Música e poesia são ferramentas de resistência para Lara Nunes

A primeira vez que Lara Nunes Silva pisou nos palcos, com oito anos de idade em uma apresentação de coral em Mata de São João, ela não imaginava o que viria pela frente. Hoje, aos 22 anos, a estudante de Letras Vernáculas e Inglês da Universidade Federal da Bahia (UFBA) traça um caminho brilhante no cenário artístico baiano.

Natural de Camaçari, Lara cresceu em Mata de São João, e atualmente mora em Dias d’Ávila. Pisciana com lua em áries, foi criada em uma família de artistas e profissionais da palavra, o que explica sua paixão por esse universo. Atualmente ela é vocalista da banda KalunduH e integrante do Slam das Mulé.

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Este mês, Lara lança seu primeiro livro de poemas, “Amor é provocar sensações adversas“, publicado pela Editora Telha, com ilustrações do artista Léo Bispo e prefácio assinado por Mel Duarte, escritora, poeta e slammer paulistana.

Imagem: Editora Telha

Ela conta que o livro é um espelho de sua trajetória, já que possui poemas antigos e atuais, além de referências importantes.

“Parafraseando Rincon Sapiência, faço questão de colocar no meu texto que pretas e pretos estão se amando, faço questão de colocar no meu texto que pretos e pretas estão publicando, e estou aqui nessa posição de mulher negra, baiana, artista independente, publicando meu primeiro livro, que fala sobre amor”, enfatiza. 

Seja na poesia, na música, nas aulas de Língua Portuguesa, Redação e Inglês que ministra ou como mestre de cerimônia e curadora de eventos literários, Lara Nunes utiliza sua voz como ferramenta para amplificar questões essenciais na sociedade atual.

Lara Nunes em apresentação no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Foto: Renata Armelin

Ela relata que sua história com a poesia e a música começou ainda na infância, mas foi durante o ensino médio, no Instituto Federal da Bahia, campus Camaçari (IFBA-Camaçari), que ela se tornou consciente da escrita de poemas.

“Teve muito a ver com as aulas de Língua Portuguesa, com a fase de vida que eu estava, na adolescência, com efervescência de sentimentos e descobertas, e teve a ver com o meu envolvimento com o movimento estudantil, quando eu passo a conhecer os movimentos sociais, o movimento feminista, o movimento negro. Quando tive meu primeiro contato com esses movimentos, também tive contato com a poesia marginal, a poesia falada, e aquilo me encantou de uma forma que nada havia me encantado antes”, explica.

Em 2015, ela decidiu se apresentar em bares e saraus para divulgar seu nome como cantora e poeta profissional, mas foi através do Slam das Mulé, em 2018, que ela sentiu a grandeza de sua arte. Incentivada por amigas, começou a recitar poemas autorais e se tornou representante do Slam das Mulé na Bahia, conquistando o título de campeã baiana. Pouco depois, representou o estado em campeonatos nacionais de poesia falada.

Lara Nunes no campeonato Slam BR, em São Paulo. Foto: Reprodução

Embora a ideia da publicação de um livro já existisse, só foi concretizada durante o isolamento social causado pela pandemia da Covid-19. “Eu me vi em casa, com uma vivência completamente diferente do que eu tinha antes, e, para além da mudança de rotina, todo o medo, a tensão, de além de estar vivendo a crise da doença, a crise do governo, que tira qualquer pessoa do eixo. Diante de tudo isso, eu precisava fazer algo com a minha arte, já que o Slam parou, os ensaios da banda pararam, as aulas pararam, eu precisava me reconectar”.

Foi assim que surgiu o perfil no Instagram Feito Árvore [acesse aqui], espaço em que Lara passou a publicar seus escritos para entender se haveria público interessado em ler seu livro. Através da mensagem de um amigo, que disse: “você me provoca sensações adversas”, a ideia de um livro para falar sobre amor se concretizou na mente da artista.

 “É um grande marco na vida de um poeta, colocar um livro físico à venda, ter aquilo materializado, ter a sua obra impressa, disponível para as pessoas, e eu acredito muito no livro e no poder que ele possui”, destaca.

Lara enfatiza que o objetivo da obra é fazer aflorar nas pessoas o sentimento de merecimento do amor, de se amar, se perceber como alguém que merece ser amado.

Ouça:

“Estou muito feliz de estar dando mais esse passo, que é muito desafiador. A gente vive em um país que tá o tempo todo tentando destruir a nossa autoestima, as nossas ferramentas de educação, tentando acabar com qualquer oportunidade que a gente tenha de crescer, mas a gente segue resistindo. Minha família resistiu para que eu chegasse até aqui, e antes disso muitas das nossas ancestrais lutaram muito, guerrearam muito para que a caminhada ficasse mais fácil, pra que eu possa estar aqui”, enfatiza.

Ainda este ano, ela pretende lançar um single solo de MPB. Nas plataformas digitais, já é possível ouvir O Alvo Tem Cor, rap lançado pela artista em 2019 [ouça aqui]. Interessados em adquirir o livro “Amor é provocar sensações adversas” devem entrar em contato com Lara através do email poetalaranunes@gmail.com ou das redes sociais.