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Talvez Marx ajude a explicar
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Faustino Menezes“Se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”. Karl Marx provavelmente nunca ouviu rap, lógico. Mas, uma das suas frases mais emblemáticas podem resumir (ou não) o trampo todo que o rap nacional tem construído nos últimos anos.
Provavelmente a voz mais representativa da favela e da juventude brasileira atualmente – ao lado do funk -, o estilo musical do guetto tem tomado proporções cada vez maiores e chega roubando a cena nos principais festivais mainstream do país.
No último fim de semana, por exemplo, o rapper carioca BK levou o ótimo ‘Gigantes’ e sua banda para o palco do Lollapalooza Brasil, em SP. No mesmo festival, o americano Kendrick Lamar encerrou o último dia – e consequentemente o festival.
Pelos vídeos que vi e a repercussão positiva do público e mídia especializada, isso só prova uma coisa: o rap vai dominar! Ou já dominou!
E com domínio, eu quero dizer cada vez mais presença em festa de bacana.
Doa a quem doer!
O rap tem deixado de ser um estilo feito apenas para a favela e sobre ela. Claro que ainda há os que seguem na raiz e não só é louvável como é importantíssimo, visto que nunca esquecer as raízes é o pilar fundamental para alcançar o que se quer em frente.
Agora eu lhe pergunto: por que isso incomoda tanto?
Cantar as mazelas e durezas do povo pobre da favela para o público branco e classe média/alta do Lollapalooza é uma grande vitória. Em cima do palco, o artista é o dono da festa. Ele tem o poder de fazer o que quiser, sabendo das suas consequências, obviamente.
Quem está no público, seja in loco ou pela transmissão, por mais que não curta, conheça ou seja tão fã do artista, está em posição de submissão, sem ser pejorativo, por favor. Mas, sim, está sujeito a ouvir e ver o que o artista no palco faz e canta.
Percebe o quanto o microfone do Lollapalooza é importante pensando assim? Não só o do Lolla, como diversos outros festivais mundo afora. Claro que nem tudo muda a partir do microfone, muita coisa continua igual, mas fera, se liga que agora você está em evidência e tudo o que ocorrer a partir dali torna-se ainda mais relevante para muita gente.
Criticar público isso não é tanta vantagem assim. Perceba que o espaço foi conquistado, e já que o que cerca o movimento também é a conquista, acho que o caminho é esse, não?
Como o próprio BK canta: “minha vez de ganhar / pretos fazendo dinheiro é tudo o que eu vejo”. Se o rap produz tanto, com tanta qualidade e com tanto esforço, acho que até o próprio Marx concorda que é hora dela colher tudo que é seu por direito.
Como nunca saberemos o que Marx pensa acerca disso, o menino que se tornou deus, Djonga é enfático: a hora é de tomar de volta o que tomaram deles. Do rap. Da favela. Sorrateiro como todo bom gatuno.
Agora é a hora! E acredite. Esse momento é importante pra caramba!
Faustino Menezes, músico, produtor e ativista cultural. Escreve as quintas a cada duas semanas.
jornalismo@destaque1.com
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