Os filhos da cultura de Camaçari

Certo dia, conversando sobre a saudade que eu tinha do festival de cultura e arte, das peças semanais da Cidade do Saber esgotadas e com sessão extra, das filas para pegar os ingressos da orquestra popular durante a semana, me dei conta de que não era só saudosismo da época de ouro para a cultura local em Camaçari, mas de que nossa árvore não só chora, ela tem um solo fértil para os filhos artistas.

De projeção comercial musical, a gente sempre se recorda de Denny e Renatinho, de Zé Raimundo, compositor do clássico do axé music “Beija Flor”. Temos dançarinos internacionais em companhias de dança importantes. Inclusive, Sinha Guimarães ocupou essa lacuna de espetáculos de dança e os produziu da maneira que podia quando os espaços e eventos culturais acabaram. No teatro, temos Jéssica Menezes, que já produziu peças premiadas nacionalmente. 

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Todo esse papo me lembrou Danival e sua célebre frase: “o melhor de Camaçari são os camaçarienses”, e de fato somos ricos em boas figuras. Apesar do oco institucional, a Cidade do Saber nos rendeu uma linda geração, como o Afrocidade, que eu sempre repito que me orgulho de ter visto desde os ensaios abertos na Praça Gleba A, e hoje está no mundo. Amo a frase que eles cantam na canção “Direto de Camaçacity”: “Saímos de Camaçacity, voltamos com o ouro de Genebra”. Diz muito sobre nosso comportamento populacional.

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Já existia uma Camaçari antes do Polo Petroquímico, mas ele é nosso grande marcador social, somos uma população de industriários que, inclusive, faz esse movimento de ida e volta atrás das paradas de manutenção industrial país afora, já que a organização das transnacionais permite esse trânsito de trabalhadores (quem não lembra do frenesi das primeiras turmas das fábricas de pneu ido para o Japão e Portugal?).

Se você ainda não conhece o Afrocidade e todas as suas artes de pertencimento, veja:   

Esse clipe, “ORÌKÍ”, foi lançado este mês e traz a temática de resgate ancestral que já é uma constante nas letras e elementos da banda. A diferença é o uso da inteligência artificial presente no audiovisual.

Em meio aos milhares de debates em torno do uso da tecnologia e o aposento de costumes e profissões, Afrocidade nos prova que é possível valorizar a ancestralidade.

“Tempo pra buscar, tempo pra pedir 

não pense que foi por acaso quando me encontrar por aí 

não pense que tudo foi fácil pra gente chegar até aqui, cada passo que foi dado”.

Quando a banda passou pela troca dos vocais e pela despedida violenta de Fal, muita gente se perguntou como ficaria a nova roupagem da banda, e, na minha opinião, continuam voando alto. Costumo reverenciar com amigos a capacidade de articulação e inteligência de Eric Mazzone, como ele gosta de ser chamado, maestro desse coletivo, que atualmente está em turnê em festivais nacionais e internacionais com a Timbalada. No dia 1º de junho, eles estarão em Cascais, Portugal, no Coala Festival.

Iana Cedraz é geógrafa e apaixonada por Camaçari, vascaína, mãe de Hector e Mel, observa o espaço e fofoca a respeito.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.