Entrevistas
“Minha vontade é a mesma enquanto profissional da polícia, é fazer a diferença com coragem e ousadia”, demarca Dra. Thaís Siqueira
A delegada é pré-candidata a deputada federal pelo União Brasil.
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Camila São JoséNatural de Ilhéus e moradora de Camaçari há 20 anos, Thaís Siqueira do Rosário, a Dra. Thaís, colocou seu nome à disposição do União Brasil para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados nas eleições de outubro deste ano.
Bacharel em Direito, com pós-graduação em Direito Tributário, delegada da Polícia Civil da Bahia, Dra. Thaís Siqueira foi titular da 18ª Delegacia Territorial de Camaçari (DT) por oito anos, até abril deste ano, e antes disso esteve à frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do município até 2014. Além de Camaçari, nesses quase 19 anos de atuação policial prestou serviços em Amélia Rodrigues, Ibitiara, Lauro de Freitas, Salvador e Terra Nova.
Nesta entrevista ao Destaque1, a pré-candidata a deputada federal fala sobre as suas principais bandeiras, a segurança pública e o combate à violência contra mulher, aborda direitos trabalhistas dos policiais baianos, educação e saúde. Dra. Thaís ainda fala sobre articulação política e alianças para o período de pré-campanha e campanha.
Destaque1 – Nós te conhecemos enquanto delegada, titular da 18ª Delegacia Territorial e da Deam e agora pré-candidata a deputada federal. No entanto, primeiro quero saber: quem é Thaís Siqueira?
Dra. Thaís Siqueira – Thaís Siqueira é uma mulher de 44 anos, mãe de uma filha adolescente, esposa que cuida de tudo ao mesmo tempo, da casa, e que tem que dar conta também da profissão, que é ser delegada de polícia.
D1 – E o que te motiva na vida?
Dra. TS – A minha família. O que me inspira é a minha família. É a minha razão.
D1 – Como começou a sua carreira na polícia, como foi até a senhora virar delegada?
Dra. TS – É até engraçada essa história, porque eu acho que eu tinha uns 12 anos quando eu decidi ser delegada de polícia. Sempre gostei muito desse universo policial, e eu sempre fui mandona. Quer dizer, as pessoas que falam. Mas sempre fui muito mandona mesmo, sempre gostei de liderar, e aí aquilo me fascinava muito. Por ser mais uma profissão até mais masculina, e aquilo já dizia assim: por que tem que ser masculina? Quando eu falava para alguém assim: “ah, eu quero ser delegada de polícia”, e diziam: “delegada é coisa de homem”, e eu: “de homem? Não, eu vou ser, vou chegar e vou mostrar”. Então foi mais ou menos por aí. Eu estabeleci umas metas de entrar na faculdade com 18 anos, acabar com 22 e logo em seguida fazer o concurso, e tudo deu muito certo. Eu me formei e cinco meses depois abriu concurso para delegada. Eu fiz e foi até engraçado na época, porque meu pai não era muito a favor, achava que “ah, filha minha ser delegada”, e eu meio que “olha, é só pra ver como é, então eu vou fazer e não vou passar, é o primeiro concurso, só para adquirir experiência”, e passei. E graças a Deus já são quase 19 anos de carreira.
D1 – E como a política entrou na sua vida? Sempre foi um desejo ser candidata?
Dra. TS – A política já está na vida de todos nós, a gente acorda e dorme com ela. Desde que eu iniciei minha carreira na polícia, a política sempre rondou, mas eu tinha o foco naquele momento maior em dar prioridade à minha carreira na polícia. E achava também que tudo tem o seu momento, sua hora, o amadurecimento, preparo, então a política entrou na hora certa. Eu estou preparada, pronta, e acho que posso contribuir muito com o nosso estado.
D1 – E por que deputada federal?
Dra. TS – Eu, enquanto delegada de polícia, tem várias coisas que a gente sente uma certa angústia. E quais são as angústias? “Poxa, por que a redução da maioridade penal?”. Tem um menor ali e está matando, e aí você fala assim: é um ato infracional, ele vai ficar só “xis” tempo apreendido, e aquilo gerava algumas angústias, algumas situações relacionadas às nossas leis, e só sendo deputada federal que eu vou poder contribuir realmente nisso. Por isso a escolha.
D1 – Como se deu essa escolha pelo União Brasil e a aproximação política com ACM Neto e o prefeito Elinaldo Araújo?
