Política
Na assembleia da ONU, Bolsonaro afirma que país não vive mais casos de corrupção
O presidente também atacou o passaporte da vacina e voltou a defender o tratamento precoce.
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Camila São JoséO presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o primeiro chefe de estado a discursar na 76ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (21), conforme tradição, e afirmou que o Brasil não registra casos de corrupção desde 2019.
“Venho aqui mostrar um Brasil diferente daquilo mostrado nos jornais ou visto em televisões. O Brasil mudou e muito depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção”, declarou.
Entre os fatos mais recentes, Bolsonaro e sua família são o principal alvo da CPI da Covid. O clã é acusado de esquemas de corrupção para compra de vacina, aquisição de remédios sem comprovação científica, formação de “gabinete paralelo” para gerir a pandemia e financiamento de pesquisas com medicamentos ineficazes. O presidente também é acusado de interferência na Polícia Federal e ligação com milícias.
O presidente afirmou que o Brasil tem um líder que “respeita a Constituição”. A fala se contrapõe às declarações antidemocráticas feitas por ele, em ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em complemento, Jair Bolsonaro pontuou ainda que é um presidente que “valoriza a família e deve lealdade ao seu povo. E isso é muito, é uma história da base se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”.
Prestes a completar três anos do seu mandato, o presidente defendeu que o Brasil recuperou a sua imagem e credibilidade perante o mundo. “Apresento agora um novo Brasil, com sua credibilidade já recuperada diante do mundo”.
Ele citou as manifestações do 7 de setembro, classificando-as como protestos pacíficos e patrióticos, em defesa da democracia. No entanto, autoridades políticas e jurídicas classificaram o ato como golpista e antidemocrático, já que os manifestantes atacavam os demais poderes, pediam intervenção militar, a volta da ditadura e impeachment dos ministros do STF.
Segundo Bolsonaro, o país mudou desde que assumiu a cadeira no Palácio do Planalto. Em discurso sucinto, o presidente disse que o Brasil tem apresentado excelentes índices econômicos, com a geração de mais de 1 milhão de postos de trabalho. “O Brasil vive novos tempos. Na economia temos um dos melhores momentos para os emergentes”, falou.
No entanto, em agosto deste ano a inflação atingiu o seu maior percentual para o mês desde o ano 2000, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta da inflação foi puxada, principalmente, pelos valores dos combustíveis. O mercado financeiro prevê para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) um índice de 8,5%, a 24ª elevação consecutiva da projeção, como aponta estimativa do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central.
Em relação à geração de emprego, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, de janeiro a julho de 2021, 1.848.304 empregos foram criados no país. Conforme o órgão, nos sete primeiros meses deste ano foram 11.255.025 contratações e 9.406.721 demissões. Segundo o IBGE, no segundo trimestre deste ano, 14,4 milhões de brasileiros estavam desempregados e 87,7 milhões empregados.
Ainda no setor econômico, Bolsonaro voltou a atacar as medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores para conter a Covid-19 e disse que o governo federal teve que criar o auxílio emergencial por conta disso. O presidente falou que o auxílio concedido à população foi de US$ 800 (R$ 4.264, em valores atualizados com o dólar a R$ 5,33).
“Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo. No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020”.
O benefício foi criado em 2020, e no ano passado foi pago em cinco parcelas de R$ 600 ou R$ 1,2 mil para mães chefes de família monoparental, em seguida estendido até 31 de dezembro, com o pagamento em até quatro parcelas de R$ 300 ou R$ 600 (cada). Este ano, na nova rodada do auxílio emergencial, a concessão será durante sete meses, e o valor por parcela baixou, variando de R$ 150 a R$ 375, dependendo do perfil.
O discurso também tocou a questão da Amazônia e afirmou que houve “uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”. “Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta”.
No entanto, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) aponta que a área desmatada em agosto equivale a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte e é 7% maior do que a registrada no mesmo mês de 2020; em oito meses de 2021, a área devastada na floresta é 48% maior do que no mesmo período no ano passado. O Imazon confirma que agosto também foi o quinto mês deste ano em que o desmatamento atingiu a maior área da década, 1.606 km² de floresta destruída.
Único presidente do G20 que não se vacinou contra a Covid-19, Bolsonaro voltou a defender o tratamento precoce, o qual chamou de “tratamento inicial”, o uso de remédios que já tiveram sua ineficácia cientificamente comprovada contra o vírus e a contrariedade ao que chama de “passaporte sanitário”.
“Apoiamos a vacinação, contudo, o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina. Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off label. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”.
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