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Xauim lança primeiro disco com reflexão sobre a diáspora africana
O álbum, que contém sete faixas, também celebra o afoxé Badauê e será lançado nesta quinta-feira (3).
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RedaçãoO horizonte do maior oceano em extensão, que liga as Américas, África e Europa, é também o fio condutor de Flutuântico, álbum de estreia do cantor e compositor Xauim, disponível em todas as plataformas de streaming a partir de quinta-feira (3). O artista baiano faz a travessia sob uma perspectiva tão presente — e distante — quanto a linha que parece dividir céu e mar.
O disco reúne sete faixas que navegam por uma pluralidade rítmica e deságuam na Bahia — porto dessa viagem que, explica Xauim, tem como norte um mapeamento ancestral em plenitude. A Bahia do afoxé Badauê, representado pelo cantor e percussionista Jorjão Bafafé, único feat do disco. “[A Bahia é] um portal pelo qual eu acesso os outros. Uma interseção que eu percebo nessa diversidade de ritmos é essa ligação com a diáspora”.
A produção, assinada por Átila Santana e Aquahertz, é percussão e afro groove, mas também beat eletrônico. Flutuântico é a viagem que Xauim realiza por desejo — perceptível no entoar da voz sobre cada batida. “Quando me aproximo um pouco da salsa, do reggae, de uma linha de blues, tem um fio condutor, que é o Atlântico, que é essa jornada que desembocou nas Américas e deu no que deu”, acrescenta o músico, que na faixa “Meu Caminho” homenageia o protagonismo afro na figura de artistas como os conterrâneos Gilberto Gil e Carlinhos Brown.
“Essa população, povos aqui marginalizados, encontraram nesse sacerdócio musical, nessa arte, uma maneira de projetar suas dores, congelar e subverter as adversidades. Muitos fizeram essa mobilidade social, subverteram suas realidades por meio da música”, comenta Xauim, ao lembrar que compôs a música há nove anos. A versão ganhou um clipe, a ser lançado ainda este mês, com participação de Bafafé, um dos criadores do Afoxé Badauê — ao lado do compositor e capoeirista Moa do Katendê, assassinado em 2018.
Mesmo sem planejar, o artista conseguiu reunir a equipe que sempre quis, a começar por Bafafé. “Um mestre, protagonista do mundo percussivo da música baiana, do Araketu, samba duro, é de uma honra gigante. A priori, chamei ele pra fazer a percussão. Depois chamei para cantar. Cantou e foi lindo”, diz ele, satisfeito também com a equipe de músicos.
O álbum, cuja produção foi concluída em quatro meses, era algo que o baiano não pensava para 2021. Flutuântico toma forma e vem a público quase um ano após o lançamento da faixa “Pra Quem Quiser Ouvir”, primeiro single/clipe do projeto. O nome é a coalizão de “flutuante” e “Atlântico”, pois, como diz Xauim, precisava dar conta da confusão que é não enxergar, de maneira ampla, as próprias raízes. “Porque houve um corte, e, ao mesmo tempo, estamos alinhados pelo oceano. Poder ver esse mar que nos liga com o que foi cortado”.
Para além do paradoxo, é também a oportunidade de homenagear o pai, Daniel Ferreira, falecido em 2012. Ele tinha um projeto chamado Escola Flutuante.
Xauim
Não é a primeira vez que Xauim, persona do fotógrafo e videomaker Matheus Leite, toma para si a responsabilidade de refletir a diáspora. Como artista visual, foi o primeiro brasileiro a vencer o concurso Sony World Photography Awards, na categoria National Awards. No ensaio Afrocentrípeta, retrata o fenômeno da imigração forçada nas Américas, sobretudo no Brasil.
Na música, ocorreu de perceber na palavra “xauim” — que em tupi significa sagui, aquele macaquinho também conhecido como mico — a conexão que precisava. A referência veio da música “Cantando em Tupi”, faixa que integra o álbum, composta em 2011. “Pensei: ‘acho que esse é meu nome’. E ainda estou descobrindo as possibilidades que essa persona pode me dar em termos de caminho, de identidade, é um processo contínuo de descoberta e eu tô no comecinho dele”.
A reflexão que faz sobre o animal silvestre perpassa o olhar atento do que foi perdido e ressignificado pelo caminho. “Esse hibridismo, o de mata e urbano. Vi um pouco disso e, ao mesmo tempo, um elo perdido dessas raízes. Falo isso pelo meu processo de identificação étnico-racial. A gente não tem esse mapeamento da nossa genealogia, se somos mais afro ou mais indígena, quais foram os caminhos genealógicos que nos trouxeram aqui, os históricos a gente já sabe”.
Enquanto xauim, o macaquinho, caminha por aí entre fios elétricos e galhas, Xauim se aventura no universo da música, mas também do audiovisual, a fim de jogar para o mundo a força que mais se aproxima de resumir as tantas formas de se expressar em vida: a arte.
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