Leão lança ACM Neto em Camaçari: atitude colonizadora ou desejo de ‘enterrar’ o aliado?

O deputado federal e ex-vice-governador João Leão é um dos personagens folclóricos da política baiana, inegavelmente.

Inegavelmente, também é um político de talento, com estilo próprio, articulado, que durante mais de uma década foi figura-polo da política baiana. Tem muitos méritos, experiência e, por isso, merece respeito. Ocorre, porém, que, mesmo com tantos predicados, precisamos reconhecer seu papel alegórico e bravateiro.

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Quando rompeu com o PT quase na boca da urna, sugeriu que Rui Costa só ganhou e “reganhou” para governador por sua causa. Depois, alardeou: “qualquer um dos nossos [da oposição ao PT na Bahia] ganha no primeiro turno”. Deu no que deu. Nos últimos dias, aumentando sua lista de anedotas, Leão “lançou” mais uma. Sugeriu ACM Neto como candidato à sucessão do prefeito Antônio Elinaldo, em Camaçari, quarta maior cidade do estado.

Das duas uma, ou Leão acha que o grupo que governa Camaçari não conseguiu projetar um nome verdadeiramente competitivo para a disputa eleitoral de 2024, ou o bonitão quer “ceifar” de vez a carreira de Neto, principal nome da oposição na Bahia, que até às vésperas da eleição presidencial era até lembrado como possível integrante das chapas presidenciais, tanto de Lula quanto de Bolsonaro.

Camaçari é um município importante, pujante, mas, mesmo assim, seria um retrocesso político pessoal o candidato a governador, principal líder da oposição na Bahia e ex-prefeito da capital, ir para a disputa de uma eleição municipal em uma cidade de médio porte. Em termos de carreira política, seria três passos atrás, ou um jeito mal-arranjado de abrir o caminho para a consolidação de uma nova liderança regional no campo oposicionista.

E tem mais: se candidato fosse em Camaçari, ACM Neto deveria, obviamente, contar com a possibilidade de perder a eleição, visto a força e tradição do PT na cidade do Polo Petroquímico, onde governou por três vezes consecutivas nos últimos 20 anos. Nesse caso, seria a “morte” política do ex-prefeito de Salvador. E olha que o governador Jerônimo Rodrigues está aparentemente empenhado em eleger o seu secretário de Relações Institucionais, Luiz Caetano, como prefeito de “Camaça City”. Ele teria, em um quadro assim, uma oportunidade em sequência de derrotar Neto mais uma vez.

O ex-governador João Leão provavelmente “lançou” ACM Neto em Camaçari sem combinar com ninguém. A fala dele foi deselegante com os prefeituráveis do grupo de Elinaldo; cada um deles, a seu modo, vem fazendo os seus movimentos. Por tabela, foi adicionalmente deselegante com o próprio Elinaldo, que de forma legítima tem o direito de ser o condutor e general do seu exército.

Leão foi ainda descortês com a sua correligionária, apoiadora e única representante do PP na Câmara de Vereadores, cujo bloco está na rua com a sua pré-candidatura à Prefeitura. Desconsiderou, valendo, a vereadora Professora Angélica.

O “bonitão” exagerou. Errou, e errou feio. A julgar pelos seus últimos prognósticos, lembrando que no ano passado afirmou que ACM Neto venceria de lavada a “eleição mais fácil de sua vida”, os seus aliados de Camaçari devem até estar preocupados com o pitaco do felino na sucessão camaçariense. Vamos pra frente!

Geraldo Honorato é jornalista, pós-graduado em Marketing Digital e em Comunicação e Política. É sócio-fundador da agência de publicidade PPÔ Comunicação.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.