Opinião
Opinião: a campanha de Bolsonaro institucionalizou o “lado B”
Peças de campanha com afirmações pesadas, antes só vistas em canais oficiosos, foram transformadas em inserções oficiais.
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Geraldo HonoratoNo “metiê” dos profissionais que atuam com comunicação em campanhas eleitorais existem as expressões “lado A” e “lado B”. Vai ter profissional negando, dizendo que não sabe de nada, mas vamos em frente.
O lado A diz respeito aos conteúdos assumidamente feitos pela campanha, assinados, com direito à marca oficial e tudo mais. Em resumo, trata-se de material oficial e comportado. É, por exemplo, a propaganda do horário eleitoral, o panfleto de apresentação da candidatura, o jingle e o clipe oficial, dentre outras coisas.
Já o lado B é o tipo de conteúdo oficioso, por vezes apócrifo, que bate pesado, com denúncias voltadas ao aumento estratégico da rejeição alheia. Oficioso, serve às campanhas, mas não é assumido por elas. Não tem autoria assumida, apenas surge “do nada”.
Isso existe faz tempo, não é de agora. A diferença é que antes se materializava como panfleto que brotava nas zonas populares das cidades, e hoje em dia “nasce” de forma digital e se prolifera como gremlins nas redes sociais. O conteúdo lado B passava longe dos canais oficiais de comunicação. Ninguém o via em propaganda eleitoral na TV. Sua estética destoava da linha gráfica oficial, um artifício compreensivo, já que o objetivo era camuflar a autoria.
No entanto, na eleição presidencial de 2022, assistimos aos lados A e B ocupando o mesmo espaço e lugar. Pior ainda, a campanha de Bolsonaro muitas vezes usou o que seria lado B no lado A. Peças de campanha com afirmações pesadas, antes só vistas em canais oficiosos, foram transformadas em inserções oficiais e ganharam palco nos debates, dialogando com a ideia de que uma inverdade repetida muitas vezes ganha status de verdade.
Prova disso é que, em apenas uma única decisão da Justiça Eleitoral, Bolsonaro perdeu 184 inserções de 30 segundos por ter apertado o pé no uso do lado B na sua propaganda eleitoral. Isso representa quase 50% do total de inserções previstas para a última semana do segundo turno. Um baita prejuízo. A campanha do ex-presidente Lula também teve uma ou outra propaganda suspensa, mas nem de longe chegou perto dos números de Bolsonaro. Fato concreto é que nunca se viu um processo eleitoral tão denso de acusações sem provas e falsas verdades como o que se encerra no dia 30 de outubro.
A campanha de Bolsonaro institucionalizou o lado B, levando uma luta de vale tudo para um ringue de boxe, com golpes baixos, puxões de cabelo e dedo no olho. Os excessos, porém, foram devidamente punidos, como toda infração flagrante. Que fiquem lições de todo esse episódio para as próximas campanhas.
Geraldo Honorato é jornalista, pós-graduado em Marketing Digital e em Comunicação e Política. É sócio-fundador da agência de publicidade PPÔ Comunicação.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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