Política
Retomada das aulas presenciais em Camaçari divide opiniões entre profissionais da educação e da saúde
O tema foi discutido em audiência pública realizada na Câmara Municipal.
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Mirelle LimaA retomada das aulas presenciais em Camaçari foi tema de audiência pública realizada na Câmara Municipal nesta quinta-feira (6). Na ocasião, especialistas da educação e da saúde debateram sobre o assunto através da exposição de dados e vivências. A audiência foi proposta pelo presidente da Casa Legislativa, Júnior Borges (DEM), e pelo vice-presidente Dilson Magalhães Jr. (PSDB).
A pneumologista pediátrica Paula Tannus apresentou dados sobre a relação entre o vírus e as crianças, e afirmou que o isolamento tem causado diversos impactos na saúde mental dos estudantes. “Hoje nós podemos afirmar que as crianças são menos suscetíveis ao Covid-19, as chances de pegar são menores, transmitem menos e as mortes são raras”. De acordo com ela, é necessário que haja protocolos de segurança, um retorno gradual, opcional, respeitando a decisão dos pais, e com ensino híbrido. “Não podemos deixar que aquelas pessoas que querem e podem voltar para as escolas sejam impedidas”, declarou a especialista.
Por outro lado, o coordenador da Associação dos Professores Licenciados do Brasil – Seção Bahia (APLB-BA) em Camaçari, José Miriam, afirmou que a maioria dos professores defende que só haja retomada das aulas presenciais com o ciclo de imunização completo para os profissionais da educação. “Aula presencial só depois da segunda dose da vacina, porque fizemos uma consulta com professores na Bahia e mais de 95% deles estão de acordo com essa posição, de retornar apenas quando todos os profissionais da educação estiverem vacinados com as duas doses”, contou. “Não é o momento de pensar em retorno presencial, é o momento de investir nas ferramentas necessárias para manter o ensino remoto”.
A presidente do Sindicato de Professores da Rede Pública Municipal de Camaçari (Sispec), Márcia Novaes, relatou as dificuldades dos trabalhadores da educação durante a pandemia. “Nós não nos sentimos orgulhosos de ser chamados de herói, porque quando nos chamam de heróis é porque estamos fazendo o impossível para conseguir trabalhar, e não estamos tendo os instrumentos necessários”, destacou.
Para o representante da Associação dos Profissionais da Educação da Rede Pública Municipal de Camaçari (Aspec), Joelmir Lima, é preciso avaliar as particularidades de cada escola, sem generalizar o cenário. “Nós queremos estar com nossos alunos, isso é o que dá sentido às nossas vidas, mas a gente quer estar com segurança. Se no dia a dia muitos insumos básicos, como água e comida, faltam, em um contexto pandêmico, onde é preciso ter protocolos rígidos, como isso vai ser?”, indagou.
A secretária da Educação de Camaçari, Neurilene Martins, garantiu que o governo municipal possui a preparação necessária para o retorno das aulas presenciais. “Nós estamos garantindo a vocês que estamos com tudo pronto, temos os itens, temos as instruções, não vamos seguir decretos dos outros munícipios, vamos seguir as nossas determinações. Já vacinamos 80% dos profissionais da educação, e temos que discutir com sindicatos, com associações, conselhos e famílias para preparar a retomada. O ensino remoto é emergencial, temporário e incompleto, então precisamos conversar, temos que nos atentar para que a gente não demore”.
O secretário da Saúde de Camaçari, Elias Natan, informou sobre o cenário da pandemia no município, que atualmente possui 70% dos leitos para Covid-19 ocupados. “Não vou dizer que estamos em um momento confortável, mas já estivemos em um momento pior”. Para o gestor da Sesau, é preciso unificar os pensamentos da educação e da saúde para uma solução comum. “A pessoa precisa estar segura, vacinada, e precisa estar confortável de que o ambiente de trabalho dela também está seguro. Existe a preocupação com a saúde e com a educação, temos que unir esses dois e chegar a um consenso. É possível criar um ambiente com trabalhadores vacinados, local seguro e boas ferramentas de ensino”, enfatizou.
A professora Sara Santiago relatou que, apesar da porcentagem baixa do contágio entre crianças, não sente segurança em retomar as aulas presenciais. “O percentual de contágio entre crianças é baixo, mas, quando esse 0,3% de contágio se torna uma pessoa da minha família, se torna 100%. Precisamos entender que esses números são vidas, e não podemos perder mais vidas”, ressaltou.
O professor da rede privada Kaique Ara destacou que, apesar da pressão do ensino remoto, é essencial preservar a vida de alunos e professores. “Muitos profissionais estão adoecidos pela pressão que é ensinar com todas as dificuldades neste momento. Falar em volta às aulas neste momento é muito delicado, temos que lembrar que educação se faz com amor, e amor neste momento é a prevenção de vidas, é o cuidado com as pessoas. Eu vou continuar sofrendo a pressão do estudo remoto, e eu prefiro isto do que ir para a sala de aula e lamentar a morte de professores e alunos”, disse.
A vereadora Professora Angélica (PP) declarou que não concorda com a retomada de aulas presenciais neste momento, apesar das perdas econômicas. “Eu sou dona de escola particular e sinto pelo que está acontecendo, mas o mais importante para nós são as vidas. As escolas municipais e estaduais não estão prontas para receber os nossos alunos, estamos lidando com vidas, precisamos que todos os professores estejam vacinados, que os alunos estejam seguros”, afirmou.
Para o vereador Tagner Cerqueira (PT), é preciso acelerar o processo de vacinação para os profissionais das escolas. “Todos os professores querem voltar para a sala de aula, mas eles também não querem morrer de Covid-19, não podemos colocar tantas famílias em risco, temos que priorizar a vacina no braço das merendeiras, dos vigilantes, dos colaboradores da limpeza e professores”, destacou.
O vice-presidente da Câmara Municipal, Dilson Magalhães Jr. (PSDB), ressaltou a importância de inserir a educação nas atividades essenciais. “Precisamos falar que fazer da educação atividade essencial não significa abrir ou fechar escolas, mas sim priorizar aquilo que precisa ser priorizado, estabelecer prazos e evitar que mais estabelecimentos escolares sejam fechados. É, sobretudo, valorizar os trabalhadores da educação e suas famílias, e garantir sua saúde”, ressaltou.
Na avaliação do presidente da Casa Legislativa, Júnior Borges (DEM), a audiência foi essencial para entender todas as partes que seriam afetadas com a volta às aulas presenciais. O político afirmou que a educação é uma atividade fundamental, garantida pela Constituição, e que os profissionais devem ser vacinados contra a Covid-19.
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