Debater é preciso, criar falsos teatros é apenas enganação, por Edson Miranda

Para quem vai votar e quer o mínimo de contexto, o que é fundamental para conscientemente exercer o direito de cidadania responsável, assistir o novo react de Ciro comentando sobre posições políticas, econômicas e visão de vida de Lula me parece indispensável. No mínimo, para buscar uma postura mais próxima da ciência e ir se distanciando da postura do adorador fanático ou do negacionista contumaz. Nesse sentido, a análise crítica e criteriosa das informações trazidas à luz por Ciro e a checagem dos dados levantados pelo pré-candidato do PDT são de fundamental importância.

Claro que não podemos anular completamente o teatro da vida política, muito menos da disputa eleitoral, mas criar propositadamente falsos teatros chega a ser cruel com o nosso povo. Não vamos aplaudir essas vilanias como se fossem obras de gênios da política, “raposas”, como tradicionalmente é nomeado esse tipo de político. Vamos tentar mostrar que esse tipo de conduta sempre foi e continua sendo sinônimo de atraso material e espiritual. Vamos tentar ajudar nosso povo a romper, a dizer não a muitas práticas do mundo da política tradicional que ainda hoje nos carregam para continuados desastres.

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No objeto aqui em tela, inclusive criando reacts que também tragam à luz os erros de compreensão, as insuficiências políticas, morais e intelectuais, os defeitos e os sintomas negativos de quem almeja o importante “encargo” de presidente e de quem aponta o dedo contra outrem, no caso, às insuficiências de Ciro Gomes.

Perseguir a realpolitik quase sempre nos afasta do pensamento crítico, da busca da verdade e, consequentemente, do caminho que nos conduzirá à emancipação política e mental. Certamente, o importante é desconstruir essa realpolitik em voga no Brasil. Desconstruí-la é algo sagrado. O que não dá é para alimentar certas negatividades desse conceito, e depois sair por aí dizendo que “é ingênuo não a considerar em absoluto, que é síndrome de perdedor”.

No caso de Lula, que optou por ser um político igual aos tradicionais, é quase impossível, a essa altura do jogo, abandonar o círculo vicioso em que se meteu. Na verdade, seria até desastroso tentar sair agora desse círculo com um “cavalo de pau”.

Este talvez seja o ambiente eleitoral ideal para que possamos decidir com o mínimo de contexto e consciência da opção que fizermos.

Acredito que Lula não vai responder as graves acusações levantadas no vídeo por Ciro, nem debater as questões políticas, econômicas e muito menos a visão de mundo do petista que Ciro faz questão de ressaltar, pois a estratégia eleitoral de Lula é tentar ganhar as eleições, de preferência, sem responder nada, sem debater nada.

Entretanto, creio eu, ao não responder e fugir do debate sobre o que se pretende fazer — não apenas para tirar Bolsonaro do governo e do poder, o que é muito importante e urgente, mas sobretudo quem se pretende colocar no lugar dele para tentar resolver os grandes problemas históricos e os desafios atuais do Brasil —, Lula e o PT estarão, simplesmente, deixando mais claras suas enormes atuais fragilidades, de todas as ordens: política, moral e intelectual.

Enquanto muitos já soltam fogos e festejam o que acham ser um grande feito, uma grande vitória, um outro grande desastre pode muito bem estar se constituindo.

Aviso aos navegantes: depois não digam que não sabiam, não foram avisados ou, ainda pior, interditem por completo a crítica e a autocrítica e inventem desculpas mirabolantes, fantasiosas, fabulosas, mitológicas, para justificar novas tragédias que podem advir.

Os pensadores da Escola de Frankfurt, num esforço intelectual para compreender o que ocorreu com a Alemanha no início do século XX, já alertavam ao mundo: “o sono da razão gera monstros!”.

Edson Miranda Borges é jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas.

*Este espaço é plural e tem o objetivo de garantir a difusão de ideias e pensamentos. Os artigos publicados neste ambiente buscam fomentar a liberdade de expressão e livre manifestação do autor(a), no entanto, não necessariamente representam a opinião do Destaque1.