Discutindo racismo, preconceito religioso e o genocídio negro no Brasil, volta aos palcos o primeiro solo do ator Sulivã Bispo, “Kaiala”. Integrando a programação do Novembro Negro da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), a obra narra os desdobramentos do assassinato de uma garota de 10 anos, vitimada em uma invasão ao seu terreiro por um grupo de evangélicos.
A peça acompanha os pontos de vista de três personagens: o irmão de santo da garota, a avó consanguínea, que também é sua ialorixá, e a evangélica que lidera a invasão do terreiro, que é responsável pelo assassinato. Essas três visões auxiliam na construção do relato que é marcado por depoimentos e fragmentos de memórias das personagens, de modo que o público vai conhecendo um pouco da religião, do crime narrado e da resistência do povo negro.
Desenvolvida por Sulivã Bispo em sua passagem pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a obra nasceu como resposta à ausência de projetos voltados para o protagonismo preto no mês da consciência negra em 2016. “Fiz sem esperar grandes repercussões. Era Novembro Negro, e nada na escola falava sobre o tema. Daí, foi gente de candomblé assistir, gostei do resultado e quis continuar”, conta o ator.
A divindade Kaiala, que é um inquice do candomblé angola, com uma metáfora para lidar com temas como a intolerância, resistência, preconceito e genocídio do povo negro. Dentro da tradição bantu, Kaiala tem as águas como seu domínio. “Kaiala é um alerta do que não pode mais acontecer. É a grande força maternal, que cuida das cabeças e vem passar essa mensagem. Ela traz para a dramaturgia a visão de divindade de maneira muito bela e singela, e faz um paralelo com esse momento tão triste que estamos vivendo de intolerância religiosa no país”, explica Sulivã.
Marcando oito anos desde sua criação, o espetáculo volta a debater racismo, religião e violência na próxima terça-feira, dia 19 de novembro, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra. O solo terá apresentação única na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador, às 20h, com participação especial da cantora Sued Nunes e direção de Thiago Romero. Os ingressos estarão à venda no Sympla a preços populares, R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia.
“Kaiala” foi apresentado na edição de 2023 do Festival da Primavera de Salvador e ganhou uma versão virtual gravada no Terreiro Bate Folha, a partir do projeto Ngunzo Kaiala, selecionado no Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020 – Programa Aldir Blanc Bahia. Em 2021, o solo foi apresentado no palco principal do Teatro Castro Alves e no Teatro Sesc Pelourinho.
A produção rendeu a Sulivã Bispo uma indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria melhor ator de 2016. A apresentação de “Kaiala” na Sala do Coro do TCA conta com apoio do Governo do Estado através da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial.