Opinião
No país da carteirada, do status e do familismo, Elinaldo é sinônimo de revolução
A política nacional seria muito melhor se tivéssemos mais Elinaldo’s.
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Lucas MorenoOntem Camaçari foi surpreendida. No ato de celebração da vinda de uma empresa pro estado, que só veio porque perdemos outra de maior porte, as autoridades federais e estaduais responsáveis por esse negócio duvidoso perfilaram-se para homenagear a si mesmas. Entre uma auto-homenagem e outra, o egoísmo dos caciques fez passar despercebido o anfitrião da festa que, eleito e reeleito com ampla maioria, criou as condições para tudo aquilo.
Discursou até o aspirante a prefeito da capital, que semana passada estava fazendo birra para discursar no evento da Ademi e colocando seus interesses eleitoreiros à frente da relação institucional entre Governo do Estado e o setor imobiliário. Mas do prefeito, que mudou a realidade de Camaçari, não se ouviu uma palavra sequer.
Sem surpresas, afinal, seu não reconhecimento é regra na sociedade brasileira, ainda atravessada tão dolorosamente por profundas desigualdades sociais e variadas formas de racismo. Tudo o que fizeram os caciques, que dizem lutar por Elinaldo’s, foi chancelar o silenciamento deliberado que faz com que Elinaldo seja a exceção e não a regra no estado mais negro do Brasil.
Mas ainda que lutem contra, é justo esse seu principal legado: mostrar que um preto sem ensino superior pode chegar ao topo da hierarquia política da quarta maior cidade da Bahia e lá ficar por dois mandatos. Mostrar que um engraxate pode olhar nos olhos de qualquer engravatado, seja ele político proselitista ou empresário vaidoso, e, em vez de ser tratado de cima para baixo, tratá-los de igual pra igual. Que um feirante sem sobrenome de família rica pode construir um projeto político vitorioso e não fazer da sua família a extensão dele.
A questão é que fez tudo isso sem a necessidade de invocar patrulhas e polarizações ideológicas. E é por esse motivo que tentam silenciá-lo: Elinaldo se tornou uma pedra no sapato para a esquerda. Seu espírito público subverte as narrativas rasteiras que tanto prejudicaram o país, ainda que delas pudesse obter ganhos políticos pessoais, oferecendo um caminho de moderação muito distante do separatismo raivoso que a esquerda oferece.
Em verdade, Elinaldo é uma aula diária de sabedoria e simplicidade. Aliás, no país da carteirada, do status e do familismo, Elinaldo é sinônimo de revolução. Daquela revolução democrática e civilizada que todo o Brasil precisa e que Camaçari, graças a seu povo, viveu por oito anos. Mas, como disse Maquiavel, é só quando escorrem as areias da ampulheta que se pode ver através dela claramente, ao que o tempo se encarregará de mostrar a todos que jamais passará pela Rua Francisco Drummond um líder como tal.
Errou também, é claro. Errou quando apostou alto em quem só queria se locupletar do poder; quando abriu portas para quem não era de casa; quando ajudou aqueles que lhe atiraram pelas costas. Mas seus erros, mesmo por virem do coração, são relativos apenas à frieza do cálculo político, nunca a omissões ou defeitos de caráter. Não se pode arrepender deles, pois não se pode envergonhar-se da honestidade e do humanismo, mas deve-se aprender com eles, e Elinaldo aprendeu e amadureceu com cada um de seus tropeços.
Este artigo é mais que um elogio – é uma recordação. Daqui a anos o mostrarei para meu filho com o orgulho de quem diz: sou eu. Fui eu quem serviu a este que tanto serviu a Camaçari. Este que andou de ponta a ponta do país, conhecendo diferentes práticas de gestão e diversos atores da política nacional, entendendo o jogo por dentro, convivendo com realidades distintas. E de tudo o que aprendi com ele, depois dele tanto aprender, pude confirmar uma tese: a política nacional seria muito melhor se tivéssemos mais Elinaldo’s.
Lucas Moreno é presidente Nacional do União Jovem do Brasil.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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