Quando o escritor tcheco Franz Kafka, em fase terminal de sua vida, aos 40 anos, escreveu o conto ‘Josefina, a Cantora, ou O Povo dos Ratos’, não tinha ideia do quanto o impacto da universalidade de sua obra romperia paradigmas e atravessaria fronteiras para muito além do continente europeu.
Homenageando o centenário de eternidade de Kafka e celebrando especialmente o ciclo de celebração dos 60 anos do Teatro Vila Velha, essa história tem novamente uma releitura, de atmosfera contemporânea, polifônica e multimídia, integrando as ações do ‘O Vila Ocupa a Cidade’, programa de ocupação artística do Teatro Vila Velha.
As novas apresentações acontecem de 23 agosto a 1º de setembro, sexta e sábado, às 19h, e no domingo, às 17h, no Teatro do Goethe-Institut Salvador, espaço intercultural de difusão da cultura alemã e mundial, onde boa parte da obra de Kafka (escrita originalmente em língua alemã) está disponível na biblioteca. Os ingressos para o espetáculo podem ser adquiridos através do Sympla ou na bilheteria, por R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira).
Conhecendo mais sobre a história
Na fábula original, Josefina é uma rata cantora que quer viver para seu canto e ser reconhecida por isso. Seria justo, portanto, que fosse dispensada do trabalho comum a que todos do seu povo são obrigados, pois são tarefas que diminuem sua força para desenvolver plenamente seu canto e sua missão: a de proteger, com sua arte, o povo. Esse propósito é questionado por um narrador que coloca em dúvida o talento de Josefina, que não seria necessariamente o de cantar, mas o de manipular sua plateia, capturada num encantamento gerado por uma série de estratégias e atitudes, que a tornam quase intocável. Segundo o narrador, isso é fácil de conseguir daquele povo “tão acostumado com a desgraça” que o faz dependente de qualquer “salvador”.
Na releitura do encenador Márcio Meirelles, o único narrador da obra original de Kafka se multiplica nos diversos tons, sons, corpos, gestos e nuances dos jovens atores da Universidade Livre do Teatro Vila Velha, e na tradução corporal do ator e dançarino Ariel Ribeiro, convidado pelo Teatro dos Novos, grupo realizador do projeto. A partir de um processo de construção e atuação cunhado como Teatro-Coral, o encenador imprime mais uma vez uma das marcas mais expressivas de sua dramaturgia; o coro de atores se espelha, criando ecos e duplos na cena.
Esse coro de ratos que decreta Josefina como necessária ou inútil, entre defesas apaixonadas e protestos acalorados, dialoga com os tempos polarizados da nossa sociedade, em tempos de desqualificação e ataques à arte e à cultura. A personagem de Josefina é a metáfora dessas contradições. Nessa guerra de narrativas, muitas camadas e abordagens que discutem a sociedade de consumo, a cultura de massa, a ilusão da popularidade como valor artístico, a necessidade de representatividade, entre outros assuntos que geram um grande debate, uma grande assembleia cênica.
O Teatro Vila Velha conta com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia. Para saber mais sobre esse e outros projetos, acesse o perfil no Instagram do teatro.