Opinião
O amor tem cor?, por Laiana França
A solidão da mulher negra, um olhar sobre Natália do BBB.
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Laiana FrançaA rejeição é uma experiência natural da vida, uma possibilidade para todos, e raramente encontraremos uma pessoa que nunca rejeitou ou foi rejeitada. Contudo, no caso das mulheres negras, a rejeição tende a ser maior e mais perversa.
No âmbito romântico, os desamores sofridos por elas não partem unicamente da falta de interesse, os motivos são mais profundos, naturalizados e financiados por uma cultura tradicionalmente racista. A construção identitária das negras no Brasil iniciou no período colonial, quando foram colocadas como criaturas que tinham como único objetivo servir, às sinhás nas tarefas das fazendas e aos senhores ao anoitecer.
As escravas tiveram a autonomia dos seus corpos retirada e sua autoestima dilacerada, a posição de servas fez com que acreditassem que não eram dignas do amor romântico, viveram com seus corpos objetificados, subjugados como ferramenta de trabalho e prazer, seus sentimentos e emoções foram ignorados, sua humanidade negada. A escravidão chegou ao fim em 1888, mas ainda são reais as heranças deixadas por ela.
O Brasil não mais escravocrata persiste como um território opressor às pretas, pois ainda é evidente a objetificação sexual do corpo negro. É estrutural, consolidado na base social que conhecemos e vivenciamos. O exemplo de Natália Deodato, participante do maior reality show televisivo brasileiro, evidencia que mulheres fora dos padrões sociais de aceitação são vistas apenas para “casos” e “ficadas” sigilosas, mas não cogitadas para relacionamentos, vínculos afetivos consistentes e para uma construção familiar.
O amor realmente não tem cor, mas são as negras que estão nas estatísticas de celibato e lideram com 63% a maternidade solo (2018, IBGE). São as maiores vítimas de feminicídios e relacionamentos abusivos. O abalo emocional apresentado por Natália representa inúmeras mulheres negras que tiveram suas expectativas alimentadas e logo após tiveram recusado o afeto, trocadas por uma mulher branca. A tristeza dela ilustrou em rede nacional o que carregamos sempre, o fato de que somos colocadas de lado e excluídas do amor.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduanda em Gestão Empresarial e estudante de Direito, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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