As Feiras de Saúde foram idealizadas no século passado com o objetivo de proporcionar a população de uma localidade, com ausência de serviços de saúde, ações educativas visando a educação em saúde com foco no estilo de vida das pessoas, nos hábitos saudáveis de vida, na boa alimentação e na realização de atividades físicas e culturais, em um ambiente informal, semelhante ao cenário de uma feira livre de mercadorias e serviços.
Eram promovidas por igrejas, escolas, clubes de serviços (Rotary, Lions e Maçonaria) e ofereciam serviços voltados para a promoção à saúde e prevenção de doenças, mas também ofertavam atividades culturais e sociais, com manifestações artísticas como música, teatro, dança, literatura e artesanato. As Feiras de Saúde eram espaços de convivência, lazer, troca de saberes e valorização da identidade local.
Atualmente, as Feiras de Saúde têm objetivos e finalidades diferentes daqueles que tinham originalmente. Elas são realizadas em localidades mais populosas e que possuem Unidade de Saúde, pois os seus promotores buscam visibilidade pública. Não é interessante realizar uma Feira de Saúde em uma localidade que não ofereça essa possibilidade. Outra mudança significativa foi a mudança do foco da promoção da saúde para a realização de consultas e exames.
Por exemplo: A Feira de Saúde que oferece, de forma indiscriminada, aferição da Pressão Arterial e Teste de Glicemia aos participantes, mostra claramente o seu equívoco. Vejamos:
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- A aferição de pressão arterial e glicemia capilar são procedimentos que exigem preparo prévio do paciente relacionado a repouso, jejum, ingestão de álcool, café e uso de tabaco, além de que o ambiente deve ser calmo, sem barulho e com temperatura agradável. As Feiras de Saúde, geralmente são realizadas em espaços abertos, e essas condições nem sempre são respeitadas, comprometendo a confiabilidade dos resultados.
- Estes procedimentos devem ser realizados por profissionais habilitados e capacitados, com equipamentos adequados e calibrados, seguindo a técnica e as normas de biossegurança. Nas Feiras de Saúdes, esses requisitos nem sempre são atendidos, o que coloca em risco a saúde dos participantes, inclusive, muitas vezes, profissionais que procuram uma colocação no mercado de trabalho, ou até mesmo estagiários trabalham nestes eventos.
- Após a aferição de pressão arterial e/ou da glicemia capilar o paciente deve ser orientado em relação a prevenção, diagnóstico e tratamento. No formato atual das Feiras de Saúde, essas ações nem sempre são realizadas, gerando ansiedade, confusão e desinformação nos participantes.
- Atualmente nas Feiras de Saúde ocorre uma distribuição de solicitações de exames e encaminhamentos para consultas com especialistas, de forma desnecessária, indo de encontro ao Código de Ética Médica que estabelece que o médico que solicita um exame, deve avaliar o resultado.
Um ponto negativo e nocivo das Feiras de Saúde é a falta de continuidade do cuidado. Isso ocorre porque as Feiras de Saúde são eventos pontuais, e os participantes geralmente não têm a oportunidade de encontrar novamente o profissional que os atendeu. Além disso, os promotores das Feiras de Saúde não costumam articular suas ações com as equipes das Unidades de Saúde existentes na localidade, o que fragmenta o cuidado.
Em conclusão, as Feiras de Saúde poderiam ser mais bem aproveitadas para ampliar o acesso da população aos serviços de saúde, promover a saúde e a prevenção de doenças, fortalecer o vínculo entre profissionais de saúde e comunidade, e promover a participação e o controle social nas políticas públicas de saúde. Para isso, é importante que as Feiras de Saúde sejam planejadas e executadas de forma intersetorial, envolvendo diversos setores da sociedade, como educação, cultura, esporte, lazer e assistência social.
Luiz Duplat é médico e subsecretário da Saúde de Camaçari.
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