Camaçari
Aumento dos animais de rua é um dos reflexos da pandemia em Camaçari; protetores relatam dificuldades no trabalho
A alta do desemprego e a morte de tutores são apontadas como causas do agravamento do abandono de animais.
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Camila São JoséA pandemia de Covid-19 afetou diretamente a população e diversos setores, e com os animais não foi diferente. A morte de tutores, o aumento do desemprego e a consequente situação financeira são apontados como alguns dos motivos pelos quais o número de animais em situação de rua aumentou de maneira significativa em todo o país, incluindo Camaçari.
Após mais de um ano de pandemia de Covid-19, protetores de animais afirmam que a dificuldade em realizar os resgates tem sido cada vez maior. Os grupos de proteção animal em Camaçari sobrevivem apenas de doações e trabalho voluntário, e nenhum deles tem abrigo fixo. O resultado é que os animais resgatados ficam em lares temporários ou na casa dos próprios protetores até serem adotados, quando o são.
“Se o número de animais errantes já era grande, após um ano de pandemia tem sido devastador. Percebemos que o número de animais aumentou em média de 60% a 80%. Há vários motivos para um número tão grande, tutores de animais estão morrendo por causa do Covid, protetores também foram acometidos, alta do desemprego, pessoas irresponsáveis indo embora e não levam seus animais, fora os motivos que já eram habituais, como: ‘vou me mudar’, ‘vou morar em um lugar pequeno, não posso levar’, ‘estou grávida’, dentre tantos outros que contribuem diariamente para esse percentual”, relata Natália Vieira, fundadora do Grupo de Apoio e Proteção de Animais de Rua (Gapar).
A protetora e líder do grupo Arca-Resgate, Luciene Reis, conta que o percentual de abandono de animais em Camaçari sempre foi alto, mas que a pandemia agravou esse quadro, e é possível observar um aumento significativo do abandono tanto de animais sadios como de doentes.
“Com a pandemia houve muito desemprego. Muitas pessoas de baixa renda que tinham trabalhos autônomos, vendedores, pessoas que não tinham condição, muita gente está sem trabalhar. Então, com isso, aumentou o abandono. Os animais estão doentes, as pessoas não cuidam, não têm condição financeira e preferem abandonar”, completa ela.
Para Luciene Reis, um dos meios de reduzir esses índices, independentemente do período de pandemia de Covid-19, é a castração de animais. A protetora contabiliza que, a cada gata ou cadela castrada, são menos 10 animais na rua.
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É pelas redes sociais que o Gapar e Arca-Resgate pedem e conseguem ajuda com a doação de ração, consultas veterinárias a preços mais acessíveis, medicamentos e procedimentos cirúrgicos. Trabalhar com esse cenário é desafiador, como relatam as protetoras.
“No momento não estamos resgatando animais, não por falta de vontade, mas não temos infraestrutura, os protetores do grupo estão lotados, estamos passando por dificuldades financeiras, nossas doações diminuíram em média 70%, pessoas que eram nossos colaboradores estão desempregadas e passando por dificuldades. Apesar de todas as dificuldades, estamos fazendo o nosso melhor, diariamente vamos em busca de doações de rações e alimentos para doar para os protetores e pessoas que têm animais que estão passando por dificuldades. Entretanto, estamos longe de conseguir atender o número de pedidos que recebemos diariamente, estamos com o risco eminente de não conseguir ração para os nossos animais que temos a guarda. Todos os meses iniciamos uma luta contra o tempo e contra a crise atual para tentar arrecadar fundos”, conta Natália Vieira.
“Mantemos hoje o projeto Arca-Resgate com a ajuda de voluntários. Eu sou uma voluntária. Nós temos um grupo no zap com mais de 20 pessoas, que são voluntários, que correm atrás de ração, alimentação, doação financeira. A gente faz rifa, a gente faz quentinha, a gente tem o pix solidário, a gente faz de tudo para vender alguma coisa, divulgação constante nas redes sociais pedindo doação. É assim que a gente consegue pagar as consultas, os procedimentos veterinários, ração, medicamento, pagar a despesa do lugar, como água, luz, limpeza”, relata Luciene Reis.
Outra preocupação que ronda o grupo Arca-Resgate é a ordem de despejo para desocupação do lar temporário, situado na beira do Rio Camaçari, na Rua Maria Meire. O local deverá ser desocupado por conta da revitalização do rio. “Hoje lá nós estamos com quatro animais. Por causa dessa instabilidade de ter de sair e não ter para onde ir, nós paramos de resgatar”, fala.
Entre os principais desafios está a conscientização da população com relação aos animais, envolvendo os cidadãos e o poder público. “Nosso maior desafio e obstáculo é conscientizar as pessoas em relação aos animais, eles são seres sencientes, ou seja, sentem medo, fome, sede, frio, podem ficar com traumas psicológicos assim como nós. É preciso ter um olhar de pessoas sensíveis à causa. É acima de tudo uma questão de saúde pública, animais nas ruas elevam o número de zoonoses e podem ser vetores de transmissão de doenças. Vale lembrar que a culpa não é deles, não existe animais de rua, existe animais que foram parar nas ruas por irresponsabilidades de seus tutores e falta de políticas públicas para eles”, diz Vieira.
O trabalho do Gapar e do Arca-Resgate pode ser acompanhado pelas redes sociais, através das quais os interessados podem entrar em contato para doações.
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