Opinião
Um biógrafo não autorizado, por Edson Miranda
Wagner, ao incorporar prática do velho ACM, quer ditar como Rui deve passar para a História.
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Edson MirandaDando sequência ao meu artigo anterior, sobre a composição da chapa de situação para as eleições deste ano na Bahia, gostaria de trazer mais alguns elementos para a análise do leitor/eleitor (lembre aqui).
Para começo de conversa, acredito que o que tentam fazer com o atual governador, Rui Costa, é algo para o que só consigo encontrar analogia na época do velho ACM. Se vivo estivesse, dificilmente o antigo caudilho encontraria espaço político para tamanhas façanhas autoritárias.
Toda a movimentação anterior de Wagner, Otto e Leão tirava do atual governador — diga-se, com uma boa aceitação popular de suas duas gestões, algo em torno de 70% — qualquer possibilidade de influir no processo político de sua própria sucessão. E não digo nem comandar, o que seria o mais plausível. Trata-se, convenhamos, de algo no mínimo estranho à lógica sucessiva, e também autoritário por parte do triunvirato.
Acredito que Rui sentiu o golpe, e com sua entrevista de ontem à jornalista Miriam Leitão, resolveu também se movimentar politicamente.
Vejo que, se aceitar o que vem sendo arquitetado contra ele, Rui corre de imediato dois sérios riscos: o primeiro, de caminhar para o ostracismo político, e o segundo, de acoplar ao seu nome uma péssima imagem, algo até folclórico. Ele pode passar para a História como, desculpe a expressão, um bosta, um sinônimo de pau-mandado. Um alguém até pior do que um João Durval, o personagem sem brilho que foi colocado no papel de governador apenas para cumprir tabela, algo como Lula tentou fazer com Dilma, e nesse aspecto ela soube reagir com a dignidade esperada de alguém que chegou a tais postos de comando.
É como se Wagner, sem a devida autorização, resolvesse escrever a biografia política do atual governador, e também ditar os termos e imagens com as quais sua história poderá ser contada nos livros do futuro. Independentemente do que tenha havido entre ambos, é, convenhamos, muita arrogância política.
No período da sucessão do próprio Wagner, escrevi um artigo cujo título era “Fabricando um Governador”, que me rendeu algumas dores de cabeça na época. Mais de oito anos depois, consigo fazer uma espécie de mea culpa: acho que Rui conseguiu superar muitas das insuficiências que eu apontava nele para assumir o posto de governador, mas agora também consigo perceber que, muito mais pela questão do poder e da política, e não pela competência técnica, algumas fichas de Wagner só agora caíram. Daí a fazer o que está sendo feito e da forma como estão fazendo, são outros quinhentos, como se diz no popular.
Lá atrás, quando Wagner resolveu se movimentar para controlar o PT da Bahia, colocando na presidência do partido uma pessoa da sua mais estrita confiança, Éden Valadares, ficou mais ou menos evidente que algo estava acontecendo e que tal jogada no xadrez petista poderia servir de âncora e relação de força mais na frente.
Nesse momento, o PT baiano, tendo Éden ainda no comando, cerra fileiras, juntamente com suas bancadas de parlamentares, contra as pretensões de Rui de ver aceita sua candidatura ao Senado.
Contudo, Rui ainda é o governador e controla a caneta da máquina governamental. Se resolver endurecer sem perder a ternura, não sei se todos esses que comungam contra ele, em apoio a Wagner, conseguirão aguentar o tranco em ano eleitoral, principalmente detentores de cargos e parlamentares que dependerão da máquina para se reeleger em outubro próximo.
Se Rui resolver lutar, tenho certeza que dispõe de muita munição, só não sei se saberá usá-la. A única situação em que tenho minhas dúvidas é se, no caso de cair, cairá atirando.
No mais, tudo isso só revela um pouco a natureza do petismo: capaz de sacrificar qualquer princípio, indivíduos e afins, mesmo quadros de destaque como o atual governador da Bahia, em nome de um mítico e místico discurso de que os fins justificam os meios.
Por isso o PT se perdeu no caminho, não conseguiu formar bons quadros jovens, capazes de promover uma renovação política e partidária. Hoje, infelizmente, se sustenta numa gerontocracia política e num organismo partidário igual a qualquer outro da tradição brasileira.
Continuamos aguardando para ver se Rui conseguirá chupar essa manga do jeito que resolveram empurrá-la goela abaixo.
Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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