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O momento é nosso
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Faustino MenezesSei que parece (só parece?) que passou um tempinho desde o carnaval, mas eu preciso contar aqui o quanto este mexeu na minha percepção da música, principalmente baiana.
Decidi que só iria pra rolê alternativo no Pelourinho e não me arrependi nem um pouco. Pelo contrário. Eu fiquei de cara em quanto a nossa música tá vivona e respirando bem, obrigado.
Primeiro show que vi foi dos manos e mana da Afrocidade que lotaram o Largo do Pelourinho com seu poder afro e camaçariense. A banda nasceu para palcos como aquele. Poder, manos! Poder!
Desfilaram por quase duas horas o melhor de seu som enquanto a plateia parecia expurgar todos os seus demônios. Contemplação do que de melhor vem exportando a música da nossa cidade. É claro que Afrocidade já expandiu e hoje não se trata mais apenas de uma banda de Camaçari e isso precisa ser usado para elevar a cena – se isso não acontecer é um grande erro.
Completa, afinada, entrosada e delirante, Afrocidade já conquistou o coração de soteropolitanos e, por que não, do Brasil que adoram reverenciar a música produzida com o dendê e calor baiano. Nós somos auto suficientes e sabemos disso. Sabemos tanto que não medimos esforços para transmitir isso, seja no show, nas redes ou no boca a boca.
Para onde vou, onde toco, onde vou assistir alguém tocar, onde converso, alguém sempre conhece Afrocidade e se empolga ao ouvir dizer “pô, sou brother da galera, a gente praticamente começou junto”. E é a realidade. O sonho é um só, apesar dos caminhos serem paralelos.
E falando em sonho, imagina como deve estar a cabeça de uma camaçariense foda que não tá dando espaço para o ócio de jeito nenhum na carreira? Xênia França é um show à parte e nem precisa se esforçar para exibir isso. Ela é um verdadeiro espetáculo e me faz destilar orgulho por todos os poros ao ouvir cantá-la acompanhada de uma multidão “por que tu me chamas se não me conhece?”, verso forte e totalmente carregado de emoção, verdade e garra em sua música mais conhecida.
Fruto da Gleba E. Fruto da cidade industrial mais artística que se tem notícia pelas bandas do país Nordeste.
O movimento é massa, o momento é nosso!
Xênia, Luedji Luna e Larissa Luz abrilhantaram o carnaval de uma turma gigantesca fazendo um dos shows mais lindos que já vi ultimamente com o AyaBass. Sem palavras!
Indo um pouquinho distante, ali por baixo, em Ilhéus, tem um grupo que se você não conhece, precisa abrir uma aba agora mesmo e colocar pra tocar no seu fone de ouvido ou computador, seja lá como você está lendo isso agora. OQuadro fez a apresentação mais barril deste meu carnaval. Os caras foram poderosíssimos no palco da Tereza Batista no último dia do festejo momo. Uma tropa munida de uma das maiores potências grave e rimada desta terra jorge-amadesca. Mix de suor, fôlego e ritmo de uma das melhores bandas que existem neste universo musical baiano.
Eu sei que a ideia de uma coluna é mostrar com detalhes o conteúdo de um trabalho, neste caso cultural, mas não dá. Simplesmente. É preciso conhecer, acompanhar, estar atento e forte para o que tá rolando, chapa.
Aqui mesmo em Camaçari tem muita coisa rolando, você tá ligadx? É gente pra caramba mesmo…
Se você nunca ouviu falar de Ceno, o artista versátil do guetto, de Lara Nunes, d’As Mulé mais barril da cena, Bruxas Gang, Manute, Rivermann, você tá precisando aparecer mais na Praça Abrantes e NaLaje Multiespaço, redutos do que tem sido a resistência cultural desta cidade abandonada de gestão pública cultural.
É trabalhoso, mas tem saído coisas de muita qualidade daqui. Até falei dia desses sobre isso num podcast com uma gangue pesadíssima da cena (você pode ouvir aqui).
Vou deixar uma palinha do que eu tô falando aqui embaixo, pra vocês verem o quanto sou bonzinho:
E mais esta:
Ok, agora você abre seu Facebook e Instagram e procura os personagens da cena de sua cidade porque eles já estão precisando há muito tempo e o vento está soprando ao nosso favor. Bora levar nossa arte pra cima, irmãos e irmãs!
Nós precisamos sempre de vocês. E tem muita coisa ainda a rolar…
Com toda a licença ao irmão Ceno, encerro desta vez parafraseando-o: é família, vamos viver da música porque nós não estamos na Terra para ser sombra e nem nos contentamos com a sobra que querem nos dar.
Fé!
Faustino Menezes, músico, produtor e ativista cultural. Escreve as quintas a cada duas semanas.
jornalismo@destaque1.com
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