Dra. TS – O momento que nós passamos hoje em nosso estado é bem sensível, principalmente com relação à minha área de segurança pública, é notório. E aí veio o convite do grupo do nosso futuro governador [ACM Neto], junto com o prefeito Elinaldo, onde foi me convidado a ter uma conversa com Neto, e lá ele falou, nós conversamos e ele disse que seria prioridade do governo dele realmente a segurança, que ele quer fazer diferente, e isso me deixou muito otimista, confiante, acreditei na proposta e achei que seria o partido que melhor me acolheria. E eu acho que escolhi certo.
D1 – A senhora tem uma vasta experiência com segurança pública. De que maneira pretende debater essa temática na sua campanha? O que acredita que os deputados federais podem fazer para ajudar a diminuir os índices de violência no Brasil?
Assista:
D1 – Além da questão salarial, o que mais de direito trabalhista da categoria será colocado em pauta?
Dra. TS – Eu penso em um piso nacional, acho que esse piso já tem algumas PECs em tramitação. Eu vou ser uma voz lá para poder lutar em prol desses profissionais. Você fala que a Bahia é a quinta maior economia do país, e aí é o último a nível de salário? Entende? Então, equiparar, fazer uma equiparação salarial dentro do nosso país. Já se tem até alguns projetos de alguns cargos, de poder ser juiz em um estado e poder fazer uma permuta com outro. Então, por que não, na hora que equiparar, o profissional de segurança também poder se deslocar e atuar em outros lugares? Eu acho que seria bem interessante.
D1 – Segundo o Atlas da Violência 2021, o alto índice de mortes violentas afeta diretamente a qualidade de vida na Bahia, e o estado apresenta uma das maiores taxas de mortalidade violenta juvenil. A segurança pública tem sido alvo de crítica constante de ACM Neto, pré-candidato do seu grupo político, que defende a valorização dos policiais, estruturação das tropas e uso de tecnologia. Como solução, o governador Rui Costa (PT) tem anunciado a compra de armamentos, concurso público e aquisição de viaturas. A senhora acredita que esse é o caminho para combater os altos índices de violência no estado? Por onde começar para que isso seja reduzido?
Ouça:
D1 – Em Camaçari, por exemplo, onde a senhora esteve por oito anos à frente da 18ª Delegacia, o que precisa ser debatido e reestruturado?
Assista:
D1 – Outro ponto dentro deste tema é a violência contra a mulher. A pandemia contribuiu para o aumento dos casos, quando muitas vezes vítimas e agressores passaram a dividir o mesmo espaço por mais tempo. Camaçari conta com a Deam, da qual a senhora foi titular, com a Ronda Maria da Penha, o Centro Yolanda Pires e agora a recriação da Secretaria da Mulher. Como a senhora avalia este cenário na cidade, com relação aos índices e ao combate?
Assista:
D1 – A senhora acha que a questão da Lei Maria da Penha precisa ser mais rigorosa, o cumprimento da lei?
Dra. TS – A lei é muito boa, eu acho que ela está entre uma das melhores do mundo. O problema está na aplicabilidade, e é por isso que precisa se pensar em todo esse contexto. Aqui tem também a Vara de Violência Doméstica, que tem o Dr. Ricardo, que é um excelente juiz. Então, assim é requerida uma medida protetiva e em 24, 48 horas no máximo, está lá. Nós temos a Ronda Maria da Penha, que faz esse acompanhamento para todas aquelas que têm medidas protetivas. E já teve uma alteração na lei, que o descumprimento da medida protetiva, o próprio delegado já pode fazer o auto de prisão em flagrante por descumprimento. Então, como é que pode falar que essa lei está deixando a desejar? Ela não deixa. A lei é realmente diferenciada, agora falta a estrutura toda para que se tenha uma boa aplicabilidade.
D1 – A gente falou muito sobre segurança, que é onde a senhora tem larga experiência, mas quais outras bandeiras deseja levantar? Temos visto muito a discussão em torno da educação e da saúde, essas seriam umas das demandas?
