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Opinião

Mais um melancólico 1º de maio

Alguns momentos importantes oferecem referências para pensar e tentar compreender o período atual.

Edson Miranda

Publicado

em

Mais um melancólico 1º de maio
Foto: Reprodução

Diante de mais um 1º de maio igual a tantos outros e da tamanha complexidade da atual conjuntura que vivemos no Brasil e no mundo, fui pesquisar na História alguns momentos importantes que nos oferecem referências para pensar e tentar compreender o conturbado período atual.

Encontrei algumas referências em Walter Benjamin, pensador alemão que viveu um desses momentos históricos e, assim, terminou por produzir uma importante literatura sobre os anos trágicos e decisivos vivenciados pela Alemanha e pela humanidade, no período entre guerras mundiais. 

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Benjamin, dado o seu protagonismo político e intelectual, terminou vitimado, durante sua tentativa de fuga da Alemanha nazista nos primeiros anos da década de 1930. Dentre a ampla e variada produção narrativa desse ensaísta e filósofo, o que garante uma diferença importante em relação a outros intelectuais da sua época e o torna atual até os dias de hoje, escolhi dois textos com os quais podemos dialogar nessa complexa empreitada.

Trata-se de “Teorias do Fascismo Alemão” e “Melancolia de Esquerda”, ambos escritos em 1930 e reunidos em “Obras Escolhidas”, volume I, lançado pela Brasiliense, em 2012.

Parto aqui do pressuposto, resguardados os devidos contextos e proporções, que atualmente possuímos um caldo cultural capaz de reproduzir, como farsa ou tragédia, ou como ambos ao mesmo tempo, um ambiente tão hostil, em termos de autoritarismo, superexploração e opressão, particularmente das camadas de trabalhadores, pobres e excluídos da sociedade brasileira, como aquele produzido nas sociedades italiana e alemã após o período de crises, nesta última, inclusive, da sua democracia representativa e semipresencial, denominada de República de Weimar.

Não se trata de o Brasil assumir ares imperialistas e começar a promover uma guerra de anexação dos seus vizinhos, evidente que não, e sim vivenciar um processo bem maior do que o que já vivemos, de opressão e superexploração, por conta do seu histórico patrimonialista e racista, recheado por um ideário autoritário, tanto à direita quanto à esquerda, evidentemente atualizado e ressignificado por nossas “instituições republicanas”. Estas estão também historicamente comprometidas com a defesa de interesses particulares e escusos e com uma forma sui generis e cruel de “administração do capitalismo” à moda brasileira: corrupto por natureza, constituído a partir de negociatas prévias, privilégios e compadrios.

Nesse sentido, me tremo de medo toda vez que ouço vozes autoritárias e fascistas falarem de guerra contra o que quer que seja, ou ainda de choque do progresso material, da restauração de uma falsa ordem interna, e, para coroar toda essa cantilena, se colocam na condição de verdadeiros defensores dos pobres, dos trabalhadores e dos oprimidos. A defesa dos pobres e oprimidos sempre foi um ativo importante para todo tipo de autoritarismo e totalitarismo. Depois de instalados, só o que vemos é mais sofrimento e cadáveres de pobres e dos não iguais sobre o mármore frio, o que nos faz acreditar que apenas no exercício e no aprofundamento da democracia e da República, plenas, conseguiremos dar conta desse gigantesco desafio brasileiro.

Do contrário, insistir no caminho até aqui percorrido de apostar nos mitos e salvadores da pátria, nas escolhas dos menos piores para evitar a armadilha dos piores, é manter intacta nossa histórica configuração de Poder, mais parecida com a “bolgia do inferno”, com a “República de Saló”, uma espécie de banditismo sem nenhuma ideologia, sem nenhum propósito construtor, uma horda destruidora, sem escrúpulos, composta apenas por aves de rapinas.

Voltemos a Benjamin. Não pretendo resenhar os seus textos, mas sugiro a leitura e posteriores debates por círculos de interessados. No primeiro texto, ele critica a apoteose da guerra, realizada pelos autores da coletânea “Guerra e Guerreiros”, ao formularem conceitos de guerras sem circunscrevê-los com qualquer ideia em particular, como o uso da técnica vai impactar nas guerras futuras. Algo que já enxergamos com muito mais clareza na atual guerra da Rússia contra a Ucrânia, uma espécie de Avant Premiere para um possível enfrentamento entre grandes potências.

O importante também nesse texto, além de toda a desconstrução do discurso fascista de culto à violência, são as possibilidades trazidas por Benjamin de construção, nesses momentos decisivos, de um outro discurso marcado pela experiência da paz, que muitas vezes encontramos numa criança, numa árvore ou ainda num animal, pelo manuseio da técnica não como um “fetiche para o declínio, mas, como chave para a felicidade” e pela necessidade de metamorfosear a guerra imperialista em luta emancipatória dos povos oprimidos. Algo bastante diferente do que vem fazendo a política externa brasileira e o próprio presidente da república em relação à guerra da Rússia, um país agressor, comandado por um fascista, autocrata cruel, com sonhos retrógrados, atômicos e imperialistas.

No segundo texto, Benjamin trata de um certo discurso de esquerda, travestido de radicalismos, que no caso se expressava na literatura da época, mas que, no nosso caso, podemos vê-lo, hoje em dia, verbalizado por lideranças governamentais, partidárias e sindicais, cuja “impertinência soa tão desproporcional às forças ideológicas e políticas de que dispõe”.

É Benjamin quem afirma: “a grotesca subestimação do adversário, que está na raiz das suas provocações, mostra até que ponto o posto ocupado por essa inteligência radical de esquerda está de antemão perdido. Ele tem pouco a ver com o movimento operário”. 

Os sinais dessa melancolia atual já aparecem em cascatas. Eles se manifestam na incapacidade de mobilização da classe trabalhadora; na corrosão de valores caros à esquerda; nas opções políticas e eleitorais por alianças com condomínios de políticos velhacos, mantidos no poder apenas pelo uso exponencial do dinheiro público e pela instrumentalização das forças policiais e judiciárias. Também, no abandono de programas com potencial transformador, visando com isso a defesa de práticas e messias ultrapassados. 

Um outro sintoma alarmante dessa melancolia é a incapacidade, num momento tão crucial como esse, de articulação da luta global pela paz e em defesa da natureza. No Brasil, a esquerda optou pela seletividade e o uso meramente ideológico dessas lutas: continuam a clamar na defesa de ditaduras, alegando, no caso, uma assimétrica autodeterminação dos povos, em que ditadores, também melancólicos, metem as mãos pelas pernas, massacram seus povos, segmentos ou etnias importantes, tendo a violência como método político exclusivo.

Por tudo isso, percebo que a esquerda, nesse momento do século XXI, ressente sua melancolia do século passado, pensa e olha apenas para o próprio umbigo. É, sim, deveras preocupante!

Todo esse crescimento do fascismo é muito grave, mas minha maior preocupação no momento é como a esquerda vai sair deste pântano intelectual e moral em que se meteu no Brasil. A conjunção desses dois fatores conjunturais, afinal, crescimento do ideário fascista e a melancolia da Esquerda, a que Benjamin se referir como uma “singular variedade de desespero: a estupidez torturada”, pode, mais uma vez na história, nos levar para aventuras, normalmente, com desfechos trágicos.

 

Mais um melancólico 1º de maio

Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.

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