Opinião
Mulheres em cargos de liderança e o fenômeno da abelha rainha
Por que mulheres que alcançam ambientes tradicionalmente liderados por homens reproduzem os erros masculinos?
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Laiana FrançaNas últimas décadas, observamos um positivo aumento de mulheres ocupando ambientes antes só dominados por homens, seja no âmbito social, coorporativo, artístico, político e acadêmico. É inegável uma maior parcela de lideranças femininas, e esse aumento é um positivo resultado da luta das mulheres pela sua emancipação. No entanto, ainda estamos longe de alcançar uma participação igualitária entre os gêneros, o que nos leva a questionar por que mulheres que já ocupam esses espaços tendem a reproduzir as ações patriarcais do mercado com as suas iguais.
No que se refere a ambientes corporativos, o aumento de mulheres em cargos de chefia representou também o crescimento da insatisfação de outras mulheres lideradas por estas, no que tem sido batizado como “síndrome da abelha rainha”. A postura de líderes femininas que tendem a assumir uma gestão dura, inflexível, agressiva e persecutória a outras mulheres, principalmente àquelas que estão sob sua gestão, cresce nos últimos anos.
Segundo pesquisa divulgada pela UOL, 76% da mulheres preferem ser chefiadas por homens. Nessa pesquisa foram ouvidas 2 mil pessoas, que apontaram experiências negativas com gestões femininas. Que a rivalidade feminina é um problema persistente entre as mulheres é fato indiscutível, contudo, o fenômeno da abelha rainha vai além disso. Como os cargos mais altos tradicionalmente sempre pertenceram aos homens, quando mulheres os alçam sentem a necessidade de performar essa masculinidade, reproduzindo os maus hábitos das gestões masculinas de maneira ainda mais contundente.
Diferentemente deles, as mulheres precisam frequentemente validar a sua importância, devem se manter a todo momento em estado de vigilância para não serem superadas, precisam entregar o dobro para obter o mesmo que seus pares. Seria esta a causa pela qual ainda estamos disputando e nos diminuindo? A necessidade de mostrar que estão aptas a permanecer no cargo que ocupam seria a raiz pela qual gestoras persistem em perseguir suas lideradas? Ou a necessidade de ser a única naquele patamar e a perspectiva de visualizar as demais mulheres como concorrentes?
É um tanto doloroso ver que há mulheres que ainda não entenderam que os ambientes só estarão mais saudáveis para a nossa presença quando outras mulheres ocuparem cargos cada vez mais altos, e só chegamos nesses lugares quando encontramos apoio umas nas outras. Portanto, a ideia de centralizar o sucesso em uma única personagem, tal como fazem as abelhas, não nos trará resultados positivos, tampouco nos levará à equidade entre os gêneros. É um tiro no pé! Para rompermos a problemática é preciso que encontremos aliadas em outras mulheres, e tratando-se de liderança, é preciso entender que, independentemente do gênero, o papel do gestor consiste em desenvolver outros gestores.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduada em Gestão Empresarial, estudante de Direito e mestranda em Economia, além de feminista e militante dos Direitos Humanos.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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