Dra. TS – Com certeza. Não tem como não pensar na educação e na saúde, até porque eu sempre bati muito que segurança a gente precisa pensar para melhorar a médio e longo prazo. Hoje, do jeito que nós estamos, tem que ter uma atuação direta e rápida para tentar conter esses índices, mas se não for através da educação não vai. A gente tem hoje aí as mães, as mulheres, a maioria cria seus filhos sozinhas, que sustenta… tem que trabalhar e não tem como pagar uma pessoa para deixar o filho, a filha. Pronto, [o filho] vai para escola e quando volta fica ocioso, ociosa. Como a gente já sabe que toda a situação que o menor tem alguns “privilégios”, a gente fala privilégio porque ele não é alcançado, e aí o tráfico vem e “vamos cooptar”. E como é que faz essa cooptação? Está ali na rua, já mora, “olha, se você vir a polícia só avise. Você manda um ‘zap’ aqui e diga, ó, entrou a polícia aí”. Pronto, ali sem o jovem perceber ele já entrou e acabou. Então, o que a gente tem que fazer com esse jovem? Tentar ver ensino integral, de manhã estuda, à tarde é esporte e cultura. Tentar deixar esse jovem mais tempo dentro da unidade escolar, é capacitar, é dar oportunidade que eu, em várias prisões que eu fiz, eu ouvi: “doutora, não consegui emprego, não. Ninguém quer empregar, não”. Dar uma oportunidade ao jovem, porque qualquer área que você se forme, seja Direito… acho que menos Medicina, acho que Medicina é o único que a pessoa se forma, já tem trabalho pra onde ir, mas o resto a pessoa fala: “você tem que ter experiência”. Como é que tem experiência se não querem lhe deixar ter experiência? Tem que dar oportunidade, tem que ter disponibilizado um número de vagas para esses jovens. Então, eu acho que esse é o caminho: pela educação. A educação vai fazer a diferença, e tem muitas famílias que estão hoje transferindo a educação para a escola. Quem tem que ensinar, quem tem que educar é o professor e não é. A gente está falando de outro tipo de educação. Essa é de formação, mas lá a educação família, de base, de caráter, vem de casa. E aí precisamos ter essa preocupação enquanto pai, enquanto mãe. Acredito que o caminho é pensar em um contexto de família, de escola, de educação. Não adianta botar tudo, olha, vem o governador, a deputada, o prefeito, se cada um não fizer a sua parte.
D1 – E como trazer a família para esse debate?
Dra. TS – A família é o mais importante nisso tudo. Eu lembro e acredito que na minha época de criança qualquer coisa que acontecia de diferente meu pai e minha mãe no outro dia já eram chamados, já estavam lá. Precisamos trazer a família para o ambiente escolar, participar. Mas participar como? Eu vi algumas reportagens que me chamaram atenção, de escolas de interiores onde precisa fazer uma pintura na escola, os próprios pais se juntavam: “vamos melhorar a estrutura da escola dos nossos filhos”. Ter essa participação direta. Aí tem um pai ali, por exemplo, eu sou da área de segurança, fazer uma palestra para os jovens, falar de drogas; aí tem uma pessoa da área de saúde, uma enfermeira, um médico, vamos falar de educação sexual, principalmente para as meninas, porque tem muitas jovens que engravidam. Acho que para o homem isso não é tão complicado, mas para a menina, depois ter que voltar a estudar, tudo é mais difícil. Não é impossível, mas fica mais difícil. Então, é trazer literalmente, é fazer com que insira dentro do projeto escolar pedagógico do ano as atividades que a família tem que estar inserida. Eu acho que é de extrema importância.
D1 – E quais são as outras bandeiras para além da educação?
Ouça:
D1 – Agora, no campo da articulação política, para além de Camaçari, quais outras cidades tem percorrido, buscado alianças?
Dra. TS – Estou buscando aliança no estado. Onde tiver oportunidade de chegar Dra. Thaís vai chegar, nos 417 [municípios], se Deus me der a oportunidade. Mas tem, sim, algumas localidades que eu já tenho relações. Eu sou de Ilhéus, na região do sul da Bahia, então tem algumas cidades que são um polo para mim. Aí tem outro polo, que é a região do meu marido, ali em Miguel Calmon. É bastante pulverizado. Eu pretendo, sim, chegar em um maior número e pedir a Deus que me ilumine, porque a minha vontade é a mesma enquanto profissional dentro da polícia, é fazer a diferença com coragem, determinação, ousadia. São características minhas que eu vou levar pra qualquer área que eu venha a atuar.
D1 – Nessa caminhada, com quais nomes, pré-candidatos a deputado estadual, vai fazer dobradinha?
Dra. TS – Tem algumas pessoas já, mas assim, ainda eu vou conversar com o prefeito [Elinaldo Araújo], que é o líder aqui dentro do município, para poder alinhar com pessoas que venham realmente a somar e que tenham pensamentos parecidos, que a gente tem que ter essa linha. Tem muita gente boa aí, estou acreditando em uma renovação grande este ano na Câmara. Sinto nas pessoas uma vontade enorme de ver a coisa realmente acontecer, mudar, e por ser mãe, por ter uma filha adolescente, eu disse: agora é a hora. Porque esse é o país que eu quero viver, esse é o país que eu nasci e eu creio muito que dias melhores virão.
D1 – Para encerrar, gostaria que a senhora fizesse suas considerações finais e deixasse uma mensagem para os seus potenciais eleitores.
Assista:
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