Outubro Rosa: “Descobri o nódulo após o treino de jiu-jitsu”, lembra Iza Cele sobre diagnóstico aos 28 anos

Os casos de diagnóstico de câncer de mama em mulheres com menos de 30 anos estão sendo cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda não há um diagnóstico científico que explique esse crescimento, mas o que especialistas explicam é que a doença tem relação direta com o desenvolvimento da glândula mamária, que começa a crescer logo após a primeira menstruação, e por isso pode aparecer antes mesmo dos 30 anos.

A jovem camaçariense Iza Cele está entre as mulheres que tiveram o diagnóstico de câncer de mama antes dos 30. Ela descobriu a doença aos 28 anos, quando detectou um nódulo na mama após um treino esportivo.

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Diagnosticada em abril de 2020 com a doença na fase inicial, a vendedora Iza Cele tomou um susto após sentir um caroço na mama esquerda quando praticava aulas de jiu-jitsu. Ela então despertou para a necessidade dos exames de rotina e alguns específicos, como ultrassom mamária, para saber se estava com câncer. “Descobri o nódulo após o treino de jiu-jitsu, em janeiro de 2020, e após realizar exames complementares foi constatado que se tratava de um carcinoma her2+, e no dia 23 de junho comecei a fazer o tratamento”, conta em entrevista ao Destaque1.

Praticante assídua de jiu-jitsu, Iza Cele foi graduada em junho com a faixa azul pelo sensei Tico da equipe Raiz Jiu-Jitsu. Ela classifica a conquista como um dos momentos mais marcantes em sua vida, e mesmo depois da descoberta da doença não abandonou a prática esportiva. “Quando pratico o esporte, me sinto realizada e preparada para lutar ainda mais pela vida. Quando descobri o nódulo estava praticando o esporte, quando levei uma leve pancada na mama esquerda. Após passar dois dias do ocorrido, eu me atentei ao nódulo no peito. Até então pensei que seria um hematoma devido à pancada durante o treino. Esperei uns 20 dias para ver se o nódulo sumiria, mas não sumiu. Foi aí que me atentei ainda mais, porque o nódulo estava duro, denso e dolorido”, descreve.

Após perceber que não se tratava de um edema, e sim de um caroço mais denso, Iza procurou especialistas para realizar exames detalhados, a fim de descobrir do que se tratava o objeto, até então estranho, na mama esquerda. “Fiz uma ultrassom mamária e já fui encaminhada para o mastologista. Quando passei pelo especialista, pelas características, ele já foi bem sincero, me dizendo que eu teria que passar por um tratamento mais agressivo, que eu iria, provavelmente, passar por quimioterapia, cirurgia e radioterapia, mas que para isso eu precisava fazer uma biópsia denominada como core biópsia [retirada de fragmentos de tecido com agulha]. Fiz a biópsia, esperei o resultado, e assim que saiu o resultado, foi revelado que se tratava de um carcinoma her2+, que é um tipo de câncer positivo para os meus dois tipos de hormônios naturais”, detalha.

Foto: Barbara Carvalho

Muito vaidosa, mas sem se preocupar com os efeitos colaterais que a quimioterapia poderia causar, como a queda do cabelo, Iza conta que passou pela etapa com a maior naturalidade possível, porque sabia que fazia parte do processo. Ela iniciou o tratamento e foi encaminhada para o Centro Estadual de Oncologia (Cican), em Salvador, onde fez 16 sessões de quimioterapia, distribuídas em quatro doses da vermelha [comprimidos vermelhos], a cada 21 dias, e 12 brancas [comprimidos brancos], uma por semana, no período de seis meses. “As quimios vermelhas são as mais agressivas. Com 17 dias da primeira aplicação, meu cabelo caiu totalmente”, lembra.

Em seguida, no dia 8 de janeiro, após as quimioterapias, Iza fez a cirurgia na mama para retirada do nódulo, mas não precisou fazer mastectomia, procedimento cirúrgico para a retirada completa da mama. Só foi necessária a retirada do quadrante onde o nódulo estava, pois as sessões de quimioterapia o reduziram significativamente na região, descartando assim a necessidade da retirada do seio.

Após o procedimento cirúrgico, Iza Cele fez 15 sessões de radioterapia, no período de 15 dias; ou seja, uma sessão por dia. Hoje ela faz aplicação de Herceptin [medicamento indicado para o tratamento de pacientes com câncer de mama metastático que apresentam tumores Her2+], um a cada 21 dias, e já tomou 14 doses do total de 17. Agora com acompanhamento de rotina com especialista, Iza enfatiza que segue a vida normalmente e que o resultado foi 100% eficaz.

Iza Cele reside no bairro da Gleba E e atualmente trabalha em uma farmácia, além de ser representante comercial. Para ela o câncer é uma doença silenciosa, mas o processo de recuperação tem sido uma experiência transformadora, porque fez com que enxergasse a vida com outros olhos.

“No início, quando recebi o diagnóstico, foi muito difícil, eu tinha mil motivos para desistir, e depois descobri mil e um motivos para seguir em frente. Ter sempre presente a família e amigos fez tudo ser mais fácil. Agradeço a Deus todos os dias pela minha família e amigos”.

O caso de Iza Cele é o terceiro de câncer na família. O irmão teve câncer no crânio e hoje está curado. “Não é fácil enfrentar a doença, ainda mais quando se tem outros casos na família, mas se deixar o psicológico se abater tudo fica mais complicado”, diz. Além do irmão, o pai de Iza teve câncer de pulmão e faleceu em decorrência da doença. Hoje a vendedora tem a família como maior referência de superação e amor. “Tenho ele [pai] como minha referência de homem, e para sempre será o amor da minha vida. Meu irmão hoje tem 35 anos e teve câncer no crânio, e ele é minha referência de superação. E também tenho minha mãe como exemplo de força e fé, porque ver todas as pessoas que ela mais ama passar por essa situação e ainda assim conseguir se manter o tempo todo forte, não é qualquer um que consegue”, comenta Iza ao destacar que a pior parte do tratamento para ela era quando via a mãe sofrendo, preocupada.

Orientações

O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia a cada dois anos, mesmo que não apresentem sintomas da doença. A campanha do Outubro Rosa reforça o autocuidado com o corpo e ressalta a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado na descoberta do câncer de mama e do colo do útero. Quanto antes o diagnóstico for feito, maior a possibilidade de eficiência do tratamento.