Educação
Camaçariense realiza vaquinha virtual para arrecadar fundos para mestrado na Espanha
Janine Brandão foi selecionada para o mestrado em Cultura de Paz, Conflitos, Educação e Direitos Humanos, na Universidad de Málaga.
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Camila São JoséO olhar voltado para a sua terra e para o futuro. É assim que a camaçariense Janine Brandão, 29 anos, quer continuar desbravando fronteiras mundo afora. Atualmente, ela, que é comunicóloga, está morando na Espanha, onde foi selecionada para o mestrado em Cultura de Paz, Conflitos, Educação e Direitos Humanos, na Universidad de Málaga.
Janine está na Espanha há cerca de três meses e ainda vive a incerteza quanto à possibilidade de conquistar uma bolsa de estudos ou um emprego. Por conta disso, criou uma vaquinha virtual com o intuito de arrecadar dinheiro para custear as despesas do mestrado, que tem duração de um ano, com aulas diárias, em tempo integral.
“Tive que gastar muito dinheiro com a tradução, juramentação e apostilamento dos documentos para apresentar à Universidade Espanhola, o que fez um corte no orçamento que tinha. Para conseguir uma bolsa de estudos, tenho que possuir um número fiscal espanhol, mas as datas para marcação na polícia estavam todas muito distantes. Por isso lancei a vaquinha, para conseguir custear o mestrado aqui, pois ainda é muito incerto se vou conseguir a bolsa, muito menos emprego. O dinheiro será basicamente para pagar o aluguel do quarto que compartilho casa com mais três pessoas, pagar o transporte, a universidade e comprar comida”.
A vaquinha deve durar um mês, podendo ser prorrogada caso não atinja a meta estipulada de R$ 12 mil (9.680 euros). O valor mínimo para doação é de R$ 25.
Com os ensinamentos aprendidos da Filosofia Ubuntu sobre uma ética fundamentada na coletividade, com o resgate da consciência sobre ser parte de algo maior e coletivo, Janine Brandão teve a certeza de que sua carreira profissional precisava abraçar os direitos humanos.
“Como sempre trabalhei com inclusão social, a área dos direitos humanos sempre mexeu comigo, um misto de tristeza e revolta ao ver as injustiças e desigualdades sociais. Percebi, então, que só através do estudo poderia fazer alguma coisa, ou um projeto ou estar na área de uma forma mais participativa. Comecei a pesquisar mestrados em Direitos Humanos, procurei por várias instituições, aqui e no Brasil, os prazos sempre tinham acabado ou não havia mais data para o futuro. Quando li o nome do mestrado que fui aprovada na terceira fase, disse: ‘É esse!’. Nem li direito onde era o país, nunca tinha vindo para essa cidade antes, mas disse: ‘É esse!’. Era um dos mestrados mais concorridos, nem tava com muita expectativa de passar, porque não passei nas duas primeiras chamadas, mas na terceira, deu bingo”, conta.
Além das vivências na formação, ela atua há sete anos em uma organização budista que promove a Cultura de Paz no mundo e afirma não ter dúvidas de que deveria seguir o caminho desse mestrado. “O nome, tudo era muito ligado com aquilo que faço. As escolas que também trabalhava eram em zonas de conflitos, com muitos problemas sociais, e lutar pelos direitos humanos daqueles jovens me movia e move a estudar. É muito forte esse sentimento, e com eles me sinto de verdade cumprindo minha missão na terra”.
Janine Brandão é natural de Camaçari. Aos 17 anos, após ganhar uma bolsa de estudos do ProUni, começou a estudar Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. Formou-se em 2013, e ao longo do seu trajeto acadêmico, trabalhou na Cidade do Saber.
“Me formei em 2013, e de 2010 a 2014 trabalhei na Cidade Saber. Pude conhecer minha missão quando atuei no Projeto Cidade do Saber nas Escolas, em que usava o ‘storytelling‘ (narração de histórias) das crianças das escolas públicas de Camaçari para lhes dar esperança e alegria. Era lindo demais ver eles acreditando mais neles, tendo sonhos e se alegrando em cada foto que faziam e texto”, lembra.
Os sonhos e a procura por uma vida mais segura a levaram para outros rumos, e em 2014 se mudou para Portugal, onde continuou a sua “missão de trabalhar inclusão social através do Projeto de Liderança para jovens em escolas públicas com a Filosofia Ubuntu”. No projeto, que há poucos meses se tornou política pública em Portugal, atuava como formadora, quando teve a possibilidade de levar as vivências do programa para São Paulo.
São sete anos morando fora do Brasil, período que classifica como de aprendizado, crescimento pessoal e muitas dificuldades. “Tenho crescido muito através das dificuldades. As pessoas romantizam muito imigração e Europa. Às vezes as fotos bonitas no Instagram não mostram a xenofobia, negação do racismo, desigualdade de oportunidade e trabalhos de 12h por dia e receber um salário mínimo dos mais baixos da Europa (sim, um dos mais baixos, é mito ganhar rios de dinheiro aqui com um trabalho ‘normal’, mesmo em euros). Mas assim como tudo, há partes muito positivas, a segurança, qualidade de vida de alguns países, transporte acessível, educação e diversidade cultural. Uma das coisas que mais gosto em estar aqui é poder conhecer um pouquinho do mundo através de pessoas de diferentes nacionalidades que imigram também. Ter também a oportunidade de estudar agora na Espanha é o que está me fazendo continuar aqui. Confesso que no Brasil as coisas eram mais leves e felizes, aqui são mais estressantes, porém, muito mais seguras. Essa segurança de ir e vir gosto muito, mas me aventurar sozinha foi um mergulho muito profundo”.
Agora em outro país europeu, com uma mudança de vida, Janine faz planos para o futuro. Ao terminar o mestrado, ela pretende implementar a Cultura de Paz por meio de projetos em zonas de conflito, com mais taxas de violência e desigualdade, nas escolas da Bahia ou em mais lugares.
“Estou em parceria com um Instituto de Justiça Restaurativa, vendo a possibilidade de já se construir algo desde já. Como possuo certificação europeia de formadora, isso me ajuda na execução das formações. Mas, muito mais do que os diplomas que tenho, é o dever de ajudar a transformar nossa realidade brasileira através da educação, da tolerância, do diálogo e respeito à dignidade humana, isso é que dá sentido ao meu trabalho”.
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