Opinião
Título de Cidadão Camaçariense, por Igor Oliveira
Obviamente, ACM Neto passa bem longe das dificuldades dos que vivem a Camaçari real.

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Igor Oliveira
No dia 14 de junho de 2022, a Câmara de Vereadores de Camaçari concedeu o título de cidadão camaçariense a ACM Neto, uma indicação do presidente da Câmara, Júnior Borges.
Após o gesto, foi espalhada na cidade a imagem do presidente da Câmara e seu pré-candidato a governador com a seguinte legenda: “ACM [o Neto] é agora filho legítimo de Camaçari”, apesar de todos nós que vivemos e construímos a Camaçari real sabermos que isso não é verdade. Não passa de um manobrismo barato da velha política local, que segue ignorando o perfil eleitoral de 2022, marcado por manifestações que ocupam as ruas de todas as cidades brasileiras, diante de uma dramática crise humanitária no país.
Naturalmente, filhos de Camaçari não são apenas aqueles nascidos aqui, mas também trabalhadores e trabalhadoras bem-vindos de outras cidades da Bahia, e até mesmo de outros estados, em busca de oportunidades. Estes fazem a cidade acontecer, assim como, em sua grande maioria, compartilham com os nascidos diversos problemas estruturais que são parte do cotidiano no município. Obviamente, ACM Neto não se encaixa em nenhuma das opções acima, passando bem longe das dificuldades dos que vivem a Camaçari real.
E o que é essa Camaçari real? Ela é feita do povo em luta pela sobrevivência em meio a uma crise sem precedentes. Os filhos reais desta cidade pedem socorro, aceitando toda sorte de trabalho precário e mal pago, tratados como mercadoria barata e descartável. São eles que ainda fazem a roda da economia girar, os que têm pouco e ainda compartilham com quem nada tem, mães com seus filhos de colo entregues ao desespero, pedindo esmolas nas calçadas e filas de bancos, lotéricas, padarias. São esses(as) filhos(as) de Camaçari que diariamente são impedidos de entrar na Câmara de Vereadores, porque seus trajes, corpos e suor não combinam com a cidade inventada pelo senhor Júnior Borges e tantos outros déspotas que, antes dele, presidiram a Câmara Municipal de Vereadores. Talvez por isso, numa cidade majoritariamente negra/indígena, a imagem de tantos homens brancos tomou conta desta Casa no último dia 14 para recepcionar o postulante ao cargo de governador da Bahia, ACM.
Apesar do presidente da Câmara de Camaçari, esta cidade vivencia provas cabais de que hoje ACM e todo o projeto de poder que este representa nacionalmente refletem a corrosão da cidadania no Brasil, na Bahia e em nossa cidade.
O óbvio precisa ser dito. Não podemos esquecer o protagonismo e o empenho pessoal de ACM para eleger um genocida para a Presidência da República em 2018. O custo foi, até agora, de quase 700 mil vidas perdidas, entre as quais estão nossos amigos, parentes e vizinhos. Mas antes disso, em 2017, o DEM presidido por ACM indicou o projeto de lei e foi o grande articulador pela aprovação da reforma trabalhista no Congresso Nacional, com o argumento de retirar direitos trabalhistas e convencer a população de uma consequente superação do desemprego. Depois, em 2021, ACM, ainda presidente do DEM, partido que também presidia o Congresso Nacional, defendeu com radicalidade a reforma da previdência, garantindo novamente a superação do desemprego. O resultado dessas (des)reformas? Vimos a Ford e diversas empresas serem fechadas em nossa cidade e país, levando ao aumento do desemprego, derretimento da renda, a carestia generalizada dos preços a ponto de hoje termos 33 milhões de brasileiros passando fome. Hoje ACM segue como peça fundamental nas decisões do seu novo partido, o União Brasil, que no Congresso Nacional defende a privatização da Petrobras e Eletrobrás.
Voltando para Camaçari, em meio à luta do funcionalismo público por reajuste — porque a categoria é obrigada a ouvir os lamentos do prefeito Elinaldo (União Brasil) —, o município não tem dinheiro para garantir direitos mínimos, sabendo que há recursos derramados no financiamento da coleta de lixo entre as mais caras do Brasil (Naturalle), com fortes denúncias e indícios de corrupção. Somada a isso, a nomeação de 500 novos cargos comissionados. Detalhe: ambos os escândalos manobrados pelo núcleo político de ACM.
Apesar de o senhor Júnior Borges (União Brasil) e base aliada na Câmara Municipal aprovarem esse título, não há dúvidas de que a população de Camaçari sabe diferenciar CIDADÃO da velha política, que no momento suga suor e sangue do nosso povo. Felizmente a Camaçari decorativa vem perdendo espaço para as manifestações populares que explodem por todos os cantos, a fim de que necessidades básicas sejam atendidas diante de toda a incompetência política e ingerência administrativa do governo Elinaldo.
Nesse sentido, é mais importante para os setores locais que dão sustentação à campanha do ACM fazer o prefeito Elinaldo governar e garantir o mínimo de cidadania aos feirantes, que vêm sofrendo com a cobrança de impostos em meio à crise, aos servidores(as) e professores(as) com direitos básicos sendo negados, às mães que até hoje esperam pelas creches, estudantes e moradores sem transporte público que funcione de verdade.
A política, senhor Júnior Borges, atualmente se encontra fora do seu domínio institucional. Apequenar a Câmara de Vereadores a um mero salão de festas para recepcionar seu candidato e entregar um título artificial não é garantia de grandes mudanças eleitorais para seu grupo, que vem amargando sucessivas derrotas no estado da Bahia nos últimos 16 anos.
Assim sendo, vamos seguir atentos e fortes para não aceitarmos o presente como está, e muito menos o passado como foi.
Igor Oliveira é cientista social, professor da rede estadual, agitador do Quilombo Urbano, militante do movimento Negro, dos direitos humanos e presidente do PSOL em Camaçari.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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