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Previsão do tempo para 2019 é de resistência e protesto
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Faustino MenezesBora lá. 2018 nos revelou inúmeros artistas foda lançando trampos que fizeram o ano valer a pena ao menos no campo musical e artístico. Como já passou o tempo disso, não vou fazer listinha de melhores do ano, até porque já tem disco de 2019 sendo lançado e o foco é neles.
Com a atual conjuntura política, avanço do fascismo, da extrema-direita, do ódio, preconceito e outras questões defendidas pelo atual presidente, o momento é de revolta e, a palavra do momento, RESISTÊNCIA.
Não sei se vocês ainda lembram (o brasileiro anda muito esquecido de nossa história ultimamente), o auge da música nacional foi na época mais tortuosa da nossa “democracia”: a ditadura militar iniciada em 1964. A Tropicália foi o grande levante artístico contra os regimes autoritários daquela época e embalam corações e mentes progressistas até hoje.
E já que o momento é de reviver, tá na hora dos nossos artistas buscarem este protagonismo de volta. Mas, engana-se quem pensa que isso virá da galera mainstream com carreira consolidada e estabilidade financeira. Infelizmente (ou felizmente, depende pra quem), o establishment artístico acomodou grandes mentores da classe musical brasileira e as eleições de 2018 mostrou bem isso.
Com exceção de alguns dinossauros como Caetano e Chico, a linha de frente do levante cultural contra o conservadorismo veio do underground, ou, ao menos, dos artistas independentes. E é deles que podemos esperar esta retomada política de parte da música nacional.
Em 2018 já conferimos alguns álbuns, mas principalmente singles de viés antifas (abreviação de antifascismo). E essa voz vem principalmente dos cantores e grupos de rap. São eles que tomaram a guerra pra si porque são eles os principais alvos da política direitista, elitista e conservadora que tomou o país de assalto.
São movimentos do gueto, da rua, liderado por negros, homossexuais, comunidade LGBTQ+, mulheres, nordestinos, etc. E é para eles que precisamos abrir os olhos.
Assim como eu falei que 2018 seria o ano do rap no Brasil, continuo achando que em 2019 o protagonismo deve ser deles. Até hoje nenhum trabalho soou mais relevante no país do que ‘O Menino Que Queria Ser Deus’, do mineiro Djonga, lançando no iniciozinho do ano passado. Ainda teve álbuns sensacionais, com letras marcantes de Marcelo D2, Diomedes Chinaski, Baco Exu do Blues, Filipe Ret, BK’, F.B.C., entre outros. Todos do hip-hop.
Falando em Diomedes, o pernambucano, que ascendeu de patamar no rap nacional após a parceria com o soteropolitano Baco em “Sulicídio”, lançou ainda durante a campanha eleitoral do ano passado o single “Disscanse em Paz”, onde ele destrói, literalmente, o então candidato Bolsonaro.
Em 2019, um outro álbum de rap já me chamou a atenção e mantém a qualidade estética e cultural do ano passado em vigor, que é o ‘Veterano’ do veterano Nego Gallo, ex-integrante do Costa a Costa, grupo de Fortaleza que revelou o monstro Don L para a cena brasileira e um dos principais da linha de frente contra o fascismo.
Ainda tem outras coisas a vir. Como álbum novo de Liniker, BaianaSystem, Vandal, Vivendo do Ócio, que podem aflorar ainda mais este momento de resistência e luta contra o autoritarismo. Claro que não ficará só nisso, esses são só os que já confirmaram lançamento para este ano. Tem muita coisa que pode surgir e é primordial ficarmos de olhos e ouvidos abertos a esses artistas sem tantos holofotes.
Antes de encerrar este texto, apesar da linha praticamente ser musical, toda essa sensação de levante político na arte se estende a outros segmentos, que já adotam essa postura de forma massiva há mais tempo, como o teatro, dança, cinema e artes plásticas, por exemplo. No Rio, produções com referências pesadas à ditadura foram censuradas e precisaram driblar isto para serem apresentadas ao público.
Depois de anos de supremacia de estilos como sertanejo, funk, funk ostentação, funk “lovesong”, com todo respeito a cada um desses estilos, acho que finalmente voltaremos a ter um tom de protesto mais liricamente afiado tomando conta da cena musical.
Ao menos, é o que indica o tempo; se vai chover, veremos.
Faustino Menezes, músico, produtor e ativista cultural. Escreve as quintas a cada duas semanas.
jornalismo@destaque1.com
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