Opinião: não é só futebol

Faltam apenas cinco dias para o início da Copa do Mundo 2022, no Catar. Disso, milhares de fãs de futebol espalhados por este mundo com certeza já sabem. Agora, o que esses milhares de torcedores talvez não saibam são as polêmicas que estão rolando fora de campo, envolvendo alguns casos de boicote, homofobia e direitos humanos.

Tudo começou com a fala homofóbica do embaixador da Copa do Mundo, Khalid Salman, após ele dar uma entrevista a um jornalista alemão. Em um trecho, ele disse que: “eles têm de aceitar as nossas regras aqui. Isso [homossexualidade] é ‘haram'”, que significa algo ilícito, proibido, ilegal. “É ‘haram’ porque é danoso para a mente”, disse Salman.

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Logo após a declaração homofóbica de Khalid Salman, a equipe jornalística foi cautelosa e interrompeu a entrevista. Ou seja, diferente de alguns veículos de comunicação, que dão ibope e chegam até a “passar pano” para discursos como esse, o jornalismo alemão preferiu “cortar o mal pela raiz”.

Veja o vídeo:

#Humanrights not to forget. “#Homosexuality is a #mental illness”
The statement released on #German TV #ZDF by #Qatar‘s #WorldCup ambassador Khalid #Salman pic.twitter.com/RlxX47xRk1

— Donato Yaakov Secchi (@doyaksec) November 8, 2022

Esse também foi um dos fatores que estimularam a revolta de milhares de pessoas, principalmente de torcedores de alguns clubes do futebol alemão, que, revoltados com o discurso homofóbico de Khalid Salman e outros casos envolvendo o país-sede da Copa do Mundo, se manifestaram de forma objetiva, dura, pacífica, inteligente e admirável.

Pela 13ª rodada da Bundesliga, principal Liga de Futebol da Alemanha, enquanto o Borussia Dortmund jogava contra o Bochum, nas arquibancadas, a Muralha Amarela, a torcida do Borussia exibia uma enorme faixa com a mensagem: “Boicote o Catar”.

Torcida do Borussia Dortmund protesta contra a Copa do Mundo. Foto: Larys Baron/Getty Images

Pela mesma rodada, enquanto o Hertha Berlim e Bayern de Munique se enfrentavam, ambas as torcidas se uniram e combinaram uma manifestação. Nas arquibancadas, uma impactante e enorme faixa tinha a seguinte mensagem escrita: “15 mil mortes por 5.760 minutos de futebol! Que vergonha!”

Torcida do Hertha Berlim exibe faixa: “15 mil mortes por 5.760 minutos de futebol! Que vergonha!”. Foto: Faszination Fankurve

As torcidas do Weder Bremen e Borussia Mönchengladbach também se manifestaram nas arquibancadas. Já nas divisões de acesso, os torcedores do Heidenheim, Paderborn e o Fortuna Düsseldorf também protestaram.

Fanproteste auch in Zypern bei Omonia Nikosia #BoycottQatar2022 pic.twitter.com/5MmMYO19PS

— Boycott Qatar 2022 (@boycottqatar22) November 8, 2022

Mas o que os torcedores do Hertha Berlim fizeram foi fantástico. Eles exibiram várias faixas com mensagens como: “perseguição de opções sexuais”, a “falta de diretos às mulheres”, o “desrespeito aos direitos humanos”, os “estádios com ar-condicionado em vez de proteção ao clima”, a “falta de liberdade de expressão”, o “apoio ao sports washing”, a “proibição de denúncias”, as “condições de trabalho desumanas”, a “exploração de trabalhadores estrangeiros”, a “falta de uso dos estádios depois da Copa do Mundo, no Catar”, o “nível sem precedentes de corrupção” e a “ausência de cultura de futebol no país”.

O que os torcedores de cada clube fizeram foi um ato de coragem, de sensibilidade e revolução. Que essas atitudes possam conscientizar e inspirar outros fãs de esportes por este mundo afora. No mais, máximo respeito aos torcedores dessas equipes alemãs.

Dieser Spieltag steht in den Fankurven in Deutschland im Zeichen von #BoycottQatar2022. #HerthaBSC-, #FCBayern-, #BVB-, #Mönchengladbach-, #Heidenheim-, #Paderborn– & #F95-Fans positionierten sich: #BSCFCB #BVBBOC #BMGVfB #FCHSCP #F95FCSP @boycottqatar22 https://t.co/YnySRCS9o2 pic.twitter.com/8F1Zyty1Zf

— Faszination Fankurve (@FasziFankurve) November 5, 2022

Outro caso absurdo foi a proibição que a Fifa impôs à Dinamarca, impedindo a equipe dinamarquesa de treinar na Copa do Mundo com uma camisa com a mensagem “direitos humanos para todos”. Segundo a Fifa, a mensagem traz uma questão ideológica e política.

Nossa! É por essas e outras coisas que alguns dizem que o futebol está ficando “chato.” O que há de errado ou de mal nisso? A própria entidade é a primeira a realizar campanhas de paz, união, igualdade e respeito no futebol. Quanta hipocrisia! Aguardemos para ver se a Dinamarca acatará à ordem ou se baterá de frente com a Fifa.

Camisa da seleção dinamarquesa. Foto: Hummel

Mais um caso absurdo foi a proibição que a Fifa impôs ao jogador da Inglaterra Harry Kane por usar a braçadeira de capitão com as cores do arco-íris. A ação da equipe inglesa, intitulada como “One Love” (Um Amor), tem o objetivo de apoiar o público LGBTQIA+, além de protestar contra a homofobia e o preconceito.

Harry Kane, jogador da seleção inglesa. Foto: Getty Images

Agora me diga você, o que há de errado nisso? Por favor, me responda também: qual é a ideologia e política da Fifa? Ou melhor, qual é o verdadeiro interesse dessa entidade futebolística?

Para além do futebol, o que é observado é que o país-sede da Copa do Mundo, além da questão cultural, também é marcado por uma forte característica conservadora e religiosa.

A Copa do Mundo nem começou e já está dando muito o que falar. Talvez esse seja o Mundial mais polêmico de todos! No mais, vamos aguardar novos episódios, e como dizem os bordões do velho Galvão Bueno, “é teste pra cardíaco, amigo, e haja coração”.

Sonilton Santos é camaçariense, fã de esportes, futebol e praia, estudante de Jornalismo e repórter do Destaque1. Ubuntu!

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.