Esporte
Pentacampeão paralímpico do futebol de cinco, candeiense Jefinho completa 15 anos de atuação com a verde e amarela
“Essa conquista teve um sabor muito especial por todas essas dificuldades que foram impostas e a gente conseguiu vencer”.
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Sonilton SantosNascido em Candeias, Jeferson da Conceição Gonçalves, o Jefinho, pentacampeão paralímpico com a Seleção Brasileira de Futebol de cinco (para cegos) nas Paralimpíadas de Tóquio 2020, está na sua cidade natal com a família, Agripina Gonçalves, mãe, seus irmãos, Jorge e Edjorge Gonçalves, e sua noiva, Dálete Santos, com quem se casará no fim deste ano. O candeiense contou para o Destaque1 a sua trajetória no esporte e um pouco sobre a sua história de vida.
Jefinho já nasceu com glaucoma, uma degradação do nervo óptico, normalmente associada ao aumento da pressão intraocular (pressão dentro do olho) após alguns meses de nascimento. Ele fez várias cirurgias ao longo da infância para tentar amenizar a situação, mas aos sete anos acabou perdendo a visão totalmente. “Lidar com a deficiência visual é um desafio diário, porque ser cego não é fácil, ainda mais no Brasil, devido a inúmeras barreiras que encontramos no dia a dia: acessibilidade, a maneira das pessoas tratarem as pessoas cegas de maneira correta, além do desafio comum de um ser humano. Pra mim que já nasci com a deficiência visual, me adaptar foi tranquilo, porque desde cedo eu já lidava com este mundo, lidava com a questão de ser cego”, explica.
Foi no Instituto de Cegos da Bahia (ICB), aos nove anos, que Jefinho começou a praticar esporte. Ele iniciou pela natação, depois praticou atletismo, participando, inclusive, de algumas competições, mas foi com o futebol de cinco que ele se identificou, até mesmo para realizar o sonho de ser jogador do esporte. O atleta também lembra com carinho os ensinamentos, incentivos e apoio dos professores e amigos. “A vontade em praticar o fute cinco veio mesmo graças ao funcionário Joaldo, que me ensinou as jogadas e o domínio da bola; professor Antônio Bahia, que é referência no mundo, na educação especial; o professor Jeferson Coutinho também, que foi meu treinador por muitos anos, e aos meus amigos, que viram esse potencial que já existia dentro de mim. Agradeço também a essas pessoas”.
Antes de chegar à seleção brasileira de futebol de cinco, Jefinho treinava desde os 12 anos. Aos 14, em 2003, participou de sua primeira competição, no Rio de Janeiro, no Campeonato Brasileiro Série B, quando foi eleito revelação do campeonato. Foi a partir daí que o candeiense chamou a atenção da seleção. “A comissão técnica da seleção na época já estava de olho nos atletas. Em 2004 eu fui chamado para uma vivência/experiência, reconhecimento de ambiente antes das Paralimpíadas de Atenas, fui chamado para conhecer os jogadores e ambiente. Aos 16 para os 17 anos, em 2006, que eu fui convocado para a minha primeira competição naquele ano na Copa do Mundo, em Bueno Aires, após um regional nordeste, que eu fui eleito melhor jogador e artilheiro da competição. Imediatamente eu fui chamado para a seleção brasileira, e desde aquele ano eu integro a seleção até hoje”, lembra.
São 15 anos de atuação pela seleção brasileira de futebol de cinco, onde começou como reserva, mas aos poucos foi conquistando o seu espaço. Hoje, é titular absoluto. “Passei anos como reserva da seleção, mas sempre dando a minha contribuição, mas a partir do momento que eu passei a me destacar mais, eu passei a jogar como titular”.
O camisa 7 acumula quatro títulos em quatro participações em Paralimpíadas: Jogos de Pequim 2008; Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020. Para além disso, Jefinho tem outras conquistas com a camisa verde e amarela. “Além do tetracampeonato nas Paralimpíadas, eu tenho três títulos mundiais com a seleção: 2010, onde fui eleito melhor jogador do mundo; 2014 e 2018, títulos mundiais também. Quatro títulos Parapan-Americanos: 2007 no Rio, 2011 em Guadalajara, 2015 em Toronto e 2019 em Lima. Duas Copas Américas, 2009 e 2013, ambas na Argentina. São os títulos oficiais com a seleção brasileira”.
Quem vê a alegria e a medalha de ouro do atleta não imagina as dificuldades e os adversários que ele teve de encarar, mas o maior obstáculo mesmo foi a pandemia de Covid-19, que atrapalhou muito os treinos. Com o cenário pandêmico, a equipe ficou um ano sem treinar com bola e seguiu com a preparação apenas dentro de casa, com todos os atletas isolados. “Voltamos aos treinos no início desse ano e foi uma correria muita grande para que voltássemos da melhor forma possível”, comenta. Como se não bastassem essas dificuldades, Jefinho passou por um susto que quase o tirou das Paralimpíadas. “Fiquei com um certo receio de não participar dessa Paralimpíada, porque eu vinha de uma cirurgia nos dois joelhos, mas a equipe médica foi muito boa. Então, essa conquista teve um sabor muito especial por todas essas dificuldades que foram impostas e a gente conseguiu vencer”, comemora.
Hoje, aos 31 anos, Jefinho vive do futebol, mas lembra que nem sempre foi assim. “Há 15 anos atrás a gente jogava por amor à camisa, não recebíamos nada, mas o cenário foi mudando a partir do momento que fomos conquistando resultados e medalhas”.
Ao longo de mais de uma década como atleta, o candeiense também aponta uma série de desafios para praticar a modalidade esportiva no Brasil. “A questão de renovação, devido à idade, porque a maioria dos atletas já tem 30 anos. Além da renovação, outra dificuldade é a questão de apoio, patrocínio por parte das empresas privadas”. Sobre a visibilidade dada pela mídia nacional na cobertura dos jogos de cinco nas Paralimpíadas, o atleta diz perceber um avanço. “Houve uma evolução muito grande, mas claro que não é a ideal, ainda não se compara ao que é o futebol no Brasil, o futebol convencional”.
Com o fim dos Jogos de Tóquio, Jefinho já se prepara e está de olho nas Paralimpíadas de Paris 2024. Inclusive, o paratleta confirma que essa será a sua última participação pela seleção, mas deve continuar atuando no futebol de clubes.
“Quero encerrar com mais uma medalha de ouro em Paris. Essa será a minha última competição pela seleção brasileira, porque o futebol de clubes ainda continua. Hoje em dia eu represento o Projeto Maestro da Bola, do pentacampeão Ricardinho, lá do Paraná. Mas na seleção brasileira, o pensamento é encerrar em Paris”, finaliza.
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