Originalmente, o termo “heteropessimismo” foi desenvolvido para descrever a imposição opressiva da heterossexualidade. Contudo, psicólogos e sociólogos o ressignificaram para nomear a sensação, cada vez mais comum entre mulheres, de desesperança ou ceticismo diante da possibilidade de manter relações saudáveis e igualitárias com homens.
Há uma frequente sensação de que muitos homens não acompanharam a evolução social feminina. Ao longo de toda a história, em praticamente todos os âmbitos, o sexo feminino foi desenhado como a “base”, que deveria ser conduzida por seu “condutor”, o homem. Baseado em estruturas religiosas, políticas, sociais e jurídicas, o lugar secundário das mulheres retirava sua autonomia e limitava sua existência.
Com os avanços políticos, econômicos, jurídicos e sociais, as mulheres passaram a ocupar espaços antes negados e a diminuir desigualdades. Esses avanços históricos nos conduzem a um novo modo de se relacionar. A mulher agora se apresenta como um ser humano com voz ativa, desejos sexuais e carreira profissional. O homem e o matrimônio perdem o protagonismo, e elas assumem a autoria de suas histórias.
Tais conquistas femininas abalaram os tradicionais moldes das relações heterossexuais, moldes esses que muitos homens não acompanharam. A perda do protagonismo na vida das mulheres revelou a fragilidade do ego masculino e a crueldade de uma sociedade patriarcal. O heteropessimismo tornou-se quase um instinto de autopreservação.
Diante de tantas experiências negativas coletivas, falta de comprometimento emocional, traições, desigualdade na carga mental, desvalorização do cuidado e uma masculinidade que frequentemente se recusa a amadurecer, o sentimento de cansaço emocional e sobrecarga entre elas é quase unânime. Nesse cenário, mais conscientes de seu valor, traumatizadas ou simplesmente descrentes, muitas mulheres optam por não embarcar em relacionamentos amorosos com homens.
Ante o exposto: será este o fim das relações heterossexuais?
O heteropessimismo não precisa ser o fim do afeto heterossexual, mas um convite à reinvenção. Homens precisam se responsabilizar por seu próprio amadurecimento emocional. Relações heterossexuais só serão sustentáveis se deixarem de ser um palco de desequilíbrio e passarem a ser espaços de troca, escuta, cuidado mútuo e evolução conjunta.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduada em Gestão Empresarial, estudante de Direito e mestranda em Economia, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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