Camaçari
Yara Sereia acusa Val Estilos de racismo e transfobia durante atendimento na Afab
Foi registrado boletim de ocorrência na 18ª Delegacia Territorial.
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Mirelle LimaA multiartista camaçariense Yara Sereia realizou nesta segunda-feira (24), através de publicação nas redes sociais, denúncia de racismo e transfobia contra o ex-vereador Val Estilos. Segundo ela, as ações ocorreram durante atendimento na Associação de Apoio à Família e ao Meio Ambiente (Afab). Ainda ontem, foi registrado boletim de ocorrência na 18ª Delegacia Territorial (DT).
Yara relata que procurou a instituição em busca de informações sobre a possibilidade de realizar o procedimento de orquiectomia. Em contato pelo WhatsApp, ela foi informada que o serviço seria oferecido, mas, ao chegar no local, foi dito que o procedimento não é realizado. Yara alega que, durante todo o atendimento, foi tratada pelo pronome masculino, mesmo após explicar que seu tratamento seria no feminino.
Em vídeo registrado por ela, Val Estilos tenta impedir a filmagem e diz “não faça isso comigo, não”. Logo após, se refere a ela como “meu querido”. Ela tenta corrigir, ao dizer “’meu querido’ não, ‘minha querida’”, e ele diz “não vou te chamar de querida, você é homem, não é mulher”.
Yara explica que a Afab havia confirmado a oferta do procedimento de orquiectomia e a cirurgia de redesignação sexual, e teria a orientado a ir presencialmente na instituição. “Eu vi uma postagem no grupo de benefícios das trans da cidade, que essa associação estava fazendo alguns procedimentos cirúrgicos, resolvendo algumas questões de saúde, e aí eu fui e mandei uma pergunta: ‘oi, bom dia, vocês fazem orquiectomia?’, que para quem não sabe é retirada dos testículos, que o meu interesse é fazer a cirurgia de redesignação sexual, mas como tá demorando muito, eu tô tentando de todas as formas, eu tô tentando de tudo que é jeito, e pelo menos a cirurgia de retirada dos testículos eu não preciso estar tomando altas dosagens de bloqueador de testosterona, que já venho nesse processo há seis anos, e isso está desgastando a minha saúde, eu estou sentindo isso. Aí ela disse que sim, achei estranho, mas fiquei feliz. Aí aproveitei e liguei pra saber se fazia ou dava encaminhamento para cirurgia de redesignação sexual. Aí ela falou: ‘venha aqui segunda-feira que a gente conversa’. Pois bem, fui e ainda divulguei pra mainha que tem vários outros procedimentos de saúde, mainha tava interessada, e fomos lá”, relata.
Ela destaca que percebeu a diferença no tratamento oferecida a ela e a outras pessoas que estavam sendo atendidas. “Quando chegou na sala com o dito cujo [Val Estilos], cheio de pessoas, tinham mais de dez pessoas, eu já estava preocupada, pensando: ‘a gente tem que chegar assim e falar, e se expor, mas o não eu já tenho, então vamos ver o que vai acontecer’. Meus amores, esse cara não olhou pra minha cara de jeito nenhum, ele atendeu todo mundo muito bem, quando pegava a ficha ele chamava pelo nome, ‘fulano de tal’ ou ‘fulana de tal’, porque teve homem atendido por ele também, muito bem, sempre conseguindo vagas para cirurgias, e eu dentro de mim assim: ‘não é possível, pra cirurgia de redesignação sexual não vai ter, eu vou torcer pelo menos pela orquiectomia’. Quando chegou na minha vez, ele nem falou meu nome, ele disse: ‘e você?’. Eu disse: ‘então, boa tarde, o meu é a CRS’, e ele: ‘você poderia me refrescar que tipo de cirurgia é essa?’, e eu: ‘cirurgia de redesignação sexual’. ‘Não, não tem isso aqui, não’. Eu disse: ‘então a orquiectomia’. ‘Também não tem essa, não’. A orquiectomia ele nem sabia, com toda certeza do mundo, ele nem sabia o que era, ele disse também: ‘não’. Eu disse que era a retirada dos testículos, e ele disse: ‘não, não tem’. Aí ele começou a conversar com outra moça se referindo a mim no masculino, como ‘ele’, e eu disse: ‘você tá falando de quem?’. ‘Tô falando de você’. ‘Então meu tratamento é no feminino’. ‘Tá bom, ela’”, conta.
“Eu tive muito constrangimento por estar no meio de todo mundo, e era um procedimento que não tinha nada a ver com o lugar. Eeu ficava me perguntando, ‘gente, o que que eu tô fazendo aqui?’, mas mesmo assim não fazia eu passar por transfobia por causa disso. Ele deu a ênfase no ‘ela’, e depois, quando voltou a conversar com a moça de novo, voltou a me tratar como ‘ele’. Eu falando: ‘moço, meu tratamento é no feminino’. Aí ele disse: ‘tira ele daqui’, e aí eu peguei meu celular e fui gravar. Quando eu fui gravar, ele veio pra tentar abafar o celular”, pontua.
Ao Destaque1, Val Estilos falou sobre o ocorrido. “Não fiz nada demais, apenas chamei aquela criatura de ‘ele’, somente isso”.
A Afab também divulgou uma nota sobre a situação. “Todas as pessoas que buscam a fundação são acolhidas, atendidas e orientadas a partir das demandas que apresentam. Sendo assim, vale informar também que a nossa fundação, assim como outras instituições, possui limitações. No que diz respeito aos nossos serviços e atendimentos, nos foi solicitado apoio para a realização da cirurgia de designação sexual, popularmente conhecida como cirurgia para troca de sexo, e nós informamos que não dispomos de convênio e parceria para atender a essa solicitação. Diante do exposto, houve uma insatisfação que culminou em acusações levianas a respeito da Afab. Reiteramos o nosso respeito a todas as orientações sexuais e identidade de gênero. Estamos aqui para servir a todos sem discriminações e acepção de pessoas”.
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