Se as mulheres são as mais afetadas pelo fenômeno do impostor, é mais justo que, em uma cultura machista, o nome seja “síndrome”. O impacto gerado no psicológico feminino pelas diversas pressões que nos são direcionadas acarreta danos à nossa visão individual. A tendência a duvidar de suas habilidades, reduzir suas conquistas e a constante sensação de obter um sucesso fraudulento são características facilmente desenvolvidas por mulheres que saíram do tradicional “lugar de mulher” e chegaram ao sucesso – algo que antes pertencia apenas aos homens.
Quando uma cultura deslegitima o sucesso feminino apenas por ser feminino, é esperado que o impacto social chegue ao individual. Ainda que merecedoras, mulheres bem-sucedidas são recorrentemente pressionadas a validar seu valor e suas conquistas. Essa exigência de serem muito melhores do que os homens para obter o mínimo de reconhecimento é um fator prejudicial à saúde psíquica feminina e à sua autoestima.
Historicamente, as mulheres foram silenciadas, descredibilizadas e desencorajadas a ocupar espaços de liderança ou áreas dominadas pelo masculino. Com o avanço da emancipação feminina, esses ambientes, antes exclusivos deles, sofreram uma “invasão” delas. Esse contexto histórico envolveu mortes, mulheres queimadas em fogueiras, apedrejadas, excluídas… O avanço chegou e, com ele, o poder, a insegurança e a constante necessidade de provar sua competência.
Se antes as mulheres lutavam para validar sua importância na sociedade, na contemporaneidade lutamos para credibilizar nossa eficiência. Não é raro encontrarmos mulheres que julgamos como exemplos a serem seguidos declararem sua dificuldade de enxergar sua própria grandeza. Segundo um relatório da KPMG (2022), 75% das mulheres executivas já sentiram que não mereciam seu sucesso e temiam ser descobertas como “fraudes”. Enquanto sociedade, quando normalizaremos o sucesso feminino, validaremos sua existência e celebraremos suas conquistas?
A síndrome do impostor continua sendo um desafio para as mulheres, impactando suas carreiras e bem-estar mental. No entanto, é leviano atribuir a elas a responsabilidade por esse fenômeno. Diante de uma construção social que questiona e reduz a capacidade do trabalho feminino, o sentimento de insuficiência, a prática excessiva de autocobrança e a autossabotagem são resultados de um comportamento coletivo que ainda insiste em limitar o protagonismo das mulheres. Para romper esse ciclo, é preciso ressignificar o olhar sobre o sucesso feminino, fortalecendo redes de apoio, promovendo reconhecimento e construindo uma sociedade onde as mulheres não precisem provar, repetidamente, que são tão competentes quanto sempre foram.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduanda em Gestão Empresarial e estudante de Direito, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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