O violino de Mário Soares e a percussão de Lan Lanh vão desbravar os mares da música afro-brasileira numa criativa apresentação do show “Axé Pra Lua”, no dia 6 de fevereiro (quinta-feira), às 20h, no Teatro do Sesc Casa do Comércio. A dupla tem como sintonia fina a multiplicidade de sons desse universo diaspórico, e levará ao palco uma canção inédita de cordas, num improviso de violino e berimbau, formação pouco explorada profissionalmente, além de uma homenagem a Luiz Caldas, Gonzagão e Osmar Macêdo, criador do trio elétrico, ao lado de Dodô.
O cantor e compositor Luiz Caldas gravou “Axé pra Lua” para o disco do trio elétrico Tapajós em 1981, quando ninguém imaginava que ele seria considerado o pai da cena chamada, coincidentemente ou não, de axé music, que este ano completa 40 anos. A homenagem, então, se estende à música baiana e à diversidade do autor de “Fricote”. “Comungamos com ele essa admiração por vários ritmos”, diz Lan. “E Luiz é um exímio instrumentista. Já toquei com ele em uns três, quatro shows, e num programa de TV”, conta Mário.
Para completar, a música é dedicada a Luiz Gonzaga, presente de muitas formas no encontro de Lan Lanh e Mário Soares. Ela toca um medley com músicas do Velho Lua e ritmos afins, como baião, frevo, ijexá, xote, coco. “Todo show eu faço isso”, diz. Mário também toca Gonzaga, mas expande o conceito. “Luiz Gonzaga é o rei da estrutura levada pro país inteiro, que fez com que o Brasil respeite, entenda e leia de forma mais ampla o Nordeste”, contextualiza.
Lan Lanh define seu encontro com o violinista tomando emprestada a expressão “forroxé”, dessa música de Luiz Caldas, ou seja, Nordeste com axé. Mário descreve essa relação no show: “À medida que o violino se revela, também, como uma rabeca, esteticamente, no toque, nos acompanhamentos, na maneira de interpretar, Lan Lanh traz o pandeiro, uma percussão que vai para esse lugar do barro do chão, do sertão, e esse lugar celebra a região Nordeste”.
Com mais de 30 anos de carreira, Lan Lanh brilhou, nos últimos tempos, como percussionista da banda de Maria Bethânia, que a apresentava, todo show, como seu “auxílio luxuoso”. Mestre em performance pela Ufba, Mário Soares atua na Osba e na Sinfônica da Ufba, e gosta da ideia de deslocar um instrumento da erudição europeia de seu contexto original para criar texturas sonoras com a rítmica de matriz africana.
“Nosso encontro e o repertório ratificam essa abertura para vários espectros da música, tirando o violino do lugar exclusivamente erudito e trazendo a percussão para um diálogo paradoxalmente harmônico. Ritmo no violino e harmonia no batuque”, descreve Lan. “O encontro do violino com o universo percussivo de Lan Lanh nos traz um mundo de possibilidades e cores. A sonoridade rica e diversa que orquestramos é desafiadora e surpreendente!”, anima-se Mário.
Em mais de 20 anos de carreira, Mário já dividiu palco com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira e Armando Macedo. Por sua vez, Lan Lanh já trabalhou com Cássia Eller, Cyndi Lauper, Tim Maia, Nando Reis, Marisa Monte, Jussara Silveira e outros. Ambos os artistas são compositores e têm trabalhos solos lançados no mercado, mas uma das curiosidades desse encontro é que Márcio morou na Espanha, onde se encantou pelo flamenco, e Lan Lanh é a percussionista brasileira pioneira em cajón, instrumento usado no flamenco. No show, essas influências estarão em “Santa Morena”, do mestre Jacob do Bandolim.
E como a Mãe África será homenageada-mor em seu legado, é bom garantir uma bênção. “Gosto de começar o show sempre pedindo licença aos orixás. Escolhi o afro-samba ‘Canto de Xangô’, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, para abrir o show, que traz o DNA de dois artistas que navegam por mares do afro, seja no baião de ‘Feira de Mangaio’ (Sivuca e Glorinha Gadelha) ou no ‘Lamento Sertanejo’ (Gilberto Gil e Dominguinhos), canções que o Mário Soares trouxe pro repertório”, conta Lan. Para fechar, os dois homenageiam Osmar Macêdo, um dos pais do trio elétrico, com o frevo ‘Taiane’.
Ingressos para o show ficarão disponíveis no Sympla.