A maioria das pessoas do Polo Petroquímico que ganham acima de R$ 4 mil, eles não vivem em Camaçari, ou ele pega a BR, ou ele pega a Via Parafuso para irem para suas casas. É preciso trazer oportunidades para nossos jovens estarem aptos para grandes cargos […]. Nós não podemos, de jeito nenhum, deixar que Camaçari seja apenas uma absorvedora de empresas de grande porte. A empresa vem aqui absorver tudo aquilo que ela acha por direito absorver, e a nossa mão de obra fica cada vez mais escassa”, pontua Ivandel.
Para o parlamentar, a unidade dos governos será um diferencial nos resultados positivos.
“Pedir aos nossos governantes a união nesse momento para melhorar e capacitar ainda mais a mão de obra de Camaçari, para a gente não perder espaço para o pessoal de fora. Porque se a BYD não comprar no nosso comércio local, não usar a mão de obra local, as empresas prestadoras de serviço, que a gente chama de terceiras, não serem de Camaçari, a gente vai pegar tudo de Camaçari e dar ao povo de fora novamente. Aí fica o filho do chefe é o futuro chefe, e o filho do peão é o futuro peão, a gente tem que parar com isso. Temos condições de lutar por isso, eu sou prova viva disso”, finaliza Pires.
Presente no encontro, o pré-candidato a prefeito Luiz Caetano (PT) criticou a ausência da maioria dos vereadores da base.
“É ruim não estar aqui os 20, os 21 vereadores. Era bom que estivesse todo mundo. Isso aqui é para toda a cidade. Dialogar com toda a cidade, dialogar com todo o estado, dialogar com todo o Brasil. Eu fui secretário do Estado, fui deputado estadual, foi vereador duas vezes aqui nesta Casa e, se Deus quiser, vou ser o prefeito, e estou dizendo aqui que comigo vai ser diferente”, afirma.
O vereador Tagner Cerqueira (PT) fez duras censuras à gestão do prefeito Elinaldo Araújo (União). Conforme o edil, até o momento, apenas o Governo do Estado tem mostrado empenho em promover formações para capacitar os cidadãos camaçarienses, sobretudo na atuação da BYD. Ele assegura que o comandante do ‘time azul’ é “contra os trabalhadores”.
“A gente vive um momento, de fato, de reconstrução do Brasil. Com Luiz Inácio Lula de volta já foram gerados mais de 2 milhões de empregos, além da igualdade salarial e outras demandas conquistadas pelo nosso presidente. A gente saiu de um governo que não dialogava e começa a respirar um novo momento. Trazendo para a realidade de Camaçari, o Governo do Estado tem apostado na formação junto ao Cimatec. Mas a Prefeitura também precisa fazer seu trabalho. A Prefeitura até agora não apresentou nenhum curso de qualificação e ficam cruzando os dedos para que a BYD dê errado, mas não vai dar, já deu certo. Elinaldo tem nove anos massacrando os trabalhadores, os servidores. A gente não pode aventurar um terceiro mandato político que é contra os trabalhadores”, provoca Tagner.
A presidente da Central única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-BA), Maria Madalena de Oliveira Firmo, reforçou a fala do vereador Ivandel Pires ao evidenciar a qualidade de vida da população local.
“A chegada de empresas, de fábricas para Camaçari, não está chegando por acaso, porque Deus mandou vir. Está chegando porque existe um processo de reconstrução do país […]. Nós não podemos ter apenas aquelas pessoas com bons salários, que às vezes nem é de Camaçari. E os trabalhadores de Camaçari, o povo de Camaçari, continuar morando em uma casa difícil de morar, com condições inadequadas, continuar sem ter saúde digna, educação digna. Volto a dizer, o desenvolvimento não é apenas a chegada de uma fábrica, mas o que ela pode gerar de melhorias para todos no entorno”, avalia.
Cenário
O advogado trabalhista do corpo jurídico do Sindiquímica Clériston Bulhões fez um balanço da conjuntura do país ao relembrar o período de pandemia e os confrontos que vieram com ele.
“Temos que retornar para entender o momento atual, e assim planejar o futuro. Saímos de uma pandemia que mudou, chocou e parou o mundo, que transformou nossa forma de viver, trabalhar, agir. A pandemia não trouxe somente a questão do home office, mas mudou a questão do emprego, pois várias empresas tiveram que mudar o modo de lidar com seus trabalhadores, com a sociedade. Temos um conjunto de fatores que precisam ser levados em conta. Perda de mão de obra, aumento de custos, alta enorme do desemprego, inflação, várias empresas fecharam”, inicia Bulhões.
O advogado também cita a reforma trabalhista e a reforma previdenciária como desafios a serem administrados. “Paralelo a isso, tivemos uma reforma trabalhista com uma grande mortificação dos direitos. A curto prazo ela ainda não é sentida, mas a longo prazo, em contrapartida, temos a reforma previdenciária que já é sentida, muita gente sem conseguir a sonhada aposentadoria”, pontua.
Como sugestão aos sindicalistas presentes, Bulhões deixou um alerta. “No caso dos sindicatos, terem um olhar mais voltado para os contratos coletivos, acordos coletivos, as convenções, com o intuito de proteger os direitos coletivos. O chinês tem uma cultura diferente, é preciso saber trabalhar e lidar para não se tornar uma disputa de culturas, mas uma interação entre as culturas, para que possam atuar juntas sem ferir o direito dos trabalhadores”, instiga.
Também participaram da sessão especial desta quarta o técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Bahia, Gustavo Palmeira; o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim; o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química, Petroquímica, Plástica, Farmacêutica do Estado da Bahia (Sindiquímica), Alfredo Santos; o presidente do Sindicato dos Borracheiros de Camaçari, Salvador e Região Metropolitana (Sindborracha), Josué Pereira; o presidente do Sindicato dos Rodoviários Metropolitano do Estado da Bahia (Sindmetro Bahia), Mário Cleber; a diretora do Sindicato dos Professores da Rede Pública Municipal de Camaçari (Sispec), professora Ana Carla Fagundes; e outras representações atuantes no município.
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