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Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento

No Dia Internacional da Mulher Negra, o Destaque1 traz relatos de descoberta da negritude.

Elaine Sanoli

Publicado

em

Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento
Poetisas, estudantes, jornalistas e psicólogas, elas são múltiplas e reafirmam a importância da consciência racial. Fotos: Reprodução

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A cantora estadunidense Beyoncé é vista, hoje, como uma referência política de negritude para jovens garotas negras ao redor do globo. Há quem acredite que esse reconhecimento racial nem sempre foi dessa maneira. A sátira “o dia em que Beyoncé se tornou negra” é centrada na primeira apresentação da artista pautada na denúncia do racismo vivenciado pela população negra de seu país.

Seguindo essa lógica, para Beyoncé, tornar-se negra significa criar diálogos entre a sua arte e o contexto em que os seus semelhantes vivem. Para mulheres negras que vivem diariamente longe dos palcos e holofotes, o reconhecimento perpassa processos históricos importantes, como é o caso do Brasil.

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Historicamente, a população negra no Brasil foi inferiorizada para que fosse submetida à escravização. Para a escritora Neusa Santos Souza (1948-2008), autora do livro “Tornar-se Negro”, ainda que passado esse período, as estruturas sociais precisavam se manter, agora sob novas conformidades. Uma das concepções que passam a imperar no imaginário brasileiro é a valoração positiva a tudo que se refere ao branco e oposto ao negro.

O descobrir-se negro marca, então, a tomada de uma posição política, entender-se enquanto parcela da população que vivencia as mazelas de um racismo sórdido em essência. Somada a isso, a consciência do “ser mulher” e de tudo que implica a intersecção entre os recortes de gênero e raça para as mulheres negras.

Em meio às celebrações do 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, o Destaque1 conversou com mulheres negras sobre as nuances que envolvem esse processo de identificação tão particular.

Clara Pinto

“Eu sabia que não era branca, mas também não tinha de forma convicta que era negra, pois costumava ser chamada de morena”, comenta a influencer digital Clara Pinto, de 23 anos.

Para ela, o processo de descoberta racial se deu no período de transição da infância para adolescência. “A partir dos 15 anos, me aprofundei nos estudos e diálogos sobre negritude, sobre racismo, e soube, inclusive, que morena nem é cor. Assim, fui me compreendendo como uma pessoa negra definitivamente, pela minha estética e vivências”, relembra.

Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento

Clara Pinto, digital influencer. Foto: Reprodução

Em seu trabalho na internet, Clara atinge diversos públicos e se propõe a pautar as questões raciais, dado o seu alcance enquanto influenciadora de um público majoritariamente jovem.

“Parece óbvio, mas isso recai de forma pontual para mim, pois entendo o meu papel de promover temáticas importantes”, constata a influencer. “É a partir da raça que se estabeleceu no Brasil o que é belo, inteligente, digno de poder, entre outros adjetivos. Portanto, em qualquer assunto que pensamos abordar, existe a possibilidade, e no meu ponto de vista, a obrigação de pontuar raça”, conclui.

A partir desse trabalho, Clara acredita que se fortalece ao passo em que colabora para levar o diálogo para mais pessoas.

“Não estou na internet para mostrar uma perfeição que não tenho. Divido o meu dia a dia, que é cheio de acertos, mas também de erros. Conto a minha história, que possui vitórias, mas também coleciona derrotas. Me abro enquanto uma mulher negra real, que encara adversidades e alegrias em sua caminhada, que estuda, trabalha, cuida de casa e cuida de si. Não de forma linear, mas com desejo de fazer o melhor por mim todos os dias. Acredito que esse seja o meu papel nas redes, e sigo o fazendo com muita dedicação e amor”, relata.

Eulina Vitória

Em um processo similar de autorreconhecimento, a estudante Eulina Vitória, de 23 anos, ressalta a importância da discussão dentro das esferas educacionais, como o pontapé inicial para o seu descobrimento.

“Com 16 anos eu tive a oportunidade de entrar no Ifba, de ser uma estudante de lá. Tive uma professora, Tatiana, de história, e ela levava muitos debates para a sala de aula, debates como feminismo, racismo. A partir da visão dela e a partir dos debates que ela proporcionava para a turma, eu comecei a me enxergar como mulher, como mulher preta e como o meu corpo era diferente das minhas amigas”, comenta.

Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento

Eulina Vitória, estudante. Foto: Reprodução

Para Eulina, o descobrimento político da sua negritude demarcou o início da conexão com a sua fé. Vindo de uma família de culto do candomblé, ela apenas passou a estar ativamente dentro da religião após a aceitação do seu cabelo natural e da sua figura enquanto mulher negra.

“A partir do momento que eu assumo minha negritude, assumo meu cabelo, eu assumo a minha religião. Então, a minha negritude, ela chegou de vez, porque eu sou uma mulher preta vinda de mulheres pretas, que são mulheres ancestrais, que cultuam o candomblé”, afirma a jovem.

Eulina acredita que a sua autoafirmação é um elemento importante para impulsionar o reconhecimento de outras mulheres. “O meu processo de afirmação é todo dia lembrar que, apesar de toda a sociedade me dizer o contrário, há beleza sim em mim, eu sou bela”, diz. 

