Opinião
Quando uma mulher negra chega ao poder, por Iana Cedraz
Nossa sociedade é racista e machista, e nem mesmo uma mulher empresária e com mandato legislativo está livre.
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Iana CedrazA maioria da população de Camaçari é formada por mulheres. No entanto, assim como em outras esferas, apesar de corresponderem à maioria dos eleitores, as mulheres não votam em mulheres. Para esse cenário no qual elas não chegam às cadeiras legislativas, poderíamos tecer diversas explicações e mencionar diversos fatos, mas, neste texto, o foco é analisar o mandato da Professora Angélica.
Angélica Bittencourt Teixeira é casada, mãe de três filhos e moradora de Catu de Abrantes. Nasceu na cidade de Santo Antônio de Jesus, mas mora há muitos anos em Camaçari. Iniciou sua vida profissional no município como trabalhadora da limpeza na Escola Dom Pedro II. Em seguida, montou um reforço escolar e se tornou uma empresária bem-sucedida no ramo da educação, com um vasto currículo que abrange formações em Letras, Pedagogia, Contabilidade e Administração.
Desse modo, a educação é a principal pauta do seu mandato, o que é de grande importância para o município, já que historicamente temos IDEBs não tão condizentes com nossa arrecadação. Além disso, observo que a atual gestão tem algumas dificuldades para colocar em prática avanços na educação municipal, até porque não acho que a educação se limite ao ambiente escolar, acredito que seja potencialmente transformadora quando caminha ao lado de políticas públicas transversais, que passam pela cultura, pelas políticas públicas de juventude, pelo esporte, segurança e até mesmo pela saúde. Talvez a grande dificuldade de Camaçari hoje seja tentar fazer com que ações isoladas de algumas pastas tragam resultados, sendo que as ações deveriam acontecer de forma transversal, com as secretarias em sintonia e trazendo melhorias reais aos camaçarienses.
O que me deixa revoltada enquanto uma mulher jovem, feminista e branca é que a vereadora Angélica, uma mulher negra, foi agredida em prédios públicos municipais, e nós enquanto sociedade não nos indignamos, passamos por cima dessa agressão como se fosse algo banal. Quantos vereadores brancos foram agredidos tentando fiscalizar prédios municipais? Se uma vereadora não pode adentrar uma escola pública, um cidadão comum vai acessar esse espaço de que forma?
A violência que a professora Angélica sofre é uma repetição da violência sistemática que mulheres negras sofrem neste país. São as mulheres negras que mais sofrem violência doméstica, obstétrica, são maioria nos registros de estupros e mortes ocasionadas por abortos inseguros, e até nas mortes em decorrência da Covid.
Nossa sociedade é racista e machista, e nem mesmo uma mulher empresária e com mandato legislativo está livre de ter seu punho torcido por um homem enquanto tenta realizar seu trabalho de fiscalizar uma escola municipal. Espero que a gente não se esqueça disso e que nos próximos mandatos tenhamos mais Angélicas, com coragem de lutar por educação pública de qualidade. Quem sabe desse modo avancemos como sociedade.
Iana Cedraz é geógrafa e apaixonada por Camaçari, observa o espaço e critica com o tom de exigência necessário.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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