Opinião
Religiosidade e eleições: uma outra abordagem para a figura mítica do “bom ladrão”, por Edson Miranda
Essa personalidade política tem “feito a cabeça” da parcela mais humilde da sociedade brasileira.
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Edson MirandaColocar os problemas do Brasil e dos brasileiros nas costas de alguém, sem analisar as questões de fundo e sem a importante pergunta “o que fazer?” é o caminho certo para a perenidade desses problemas, na despolitização e rebaixamento da política e no atraso emancipatório da sociedade. “Fulano é isso”, “cicrano é aquilo”, me parece uma fórmula já datada e contraproducente, a não ser para os objetivos de malandros e espertalhões.
O que venho percebendo é que todos que ousam questionar ideias e posições políticas de grupos dominantes, na acepção definida por Pierre Bourdieu, são imediatamente caracterizados, quando não cancelados, como raivosos, quinta coluna, despeitados, frustrados… Afinal há, para além dos lucros auferidos com eleições, tanto à esquerda como à direita, um mercado epistêmico a ser defendido e preservado para poucos iluminados. Ultimamente, as posições críticas que tenho expressado em relação ao comportamento da chamada esquerda brasileira — muito mais a ela, pois não tenho nenhuma esperança na direita como caminho para o Brasil — tem gerado esse tipo de reação quanto a minha escrita. Entretanto, acredito que tenho levantado para o debate público, e assim continuarei fazendo, questões que considero fundamentais, que devem ser respondidas com espírito público, político, científico, e não com baixarias, questões pessoais, despolitização ou muitas outras impropriedades.
Dessa maneira, visando contribuir para o aperfeiçoamento do nosso debate político, exponho aqui mais uma questão a ser respondida com racionalidade e razoabilidade: por que, no Brasil, uma esquerda que se intitula socialista e comunista resolve utilizar, de maneira oportunista e até a morte, um líder que se diz cristão, não socialista, não comunista e que até já afirmou que “num país socialista nunca teria sido presidente”? Por que essa mesma esquerda tem contribuído de maneira fundamental na construção de uma personalidade política baseada no “bom ladrão” da cristandade, visando “fazer a cabeça” da parcela mais humilde da sociedade brasileira?
Será que se deve ao fato de essa espécie mítica dos cristãos, o ” bom ladrão”, ainda se encontrar bastante arraigada e aceita pela boa alma desse imenso segmento popular? Será que nosso humilde povo, ligado ou não às mais diversas ordens religiosas, cristãs ou não, continuará embriagado, como um dia se embriagou com Maluf, ACM, Adhemar de Barros, Sarney, Jáder Barbalho, Renan Calheiros, Collor, Eunício, Geddel e inúmetros outros? Para citá-los todos, eu não terminaria esse parágrafo.
Será que nosso povo cristão ou não, vai acabar compreendendo que Barrabás e Dimas foram apenas ladrões de galinhas e, por isso mesmo, o Cristo ofereceu, para este último, o paraíso? Será que, caso Dimas fosse um agente garantidor do terrível e cruel Império Romano, o paraíso teria-lhe sido ofertado de pronto ou antes deveria purgar seus grandes e inconfessáveis pecados? O que acontecerá quando esse povo perceber as nuances, diferenças, entre o Dimas da cruz e os nossos Dimas/Barrabás, que agora detém o poder e a espada?
Pois é. O mito do “bom ladrão” ainda é bastante aceito e perdoável na sociedade brasileira, pois esta, infelizmente, ainda não consegue fazer associações simbólicas mais complexas e profundas para saber se o “bom ladrão” é, de fato, um bom ladrão mesmo ou um agente do Império a produzir uma vida de pecados, interesses particulares, maldades e apostasias.
Para finalizar, é esta a principal questão sobre a qual deve recair algum esforço de reflexão: será que, diante de tantas contradições, das mais diversas ordens, não estamos conduzindo nosso povo para mais uma grande tragédia, como de fato já vem acontecendo? Fica a sugestão para reflexão. Avante com fé, dúvida, razão e religião, como queria Pascal. Eu apenas acrescentaria a razoabilidade ao seu “tetragrama”. Sigamos com pensamento altivo e emoção sutil.
Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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