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Time de futebol utiliza esporte como ferramenta de mudança social em Camaçari
Juventus Esporte Clube, de Monte Gordo, realiza atividades esportivas e sociais com mais de 100 crianças e adolescentes.
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Clarice FrançaEm 3 de setembro de 2005, na localidade de Monte Gordo, em Camaçari, nascia a nova escolinha comunitária de futebol, o Juventus Esporte Clube. O fundador do time e treinador da época, Damásio do Espírito Santo, de 60 anos, explica a criação do projeto como resultado de uma inquietação por parte dos atletas que treinavam na escolinha Pingo de Ouro, que não se sentiam pertencentes ao clube ao alcançarem a maioridade, já que para eles o nome era “infantil demais”. Assim, a partir de diversas ideias de nomes, nasceu o Juventus Esporte Clube.
Após a fundação, o time iniciou sua participação em campeonatos do distrito. As competições eram organizadas pela Associação dos Clubes de Futebol de Monte Gordo e contavam com a participação de alguns pequenos times da localidade.
Assista:
Com o passar dos anos, já como uma instituição jurídica, o Juventus filiou-se à Liga de Futebol de Camaçari, onde teve a oportunidade de participar do Campeonato Municipal, disputou a divisão de base e foi consagrado campeão no Estádio Fernando Ferreira Lopes, em Camaçari.
Conforme contou Damásio, reestruturar o time e criar novas categorias também era sinônimo de oportunidade para os jovens que estavam inseridos em um cenário esportivo escasso no distrito de Camaçari. “Víamos muitos jovens jogando futebol, mas sem diretrizes ou instituições que pudessem levá-los para os campeonatos. Só com a criação do Juventus que eles tiveram a oportunidade de expandir e ter algo para almejar”, explicou.
Para o ex-atleta e um dos idealizadores do time, Wellton Rosa, de 38 anos, o Juventus foi um agente de formação fundamental. “O esporte só agregou na minha vida. Para a formação de um cidadão de bem o esporte é essencial”, destacou.
Veja:
Ação voluntária – de passe em passe
Assim como em uma partida de futebol todos os jogadores precisam trabalhar de forma harmônica, em um projeto social também não é diferente. Desde a fundação, em 2005, o Juventus sempre contou com voluntários, que na maioria das vezes eram pessoas da comunidade com disponibilidade para ajudar sem receber apoio financeiro.
Porém, para desenvolver um trabalho colaborativo com dezenas de crianças e jovens é necessário ter muita responsabilidade e compromisso, como destaca um dos técnicos do time, Valdir dos Santos, de 43 anos. “Tem que ter coração e fazer por querer. Não adianta só vir, tem que gostar do que faz”, ressalta.
Para o fundador do time, o maior desafio enfrentado é a falta de sensibilidade, seja pela comunidade ou pelas repartições. “O que falta é a sensibilidade pelo trabalho mesmo, em um país capitalista que nós vivemos. Para muitas pessoas o que vale é o ganhar [dinheiro]. Quando se trata de trabalho voluntário eu vejo que a dificuldade existe por falta de sensibilidade”, expõe.
Apesar das dificuldades enfrentadas no voluntariado, a escolinha apresenta um cenário democrático, onde é possível que atletas e professores troquem saberes, expandindo os aprendizados para além das quatro linhas do campo.
Para muitos atletas, o Juventus é o início da realização de um grande sonho. No Brasil, considerado popularmente como “o país do futebol”, crianças e jovens almejam jogar em grandes times, como é o caso do atleta Efraim Bispo, que com apenas 8 anos deseja jogar na Seleção Brasileira e conquistar uma Copa do Mundo. Infelizmente, esse não é o destino de todos os pequenos sonhadores.
Por isso, para a escolinha, é primordial que o jovem não seja apenas um ótimo atleta, mas que seja um bom cidadão, como destaca o técnico José Roberto da Silva, de 36 anos. “É muito legal estar contribuindo nessa parte social e saber que estamos ajudando um jovem da comunidade, filhos de colegas, e colaborando com a sociedade em si”, atesta com orgulho.
Confira:
A importância de projetos sociais – o 12º jogador
Diante de um cenário de desigualdade social e, em muitos casos, violento, os projetos sociais surgem como possíveis locais de inclusão e mudança na vida das pessoas. Em um time com 11 jogadores, os pais completam a parceria como a 12ª camisa.
Há quase 20 anos de criação, o Juventus funciona como uma das poucas instituições comunitárias na localidade de Monte Gordo, e assim cria um interesse ainda maior nos pais que não se sentem assegurados pelas políticas públicas de educação, recreação e direitos básicos da sociedade.
Em entrevista ao Destaque1, a mãe do atleta Issac Brito, de 13 anos, a dona de casa Nayanny Brito, comentou sobre a relevância da escolinha no crescimento de crianças e jovens. “O projeto ajuda na formação do caráter, na disciplina e até na personalidade”, relatou.
“Não é um projeto voltado somente para o esporte, é um projeto voltado para a disciplina e a inclusão da família junto com o esporte”, ressalta a mãe do atleta.
Para Danilo Reis, de 38 anos, pai do pequeno Efraim, os efeitos positivos das atividades sociais ultrapassam o lado esportivo. “Eu vejo que o Juventus tem executado um trabalho fundamental, principalmente na interação do meu filho, na socialização, no desenvolvimento. Além de dar uma estrutura física, também ajudou na saúde psicológica”, disse.
Um dos atletas também comentou sobre o papel que a escolinha tem na vida social e esportiva. “Sinto que o meu sonho está se tornando realidade, já que eu consigo jogar e conhecer vários lugares, além de me enturmar com outros jogadores”, celebrou Gabriel Linhares, de 13 anos.
Em entrevista ao Destaque1, o secretário de Esporte, Lazer e Juventude de Camaçari, Luciel Neto, comentou sobre as medidas que são implementadas na cidade para promover atividades esportivas. “Primeiro é preciso começar a incentivar o esporte nas comunidades e nos bairros. O segundo ponto é formar equipes representativas do município para participar de campeonatos, sejam eles estaduais, intermunicipais ou até mesmo nacionais e internacionais”, detalha.
Uma grande história, um grande título
Em outubro de 2023, a escolinha foi convidada para participar da Taça Band Brasil, em São Paulo, nas cidades de Tremembé e Taubaté. Frente à oportunidade única, a diretoria do clube, pais e atletas ficaram entusiasmados com a ideia de cruzar divisas para jogar em solo paulista, mas a falta de apoio por parte dos órgãos públicos e repartições, como ressaltam os membros, dificultou esse sonho.
A comunidade esportiva, no entanto, driblou as adversidades e se uniu para conseguir tirar esse plano do papel, como pontua o fundador atuante do time. “Foi um desafio que ficou unicamente com o Juventus, diretoria e pais. Foi um valor de aproximadamente R$ 60 mil, levantado sem ajuda de custo por parte das repartições”, enfatiza.
Após as arrecadações feitas pelos pais, a meta foi alcançada, e as categorias sub-13 e sub-16 embarcaram em uma viagem de aproximadamente 35 horas junto com quatro mães, quatro técnicos e o fundador Damásio. Já em São Paulo, as equipes enfrentaram times mineiros, paulistas e paranaenses durante os cinco dias de confronto. O sub-13 deixou a disputa na semifinal, e a garotada do sub-16 conseguiu o triunfo e levantou o tão sonhado troféu.
Os 1.894 km de distância entre Monte Gordo e Tremembé não foram capazes de distanciar a torcida, que acompanhou assiduamente pelas redes sociais e vibrou com alegria após o apito final.
Grandes dificuldades – impedimento marcado
Assim como muitas escolinhas de Camaçari, o Juventus Esporte Clube é uma instituição sem fins lucrativos que tem se dedicado às atividades esportivas e educacionais. Contudo, para atender diversos atletas da comunidade e proporcionar experiências futebolísticas para os pequenos jogadores, como foi o caso da Taça Band Brasil, torna-se necessário investimento financeiro e visibilidade no cenário esportivo.
Com quase 20 anos de criação, não é à toa que a escolinha é tida como uma grande família. Aqueles que colaboram de forma voluntária ressaltam o poder de mudança que o esporte oferece e contribuem para que esse projeto social não chegue ao fim.
Para o secretário Luciel Neto, o esporte é uma ferramenta importante de inclusão na sociedade e deve ser sempre incentivado. “Nosso pensamento é sempre acolher e promover o esporte dentro da comunidade. Sabemos que é um mecanismo supereficiente de inserção social, então, quando investimos em esporte, também estamos investindo em saúde, em assistência social, em segurança pública, em uma série de coisas”, ressaltou.
Tendo em vista que as instituições futebolísticas voluntárias do município visam traçar novos planos, expandir as atividades, promover e marcar presença em novos eventos, são necessários o apoio e o incentivo por parte das entidades públicas. Em entrevista, o titular anunciou que foi apresentado no dia 5 de junho, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o pedido de implementação de 16 escolinhas de futebol, sendo oito na orla e oito na sede, que visam a inserção de crianças e jovens de áreas mais afastadas em projetos esportivos.
Continuação de um sonho – o jogo não para
Apesar das adversidades, o Juventus continua sendo o pontapé inicial para os jogadores mirins que sonham em conquistar o mundo através do futebol, como destaca o atleta Kauã Alves, de 13 anos. “Aqui no Juventus é onde começa a minha carreira no futebol, então tenho muito respeito pelo time, mora no meu coração”, disse.
A escolinha, para a comunidade esportiva, representa muito mais que treinos diários, campeonatos e troféus, é um elo familiar que une crianças, jovens e adultos que acreditam no poder de mudança social que o futebol oferece.
A essência do time vai além de qualquer conceito esportivo e ultrapassa as linhas de campo, são ensinamentos que acompanham os pequenos atletas durante a vida inteira, até que se tornem grandes cidadãos, podendo repassar aquilo que um dia lhes foi ensinado. Para muitos, o significado de vencer se restringe ao topo do pódio, coleções de medalhas e salas de troféu, mas para o Juventus Esporte Clube, vencer é incluir e poder mudar a realidade de centenas de crianças e jovens.
A instituição atende a faixa etária de 6 a 17 anos na formação de base, todos separados por categorias, e a partir dos 18 no time amador. Os treinos acontecem nas segundas, quartas e sextas, no Centro Esportivo de Monte Gordo, popularmente conhecido como Campo da Subestação. Para saber mais, acesse o perfil da escolinha no Instagram [@juventusesporteclubeoficial].
*Clarice França é estudante de jornalismo na UFBA.
– Esta pauta foi selecionada através do Edital Jornalismo e Sociedade, e integra uma série de quatro reportagens exclusivas sobre Camaçari.
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