Problemas com Transporte Universitário afetam estudantes de Camaçari

No dia 3 de junho, circularam nas redes sociais vídeos acerca de um problema mecânico em um ônibus que presta serviço ao Transporte Social, Técnico e Universitário (TSTU), ofertado pela Prefeitura de Camaçari, por meio da Secretaria de Serviços Públicos (Sesp) através da Coordenadoria do Transporte Universitário (CTU) do município.

Ônibus do transporte universitário, serviço ofertado pela Prefeitura de Camaçari. Foto: Patrick Abreu/Destaque1

Vistoria realizada pela Sesp após problemas mecânicos em ônibus. Foto: Tiago Pacheco

Na ocasião, o ônibus que opera os roteiros 13D e 13E, em direção à Unime de Lauro de Freitas, precisou parar no acostamento após soltar fumaça. Em relato, um estudante que não quis se identificar mencionou que, desde a saída do último ponto, na Avenida Jorge Amado, o transporte já apresentava som anormal e cheiro de fumaça.

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“O motorista parou no acostamento para verificar o que estava acontecendo. A fumaça aumentou, e o motorista pediu para que todos descessem do ônibus”, relatou um usuário do transporte. Em seguida, a empresa mandou outro veículo, que chegou em cerca de 15 minutos, para substituir e seguir a viagem com os estudantes.

Em entrevista ao Destaque1, o diretor da Diretoria de Ordem Pública (Dirop) da Sesp, Namuciés de Souza, revelou que houve uma vistoria para averiguar e esclarecer o ocorrido, que foi ocasionado pelo rompimento de uma mangueira do veículo.

Confira:

O transporte universitário surgiu através do decreto municipal n° 4716/2009, datado em 29 de janeiro de 2009. Ao longo dos 15 anos da implementação do serviço, os problemas com as condições dos ônibus foram surgindo, principalmente no que se refere à superlotação. Em nota, a Sesp revelou que neste primeiro semestre de 2024, cerca de 2.500 universitários estão cadastrados no serviço, que dispõe de 59 roteiros distribuídos entre sede e orla.

O estudante Marcelo Barreto, 31 anos, que atualmente cursa Rádio e TV, utilizou do serviço durante a primeira graduação, em Direito, entre 2012 e 2017, e afirma que, apesar da mudança de gestão, os problemas permanecem.

“Entra prefeito, sai prefeito, e não muda nada no transporte universitário”, frisou o estudante.

Caroline Rodrigues, estudante de Farmácia. Foto: Patrick Abreu/Destaque1

Casos constantes de atraso ou ausência dos ônibus têm afetado a trajetória acadêmica desses estudantes, a exemplo de Caroline Rodrigues, estudante de Farmácia que está no nono semestre e já foi prejudicada em avaliação. “Acabei tendo que fazer minha prova em 20 minutos, o que acarretou de eu ter que fazer a prova final, porque não tive tempo hábil de raciocínio”, contou.

Mas não é só a vida acadêmica que pode ser afetada. No caso de Auristela Conceição, 39 anos, que utilizou o serviço entre os anos de 2013 e 2018, o fato do roteiro não ter passado gerou prejuízos materiais.

“Fiquei no ponto até mais ou menos 19h, na esperança do transporte passar, pois tinha um trabalho para apresentar nesse dia. Não passou. Ao retornar para casa, fui assaltada”, lamentou.

Hanna Carvalho, estudante de Química. Foto: Patrick Abreu/Destaque1

Sobre a superlotação, os estudantes afirmam que a união de mais de um roteiro por veículo e a falta de ampliação na frota de ônibus podem ser o motivo. “Com o passar dos semestres, a quantidade de pessoas ingressando nas universidades foi aumentando, mas a Sesp não foi se adequando para a entrada de novos alunos. Eles mantiveram os ônibus, com aquelas quantidades de vagas limitadas”, disse Hanna Carvalho, 23 anos, estudante de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e usuária do serviço há cinco anos.

Ao ser questionado sobre os problemas, o diretor da Dirop comentou sobre a possibilidade da superlotação ser gerada pela demanda integral da Federal da Bahia.

Veja:

Mau cheiro e baratas, inexistência dos cintos de segurança, mau funcionamento do ar-condicionado e a aparência “antiga” dos veículos estão entre as críticas mais frequentes dos estudantes, além dos constantes problemas mecânicos, que fazem com que tenham que parar na estrada. “Muitos ônibus têm a qualidade muito ruim. Quando chove, tem goteira no ônibus. Já teve o caso, que é o mais absurdo que já aconteceu, de um ônibus que era muito velho e tinha barata dentro”, destaca Hanna.

José Carlos, estudante. Foto: Patrick Abreu/Destaque1

Sobre a higiene dos ônibus, o estudante José Carlos, 23 anos, que está no nono semestre do curso de Engenharia Mecânica, declarou que “nesse último semestre, está havendo muito problema com falta de dedetização: baratas no ônibus, ônibus fedendo com cheiro de mofo. Então tá sendo bem complicado pra gente”.

O diretor de Ordem Pública desconhece alguns desses problemas e revela que não há realização de vistorias diárias que atestem a qualidade dos ônibus.

Assista:

A Sesp disponibiliza servidores para atuarem como fiscais. Segundo os estudantes, são eles que fazem a checagem das carteirinhas e recebem algumas das reclamações dos estudantes. “Por vezes tratam como brincadeira. Dizem que vão resolver, mas não dão satisfação quando confronto novamente. Me sinto humilhada, não deveria ter que ver pessoas rindo das suas queixas”, relatou Lisa Araújo, de 22 anos, estudante do quinto semestre de Odontologia.

A ausência de um canal de comunicação eficiente com a Sesp também é vista como um problema entre os estudantes. De acordo com Namuciés, os estudantes têm acesso ao contato da Secretaria.

Confira: 

Entretanto, a estudante Hanna mostra uma outra realidade. “Tentamos ligar para o número da Sesp, passamos horas no telefone e ninguém atende”.

Em resposta às críticas, que vêm sendo registradas há anos, os estudantes se mobilizaram em um abaixo-assinado que chegou a render um total de 241 assinaturas, diversificadas entre estudantes de instituições públicas e privadas. Além disso, um dos estudantes protocolou uma denúncia ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) e alegou que “o serviço do transporte está precário e desorganizado”.

*Rodrigo Junior é estudante de Jornalismo da UFBA.

– Esta pauta foi selecionada através do Edital Jornalismo e Sociedade, e integra uma série de quatro reportagens exclusivas sobre Camaçari.