O Dia Mundial do Câncer, 4 de fevereiro, reforça o chamado global à ação contra uma doença que afeta milhões de pessoas anualmente. No Brasil, as projeções do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para 2025 apontam cerca de 700 mil novos casos, confirmando o câncer como um dos maiores desafios de saúde pública do país.
Especialistas defendem que a doença não pode ser vista apenas do ponto de vista do tratamento. Medidas preventivas e rastreamento, ainda subutilizados, podem salvar muitas vidas e reduzir os custos no sistema de saúde. Afinal, é muito mais eficaz prevenir ou diagnosticar precocemente do que lidar com casos avançados, que demandam tratamentos mais longos e complexos.
Para o coordenador de oncologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS), Cleydson Santos, os avanços no tratamento, de fato, são notáveis: cirurgias robóticas, radioterapia mais direcionada, terapias-alvo e imunoterapias estão transformando o prognóstico de diversos tipos de câncer, além de aumentar a qualidade de vida dos pacientes. Entretanto, o ideal é que cada vez menos pessoas cheguem a precisar desses tratamentos. “Tecnologias como o PET-Scan e as terapias celulares, como o CART-Cell, trouxeram esperança para muitos pacientes. No entanto, é essencial trabalharmos para que menos indivíduos sejam diagnosticados em estágios avançados da doença”, destaca.
É preciso estar atento a qualquer modificação no corpo e buscar orientação médica. Manchas que crescem na pele, mudam de cor ou sangram; cansaço excessivo; nódulos em crescimento; alterações persistentes do hábito intestinal e perda significativa de peso sem motivo aparente dão pistas de que algo não vai bem e merece investigação. O diagnóstico precoce pode elevar para mais de 90% as chances de cura em alguns tipos de tumores. Além disso, fazem a diferença os novos tratamentos, cada vez mais individualizados, aliados ao acolhimento feito por uma equipe multidisciplinar e preparada para fazer a navegação do paciente durante todas as etapas do combate ao câncer.
Prevenção
Entre as ações preventivas, mudanças no estilo de vida têm papel decisivo. Mais da metade dos casos de câncer pode ser evitada com práticas como evitar o tabagismo, limitar o consumo de álcool, manter o peso corporal saudável, adotar uma alimentação equilibrada e praticar atividades físicas regularmente. Além disso, a vacinação contra o HPV e hepatites B, bem como a erradicação da bactéria H. pylori, também são medidas importantes. “Um exemplo claro é o câncer de pele, que é o mais comum no Brasil. Ele pode ser prevenido com algo tão simples quanto evitar a exposição solar nos horários de maior risco, entre 10h e 16h, e usar protetor solar regularmente. Pequenas atitudes podem ter um impacto enorme”, explica o oncologista.
Rastreamento
Além da prevenção, o especialista enfatiza a importância do rastreamento. “Hoje, temos exames eficazes para detectar cânceres em estágios iniciais, quando a chance de cura é muito alta. Mamografias anuais a partir dos 40 anos, colonoscopias, exames de PSA e toque retal a partir dos 45 ou até antes, em grupos de risco, são exemplos de como o diagnóstico precoce pode salvar vidas”, destaca.
Segundo o oncologista, há uma necessidade urgente de maior organização e investimento em políticas públicas para ampliar o acesso aos exames de rastreamento e às tecnologias mais modernas. “É essencial que tanto o sistema público quanto o privado de saúde se alinhem para oferecer medidas preventivas de qualidade, exames acessíveis e tratamentos avançados. Não se trata apenas de tratar, mas de criar um sistema de saúde que esteja um passo à frente da doença”, conclui.
Estatísticas reforçam urgência
Segundo o Inca, os tipos de câncer mais frequentes no Brasil são o de pele não melanoma, mama, próstata, pulmão e intestino. Apenas o câncer de mama deverá registrar cerca de 85 mil novos casos no país em 2025, enquanto o de próstata deverá alcançar 72 mil.
A mensagem do Dia Mundial do Câncer é clara: ao adotar hábitos saudáveis e realizar exames de rastreamento, é possível reverter o avanço da doença e salvar milhões de vidas nos próximos anos.