A dança das cadeiras

Os prazos eleitorais de filiação partidária transformaram a política de Camaçari num palco de entretenimento. Mudanças de lado, trocas de bandeiras, ameaças veladas de rompimento. A cada dia a audiência se deleitava com novidades do campo político. Exibições performáticas irrompiam nas redes sociais acompanhadas de comemorações caricatas das convenientes mudanças de posição política.

Toda essa movimentação gira em torno da capitalização de influência política no processo eleitoral. Cada aquisição é comemorada em clima festivo, com todas as pompas e circunstâncias, mobilizando um séquito de seguidores para valorizar o papel desempenhado pelo novo aliado no plano político. Minimiza-se as diferenças de outrora, maximizando os supostos ganhos político-eleitorais da aliança.

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Os protagonistas dessa “dança das cadeiras” procuram valorizar o seu passe. Carregam ou emulam um grau de “capital político” suficiente para poder negociar condições favoráveis num futuro governo, e precisam provar a sua estatura, movimentando o cenário, criando fatos políticos favoráveis, gerando engajamento nas redes e mobilização social. Por outro lado, são vistos com enorme desconfiança, pois carregam consigo o peso da “traição”.

No plano local, o pragmatismo das decisões em ano eleitoral surpreende só quem enxerga a política do ponto de vista ideológico. Mudanças de grupo político passam, em geral, por um cálculo eleitoral, que evoca um quadro de expectativas sobre o futuro. Como toda aposta, oferece seus riscos, pois é uma leitura conjuntural. É um retrato na parede, a cristalização de um momento que pode apresentar fissuras imprevisíveis até o dia da eleição.

Bruno Evangelista é sociólogo, doutor em Ciências Sociais e servidor público.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.