Opinião
Acabou a Propaganda Eleitoral, até quando pagaremos para nos imbecilizar?, por Edson Miranda
Temos que adquirir cada vez mais consciência de que essa política brasileira não é feita por amadores ou para os coerentes.
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Edson MirandaFinalmente chegamos ao final da campanha eleitoral paga na televisão e no rádio. Sim, ela é paga pelos contribuintes brasileiros, apesar de afirmarem sua falsa gratuidade. Malandragem típica da política brasileira. Enfim, comemoremos, acabou provisoriamente esse tipo de sofrimento. Viva!
Assisti mais por dever de ofício, e, afirmo, é enlouquecedor. Nosso povo não merece tamanha loucura. Mas não tenho ilusões, é tudo de caso pensado, senão já teriam alterado muito da insensatez.
Pois é, temos que adquirir cada vez mais consciência de que essa política brasileira não é feita por amadores ou para os coerentes. Basta olhar a fauna que a habita.
A propaganda eleitoral, como disse, paga com nosso dinheiro, sai muito cara para a nossa sociedade. Não só porque é cara em termos de dinheiro, uma média de R$ 800 milhões — como não prestam contas, omitem, não sei precisar ao certo —, mas, principalmente, porque é uma verdadeira escola de infantilização e imbecilização do nosso povo. Pagamos caro para os partidos, os políticos e os marqueteiros imbecilizarem nosso povo.
Nesse caso, não adianta procurar escapatória. Enquanto perdurar esse tipo de comunicação política, caminhamos sempre para uma tragédia atrás da outra. Mesmo que começássemos a fazer tudo certo agora, levaria muito tempo para chegarmos a uma situação melhor. Porém, o mais trágico é que podemos ter chegado a um ponto de não retorno, depois de décadas dessa infantilização mental. Assim, nosso futuro como construtores de uma provável nação está comprometido, ou quem sabe até inviabilizado. Como já sabemos, e os exemplos abundam no mundo, não se constrói uma nação com um povo dominado mentalmente, adaptado à servidão.
Quer um exemplo prático do que afirmo aqui? Perceba na futebolização das mensagens, o time de fulano contra a seleção de beltrano. Claro, esse tipo de metáfora consegue se comunicar melhor com determinados segmentos sociais, porém repetidos por longos períodos, condiciona nosso povo ao analfabetismo político eterno, além de reforçar os estereótipos de violência e racismo que, infelizmente, ainda persistem no futebol: nós contra eles, nossa torcida organizada contra a deles, e por aí vai.
Um leitor nosso poderia afirmar: “é o preço que devemos pagar pela democracia”. Ao qual eu respondo: evidente que devemos pagar para termos um país democrático, com eleições periódicas, mas, mesmo rebaixando nosso conceito de democracia apenas ao direito de voto, o que não é, podemos afirmar que ela poderia entregar mais e melhor, haja vista o investimento que nossa sociedade realiza, tanto financeiro quanto político, e até sensível nessa nossa democracia. É como ocorre na confecção de um bolo para alimentar nossa família: podemos investir em uma pessoa que ao final nos entregue um bolo ruim e solado, como também podemos entregar os mesmos ingredientes e pagar o mesmo valor para uma outra que nos entregará um bolo saudável e gostoso, que vai saciar nosso estômago, e, certamente, alimentar também nosso cérebro e nosso espírito.
O mais difícil de acreditar é que a futebolização não é o pior aspecto. Temos situações bem piores e desesperançosas para nosso desejo de um país justo, verdadeiramente democrático e mentalmente emancipado. Nesse aspecto, é deplorável, deprimente, a guerra de narrativas, muitas dessas maniqueístas, com o único objetivo de colonizar corações e mentes, que ocorre na TV e no rádio, e mais comumente nas redes sociais. Nelas podemos perceber com maior desenvoltura as projeções das doenças psicológicas, da morbidez e da crueldade que as carregam.
