Opinião
Lula fala ao Brasil: o grito de um silenciado, por Kaique Ara
Sobre as próximas eleições, o ex-presidente garante que após ser vacinado estará na estrada ouvindo o povo e ajudando a reconstruir um projeto de nação.
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Kaique AraO mundo todo tem olhado de forma atenta para o Brasil desde a última segunda-feira, 8 de março. Apesar de ser uma data mundialmente protagonizada pela luta das mulheres, esse dia também marcou o fim de uma trama político-jurídica digna de série da Netflix. A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que proferiu a anulação das condenações contra o ex-presidente Lula, que teve seus direitos políticos restabelecidos, está sendo comemorada por uma grande parcela da sociedade, pela militância política e por juristas que alegam parcialidade e arbitrariedades por parte do ex-juiz Sérgio Moro e da força-tarefa da Lava Jato.
No despacho do dia 8, Fachin aponta que os processos julgados em Curitiba não correspondiam às investigações envolvendo a Petrobras, e, portanto, não poderiam ser julgados por Moro.
A segunda turma do STF esteve reunida ontem, dia 9, para julgar um outro processo tão importante quanto o despacho do dia anterior, o da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Após o vazamento de mensagens de texto entre os integrantes da força-tarefa apresentadas inicialmente pelo jornal The Intercept, e posteriormente sendo centro de investigação da Operação Spoofing, a perícia técnica aponta uma relação indecente, e diria até, inconstitucional, entre os “protetores da lei” e “combatedores da corrupção”. As mensagens entre o procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, o então juiz Sérgio Moro e outros integrantes da alta cúpula da operação Lava Jato mostram o verdadeiro conluio para a condenação sem provas do ex-presidente Lula e sua retirada da disputa eleitoral de 2018. Na declaração do seu voto, o presidente da segunda turma do STF, ministro Gilmar Mendes, apontou que esse teria sido o maior escândalo do Judiciário do período recente no Brasil.
O julgamento para a suspeição de Moro não chegou em uma resolução final. Apesar dos votos favoráveis do ministro Gilmar e do ministro Ricardo Lewandowski, e dos votos contrários dos ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia, o último voto, que cabe ao ministro Nunes Marques, só será apresentado após análise detalhada do processo. O ministro pediu vista, e uma nova data para finalização do julgamento ainda não foi marcada.
O almoço desta quarta-feira (10) foi marcado por um programa diferente dos tradicionais noticiários da TV aberta em milhares lares do Brasil. No topo dos assuntos mais comentados do Twitter e surfando em uma audiência gigantesca nas redes sociais e nos canais da TV fechada, o ex-presidente Lula fez um pronunciamento histórico desde os mais de 580 dias de encarceramento, na sede da PF em Curitiba. O “grito” deste que esteve silenciado desde sua condenação apresentou seu sentimento de que a justiça foi feita.
Em quase duas horas de pronunciamento e entrevista, Lula apontou seu histórico político, os feitos dos governos petistas e o mal protagonizado por setores do Judiciário e de setores da mídia brasileira. Acompanhado das principais lideranças da esquerda, Lula apontou a urgência da vacinação do nosso povo e da necessidade de um projeto de nação. Para o ex-presidente, o Brasil, que já foi a sexta economia mundial, que chegou ao estágio do pleno emprego, que se desenvolveu sócio e economicamente nos governos progressistas, amarga hoje à deriva da falta de comando por um presidente terraplanista que afronta a ciência e tem tornado o nosso país uma chacota mundial.
Em sua menção à atual crise do Brasil, Lula defendeu o retorno do auxílio emergencial, a necessidade do controle da inflação dos alimentos, do gás de cozinha e dos combustíveis. Ao ser indagado sobre as próximas eleições, Lula afirmou que após sua vacinação, que acontecerá na próxima semana, ele estará na estrada ouvindo o povo e ajudando a reconstruir um projeto de nação. Tal pronunciamento validou a força do lulismo no Brasil. Segundo dados da última pesquisa do Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), Lula seria o favorito entre os possíveis presidenciáveis para as eleições de 2022.
Kaique Ara é professor de História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.
*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.
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