O capitalismo, como sistema econômico dominante nas sociedades, tem profundas implicações para a saúde mental dos indivíduos. Sob a lógica capitalista, as relações de trabalho, consumo e produção são estruturadas de forma a priorizar o lucro e a competitividade em detrimento do bem-estar humano. Enquanto modelo social, o fundamento capitalista para a construção das relações está constituído na materialização do homem, sua posição nas sociedades é definida pelo padrão financeiro que possui, suas relações são construídas através do “ter”, e não o “ser”. É o sistema que explora, divide e adoece as massas.
Em contextos históricos, o modelo capitalista é consequência da decadência do feudalismo, inicialmente, na Europa Ocidental, para em pouco tempo reger todo o globo. Estabelecido através do “lucro”, o sistema se baseia na propriedade privada dos meios de produções e na divisão da sociedade em classes. O carro-chefe do capitalismo, o que o fez grande e garante sua soberania mundial está centralizado na sua capacidade de se adequar ao tempo, cultura e inovações, assim como a venda utópica da “vida perfeita”, construída na narrativa de que para alcançar tais objetivos os indivíduos só precisam de esforço, trabalho e sacrifício. Uma falácia!
O resultado mais genuíno dessa receita desastrosa são as desigualdades, o adoecimento em massa e a infelicidade. O que o capitalismo não fala é que esse padrão de vida idealizado é fundamentado na construção capital e disponível apenas para 20% de toda a sociedade, enquanto os 80% são a base explorada que sustenta o padrão do topo. A centralização da responsabilidade social, acadêmica, profissional e financeira no “eu”, sem uma narrativa responsável e que leve em consideração as divisões de classes, resulta em estressados, ansiosos, depressivos e até suicidas.
Segundo o psicólogo Tim Kasser, um dos principais estudiosos da psicologia do consumismo, pessoas que valorizam fortemente bens materiais e o status social tendem a apresentar níveis mais elevados de ansiedade, depressão e insatisfação com a vida. No livro “História da Loucura”, o filósofo Michel Foucault escreve que “o capitalismo não apenas organiza a produção, mas também controla e define os padrões de normalidade e de saúde, o que leva à patologização das experiências humanas e à marginalização daqueles que não se encaixam nesses padrões”.
O capitalismo é muito mais do que um sistema socioeconômico, é um dispositivo psicológico que, juntamente a um discurso moral e ilusório, produz o sofrimento das sociedades, para que uma pequena parcela social desfrute do padrão de felicidade que ele próprio estabeleceu como o certo.
Laiana França é mercadóloga, pós-graduanda em Gestão Empresarial e estudante de Direito, além de feminista e militante dos direitos humanos.
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