Ouça:

 

Emile Lira

Já para a jornalista Emile Lira, de 30 anos, o processo de reconhecimento racial se deu ainda na infância. Desde esse período, ela carrega consigo, e de forma bastante expressiva em sua autoestima, as vivências que foram se construindo a partir da sua vivência enquanto mulher negra.

“Ser uma menina negra, especialmente na época em que fui criança, impacta diretamente na autoestima. É se sentir menos bonita, odiar traços de quem você é, querer ter a pele mais clara ou o cabelo mais liso. E todas essas marcas da infância nos acompanham, porque as mulheres negras são menos desejadas ou apenas vistas como um objeto, preteridas para relacionamentos; têm salários menores, o que impacta diretamente na autoestima também; são vistas como raivosas e reativas”, destaca.

Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento

Emile Lira, jornalista. Foto: Reprodução

“Ser uma mulher já é um desafio em uma sociedade patriarcal, onde muitas vezes homens levam o crédito por feitos de mulheres, são vistos como mais capazes e são menos responsabilizados pelos erros. A questão racial torna isso ainda pior”, considera ao comentar sua própria realidade.

Para ela, afirmar-se como negra envolve toda uma jornada de afirmação como mulher e profissional dentro do seu ambiente de trabalho, cotidianamente. “Enquanto mulher preta, vivencio isso em minha carreira, seja de forma sutil ou mais escancarada. Já teve espaços em que, enquanto jornalista, já fui rechaçada por não querer alisar o cabelo, por exemplo. Já sofri assédio moral de mulheres brancas, dentre outras vivências”, conta.

Se afirmar enquanto profissional na comunicação representa a possibilidade de ser uma referência para outras mulheres, para fazê-las enxergar que todo espaço pode ser ocupado por uma mulher negra.

O fato de exercer a profissão a qual escolhi já é, de certa forma, uma maneira de representatividade, especialmente em um lugar em que muitas vezes utilizo minha imagem ou sou referência para outras pessoas. O fato de ser uma mulher negra sempre vai me fazer ter este olhar para tudo que faço. Nossas vivências impactam em tudo, e no trabalho posso levar esse olhar, tentando ajudar a não perpetuar pensamentos que são frutos do racismo estrutural e do patriarcado”, pontua.

Aspectos psicológicos

Esse processo de descobrimento, apesar de semelhante, possui particularidades, visto que na configuração social brasileira, branco e preto representam “apenas” polos raciais opostos. Nesse sentido, como indica Neusa Santos Souza, “quanto maior a brancura, maiores as possibilidades de êxito e aceitação”.

Para a professora de psicologia Liliane Alves, de 38 anos, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), a valoração dos tons de pele configura uma das estratégias de atuação do racismo, para segregar a população negra da dimensão coletiva de sua existência e estabelecer margens para o mito da democracia racial. 

Ouça:

 

Não apenas o processo de descobrir-se negra é guiado por caminhos tortuosos. Entender-se como ser humano subjetivo é um dos enfrentamentos que as mulheres passam até a sua afirmação.

Liliane acredita que existe “uma dificuldade muito grande de condições de autocuidado para essas mulheres, porque quase sempre elas estão sobrecarregadas. Elas ainda ocupam um lugar do cuidado, uma mulher que precisa dar conta da dimensão da vida, do trabalho, dos filhos, do cuidado dos seus entes familiares mais velhos, a mulher que supostamente aguenta tudo”.

Essas demandas, geradas pela interseccionalidade das opressões vivenciadas por mulheres, impactam de forma significativa na sua autoestima. “Não adianta a gente falar em práticas de autocuidado, o que essas mulheres precisam fazer, que devem ter práticas de atividades físicas, fazer rotinas de skincare, quando a gente tem tanto a dimensão econômica, financeira, impactando na vida dessas mulheres, que impede que elas tenham acesso a esses bens, quanto a dimensão subjetiva, que coloca essas mulheres ora num lugar de subserviência, ora num lugar de fortaleza”, observa a psicóloga.

Para ela, construir uma autoestima sólida, que vá de encontro às bases estabelecidas pela sociedade brasileira, desde sua formação, é um processo diário, que nem sempre acontece de forma fluida. “Às vezes se dá de forma mais difícil e dolorosa, porque a gente vive situações cotidianas de violência, de desumanização. É um dia de cada vez. Afirmar-se, aqui, toma a dimensão da coletividade, no sentido de tornar possível a existência dos seus”.

Liliane acredita que, assim como suas ancestrais lutaram para que ela estivesse no local que ocupa hoje, também é preciso continuar na luta pela existência dos seus.

“Eu, como mãe de duas crianças negras, preciso continuar na luta para que a vida delas e a vida, talvez, aí, se tiverem filhos e netos, tenha mais garantia dos direitos”, acrescenta.

Apesar de todos os dilemas incluídos, essa consciência racial é vital para o processo de afirmação da autoestima dessas mulheres. A professora enxerga a descoberta da negritude como um dos primeiros passos para o fortalecimento da própria autoestima, além da possibilidade de criação de uma rede entre mulheres que possuem experiências similares, e a partir delas se apoiam em suas trajetórias.

Ouça:

 

Tornar-se negra: mulheres refletem sobre trajetória de identificação e autorreconhecimento

Liliane Alves, psicóloga e professora. Foto: Reprodução

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