Poderia aqui detalhar mais, mostrar mais exemplos dessa desastrosa “comunicação política”, a vigorosa indústria das fake, nossa entrada definitiva na era da pós-verdade, seus impactos, mas alongaria muito este artigo, estaria contrariando, e muito, as orientações atuais para escrituras nas redes.
O importante é frisar que vemos pessoas, aparentemente “conscientes” do ponto de vista político, se deixando arrastar por essa onda, empurrada de cima para baixo nas cabeças dos brasileiros. Mais uma vez pergunto: aonde iremos chegar com o atual comportamento político no Brasil? Responder a tal questão talvez seja o nosso maior desafio, pois é o que pode nos retirar do caos e do abismo. Nesse sentido, nunca é demais reafirmar o ditado popular: “não devemos tocar tambor para louco dançar”. A onda que estamos produzindo em algum momento vai nos atingir, atingir nossas cabeças ou, bem lá na frente, as cabeças de nossos filhos e netos. Ou não é correto que colhemos o que plantamos? Ou que o cipó de aroeira sempre volta?
Por fim, também nesta última semana da campanha eleitoral, os veículos de comunicação trazem informações sobre um outro possível assassinato por motivação política, mais um dentre outros que acontecerammem 2022. Na eleição de 2018, o assassinato do mestre Moa do Katendé, praticado por um bolsonarista, comoveu todo o Brasil. Já foi um sinal, mas somos atavicamente insensíveis aos sinais. Dessa vez, informam, foi um lulista que matou um bolsonarista em Santa Catarina.
Ouso afirmar que essa guerra está só começando. O mais correto é que nossa população mandasse os dois líderes políticos para o ostracismo, mas não é o que vai acontecer, muito pelo contrário, de alguma forma ainda sentimos prazer com guerras, gostamos ainda de ver “o sangue batendo nas canelas”. Afinal, somos ou não somos sapiens?
O ostracismo foi a forma que os gregos encontraram para reequilibrar o que denominaram de Agon. Como sua cultura adquiriu uma certa clareza de que a vida era uma luta sem fim e que, quando não controlada, os humanos perdem o pudor, a moral, e deixam o ódio fluir livremente, criaram a ideia de Agon, de uma disputa ordenada e justa. Ou seja, compreendiam a competição como uma maneira de guiar essas forças violentas para lugares adequados. Uma espécie de “um leito de um rio”, talvez seja uma metáfora adequada para simbolizar.
Vejo, de certa forma, nosso contrato social e nossas instituições republicanas como Agon das sociedades modernas. Por isso, devem funcionar de maneira muito justa e exemplar. Do contrário veremos a brutalidade prosperar, como fazem os rios quando têm suas margens diminuídas, represadas, por uma série de mecanismos que o ser humano incorporou na sua “racional” jornada de controle da Natureza, nesse caso, a externa.
Atualmente, acredito, dois candidatos, suas simples imagens políticas, inevitavelmente servem de combustível para essa guerra. Um porque não pode fugir do título de cleptocrata, e o outro do título de necropolítico. Isso por si só já é motivo de desavença, briga e até morte, numa simples conversa de bar, na praça ou em família.
Nesse sentido, precisamos retomar com vigor, nas ruas, como faziam os gregos na Ágora pública, não esperar pelos políticos tradicionais nas suas eternas negociatas de alcovas, a possibilidade de instauração do Agon brasileiro, da nossa República sempre adiada, antes que nosso país se precipite e afunde em mais uma barbárie. Temos esse dever histórico com nosso país e com as gerações atuais e futuras.
Pelo ensinamento grego, só existe um caminho: ostracismo neles, ostracismo para os dois contendores, guerreiros desleais que desequilibram o Agon, que inviabilizam nosso eterno sonho de uma República verdadeiramente democrática, que interditam nosso desejo de uma nação materialmente justa e espiritualmente livre, autônoma e emancipada.
Só seu voto e sua luta cotidiana e permanente podem erguer e cria a ideia de Agon brasileiro!
Avante, sem medo, com pensamento sempre altivo e emoção sempre sutil.
Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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