A Caixa Cultural Salvador abre as portas para a exposição “Jayme Fygura: De Corpo e Alma”, tributo póstumo ao artista plástico, poeta e performer que marcou a cultura soteropolitana com sua estética singular e intensa vivência artística. A exposição, patrocinada pela Caixa e pelo governo federal, será aberta nesta terça-feira (15), às 19h, com visitação entre 16 de abril e 6 de julho de 2025, de terça a domingo, das 9h às 17h30, com ingressos gratuitos. A exposição oferece recursos de acessibilidade, incluindo tradução e interpretação em Libras, placas em Braille e audiodescrição.
A mostra, realizada pela Ernesto Bitencourt Galeria de Arte, com curadoria do artista e pesquisador Danillo Barata, reúne 32 pinturas em acrílico sobre tela e 23 objetos icônicos, incluindo esculturas em ferro, cabeças, falos de Exu, manuscritos e vestimentas performáticas. Projeções audiovisuais e o documentário “Sarcófago”, dirigido por Daniel Lisboa, que investiga o universo criativo de Fygura, também compõem a exposição. O público também poderá assistir a um registro inédito de um show do artista, gravado pelo mesmo cineasta, e explorar elementos sonoros produzidos pelo próprio Jayme, como sua icônica caixa de som.
Para o curador Danillo Barata, a exposição busca recriar o impacto sensorial e visual que Fygura provocava em sua trajetória. “Suas esculturas, máscaras e pinturas exploram o corpo como território de inscrição da violência, mas também da reinvenção. Em sua produção, Jayme se apropriava de materiais reciclados, sucatas e detritos urbanos, subvertendo a estética da precariedade em uma estratégia de potência criativa. As figuras híbridas e grotescas que emergem de suas obras desestabilizam qualquer leitura homogênea do corpo negro, tensionando noções de humanidade e subalternidade”, destaca.
A paleta cromática utilizada pelo artista, dominada por dourado, vermelho e azul, estabelece uma dimensão simbólica e espiritual, conectando sua produção à cosmologia afro-brasileira. Elementos visuais em suas pinturas remetem diretamente a Obaluaiê, orixá da cura e do mistério, e a Exu, entidade da comunicação e da transformação.
O colecionador Ernesto Bitencourt, responsável pela preservação e difusão da obra de Jayme, reforça a importância da exposição como um reconhecimento da potência do artista. “Jayme transformou dor em arte. Sua obra é um testemunho vivo da força da cultura afro-brasileira e de sua resiliência. Esta mostra é um tributo à sua genialidade e à sua presença indelével na história da arte contemporânea”, afirma Bitencourt.
Sobre Jayme Fygura
Conhecido como “o homem da máscara de ferro”, Jayme Fygura construiu uma obra marcada por tensão, deslocamento e ressignificação. Por meio da pintura, escultura, performance e objetos indumentários, ele explorou a relação entre corpo, ancestralidade e resistência cultural. Sua produção desafia as fronteiras entre arte, política e espiritualidade. A máscara, elemento central de sua estética, não apenas oculta, mas também denuncia, transformando-se em um dispositivo simbólico de afirmação e proteção.
Visitas guiadas e ações educativas
Além da exposição, a programação inclui ações educativas como oficina de criação de instrumentos musicais com materiais reciclados. Alunos da rede pública de ensino participarão de visitas guiadas, promovendo acesso à arte e à trajetória de Jayme Fygura como um exemplo de criatividade e resistência cultural. A iniciativa visa incentivar a reflexão sobre identidade e pertencimento por meio da arte.