Cerca de 600 estudantes universitários de Camaçari manifestaram contra a suspensão do serviço de Transporte Social, Técnico e Universitário (TSTU), nesta segunda-feira (4). Alunos de universidades em Lauro de Freitas e Salvador que tinham acesso ao deslocamento gratuito se reuniram no Centro Administrativo do Município e partiram em direção ao Viaduto do Trabalhador, onde bloquearam o acesso à Avenida Jorge Amado.

A interrupção do serviço foi anunciada na sexta-feira (1º), dois dias antes da medida passar a vigorar. Antes da suspensão, o TSTU já era alvo de críticas dos estudantes, que relatavam superlotação, atrasos, redução de frota e mau cheiro, como mostrou uma reportagem especial do Destaque1.
A gestão municipal justifica a medida como forma de realizar “ajustes orçamentários” e equilibrar as contas públicas, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n° 101). O transporte deve seguir suspenso até 31 de dezembro, quando encerra o mandato do atual prefeito Elinaldo Araújo (União). Até lá, os estudantes irão recorrer aos transportes intermunicipais e aos ‘transportes por aplicativo’ para garantia da permanência nas universidades.
Conforme conta o estudante de Direito na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Rafael Souza, de 27 anos, situações como essas não são incomuns. Usuário do transporte há 4 anos, Rafael, que já enfrentou períodos de greve, relembra que os estudantes de universidades públicas sofrem com a desabilitação do serviço quando o calendário acadêmico não segue as datas de faculdades privadas.
“Todo o período de férias regulares que as universidades públicas geralmente atrasam o calendário por conta de greve e outras questões, a gente enfrentava essa questão da suspensão. Então, várias vezes o pessoal da Ufba e da Uneb estavam com aula em janeiro e fevereiro, mas não tinha ônibus”, explica o estudante.
Em 2025 não será diferente, em razão da paralização dos professores, tanto os estudantes da Ufba quanto os da Uneb terão aulas durante janeiro. “A gente sabe que é uma retaliação política por conta do processo eleitoral, mas por conta dessa prefeitura que não pensa nos estudantes, vai afetar todo mundo, a cidade está sem esse serviço e vários outros que estão suspensos”, diz Rafael.
Já a estudante de psicologia na Ucsal (Universidade Católica do Salvador), JB Lima, de 23 anos, que está no último semestre do curso, afirma que os problemas do transporte universitário antecedem a suspensão. “Por mais que tivesse o transporte, não tinha nenhum tipo de manutenção. A gente passou um tempão pra conseguir um transporte para a nossa faculdade, porque a Ucsal era ‘largada’, eles largavam a gente muitas vezes”, relata a estudante. Lima, no entanto, diz que a alternativa nesse período de incerteza seria o uso de transportes por aplicativo, ainda que seja “um gasto de dinheiro que não estávamos esperando”, frisa.

Além das entidades estudantis e sindicatos de trabalhadores de Camaçari, estiveram presentes na manifestação o vereador Tagner Cerqueira (PT), e os vereadores eleitos Kaique Ara (PT), Márcio Neves (PT), e o Professor João Dão (PSB), que militam pela causa da educação. De acordo com Tagner, foi protocolado um requerimento no Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) que solicita a volta imediata do serviço, sob o argumento da violação do direito à educação, uma vez que restringe o acesso dos estudantes à universidade.
De acordo com a Secretaria de Serviços Públicos (Sesp), responsável pela operação do TSTU, no primeiro semestre deste ano, cerca de 2.500 estudantes estavam cadastrados no programa, com ônibus que operavam através do pregão 0017/2022, com as empresas DZSET Transporte e Logística LTDA e a Safira Transportes e Turismo Eireli como prestadoras do serviço.

Os estudantes atribuem à iniciativa uma espécie de ‘retaliação’ do governo Elinaldo após a derrota do seu candidato, Flávio Matos (União), na disputa pela Prefeitura de Camaçari. “Esse grupo perdeu as eleições, parece que não aceitam perder as eleições, e ficam com atos de vingança suspendendo diversos serviços públicos da cidade relacionados a educação, saúde, segurança pública e diversos outros”, diz o estudante de História da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Batista, de 27 anos.
A menos de dois meses do final do mandato, a gestão de Camaçari tomou medidas como a demissão de todos os funcionários comissionados da administração direta do município, a devolução de carros alugados, a interrupção de contratos com empresas que oferecem serviço funerário à população socialmente vulnerável, o fim das feirinhas de agricultura familiar e a exoneração de funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).