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Um ano de pandemia e os desafios da educação: professores relatam rotina de ensino remoto
Com a distância dos alunos e a necessidade do distanciamento e isolamento sociais, a tecnologia se tornou a maior aliada.
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Camila São JoséDe repente a sala de aula se transformou em tela, a casa em local de trabalho, o contato físico e a troca diária já não eram possíveis e a dinâmica de aprendizagem precisou se reinventar, pois tudo que até então fazia parte da rotina ficou bem diferente. Há mais de um ano, professores de escolas públicas e particulares, universidades e faculdades, cursos, tiveram que migrar para o universo digital por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Com a distância dos alunos e a necessidade do distanciamento e isolamento sociais, a tecnologia se tornou a maior aliada. Se há algo que pode definir esse momento, é a necessidade de adaptação e, por muitas vezes, a acentuação das desigualdades.
Professor de educação física do ensino fundamental II no Centro Educacional Maria Quitéria, localizado no Ponto Certo, em Camaçari, Leandro Duarte, 43 anos, se deparou com um cenário desafiador diante das exigências do ensino remoto emergencial. “Sem as aulas presenciais, fica difícil avaliar a aprendizagem construída no decorrer das aulas. Outro fator importante é a dificuldade de estabelecer relações pedagógicas sem as atividades presenciais, tão importantes no aspecto afetivo”, diz.
Além da falta de contato, Duarte comenta o fato de ter que lidar com questões que ultrapassam a educação e que, de certa forma, começaram a integrar a rotina das aulas. Ele relata a necessidade de levar em consideração o emocional dos estudantes, que sofrem os impactos da suspensão das aulas presenciais, e conta que ouviu muitos relatos de ansiedade, depressão e outros transtornos gerados pela mudança de vida dos alunos.
O medo, certamente, é um sentimento comum a quase todos os educadores. Para o professor Leandro, “medo por conta da dificuldade de avaliar as aprendizagens significativas”, e para a professora Leidiane da Conceição Nascimento, 32 anos, o medo se transformou em questionamentos: “será que as crianças vão conseguir acompanhar as aulas online? Será que terei o apoio da família nessa caminhada?”.
Nascimento é professora do 1º ano do ensino fundamental na Escola Soma, em Vila de Abrantes. “Trabalhar nesse último ano pra mim foi muito desafiador. Precisei me reinventar para acompanhar o novo modelo de ensino diante do momento em que estamos vivendo”, relata.
“Várias coisas mudaram na minha rotina, mas o que de fato mudou muito foi o horário para parar de trabalhar. A demanda de trabalho aumentou e com isso minha rotina de trabalho se tornou ainda mais exausta”, completa.
A professora conta que aprender a usar as ferramentas digitais, a falta de habilidade, problemas técnicos, resistência de algumas famílias em relação ao modelo de organização adotado e o desenvolvimento do trabalho com crianças especiais estão entre os principais desafios dentro do ensino remoto.
“Mas, para minha surpresa, a adaptação das crianças ao novo modelo de ensino foi ótima, as famílias estiveram firmes comigo, e juntos conseguimos vencer o ano de 2020 com muito sucesso”.
Leandro Duarte destaca que lidar com as ferramentas tecnológicas muitas vezes exige tarefas simultâneas ou multitarefas. E como aplicar a prática da educação física? O professor explica que aborda a parte teórica da matéria, com conhecimentos sobre o corpo e as orientações referentes às diversas práticas corporais. Para solidificar a aprendizagem, ele criou o blog “Educação Física: Agir e Pensar”, com dicas de exercícios e conteúdo complementar.
Para ele, as tecnologias da informação são um “divisor de águas para a educação, as tecnologias educacionais chegaram para ficar”.
“Nós, professores, nos adaptamos bem às novidades, como a ideia da sala de aula invertida. Os conteúdos são trabalhados, sim, mas o objetivo é o desenvolvimento de habilidades e competências de acordo com a BNCC [Base Nacional Comum Curricular]”, complementa.
Este ano, a rede estadual de ensino passou a contar com um canal de televisão, o Educa Bahia, que conta com aulas gravadas pelos professores transmitidas aos alunos pelo YouTube e, também, ao lado do canal da TVE, alterando os aparelhos do final .1 para o final .2. Em Salvador e Região Metropolitana, o Educa Bahia é o canal 10.2. Em Camaçari, o canal está disponível na frequência 22.2 da TV Litorânea.
Para Leidiane, mesmo tendo se habituado ao novo espaço e modelo de trabalho, ainda existem limitações. “Me sinto impossibilitada de realizar algumas intervenções que uma turma do 1º ano necessita”. Neste período, além dos aplicativos que permitem os encontros online, ela recorreu ao uso de vídeos, slides, músicas, compartilhamento de imagens e muita criatividade, “o que acaba facilitando a entrega do meu conteúdo para a turma”.
O ano letivo de 2021 começou, e ainda não é possível voltar ao modo de ensino anterior. Como destaca a professora, ainda é preciso olhar para a classe dos educadores com maior cuidado e valorização.
A pressão para o retorno das atividades presenciais ainda é grande, mesmo com o atual momento agudo da pandemia, com o aumento do número de casos e alta taxa de ocupação dos leitos. Pedidos para a inclusão dos professores e demais funcionários de instituições de ensino no grupo prioritário da vacinação logo nesta primeira fase não faltam. O que resta é aguardar e continuar se reinventando diante do novo normal.
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